Cuiabá registrou, no ano passado, 91 óbitos de bebês em período neonatal e mais 30 com até um ano de idade. Em 2010, a mortalidade materna em Mato Grosso foi de 68 óbitos por 100 mil nascidos vivos. As razões para o alto índice de mortalidade materna e infantil estão sendo discutidas, hoje, durante evento promovido pelos comitês municipal e estadual de mortalidade materna e infantil em parceria com o Ministério Público do Estado de Mato Grosso, por meio da Procuradoria de Justiça Especializada em Defesa da Criança e do Adolescente. A discussão se estenderá até as 17h, no auditório das Promotorias de Justiça de Cuiabá.
Na abertura do evento, o titular da Procuradoria de Justiça Especializada em Defesa da Criança e do Adolescente, procurador de Justiça Paulo Roberto Jorge do Prado, ressaltou que nos últimos anos as demandas que chegam ao Ministério Público em relação à falta de atendimento às mulheres e crianças aumentaram consideravelmente. "Trabalho no Ministério Público há 20 anos, e nunca vi tanta judicialização na área da saúde para atendimento a crianças e adolescentes como agora. Constantemente, temos recebido enfermeiros, médicos pediatras, assistentes sociais, psicólogos e demais profissionais que atuam nesta área pedindo o nosso apoio, pois a situação está insustentável", destacou o procurador de Justiça.
O representante do Ministério Público disse ser inadmissível que a população tenha que recorrer à Justiça para que crianças e adolescentes tenham atendimento. "A falta de vontade política que vem sendo constatada ao longo dos anos para a solução de questões básicas e fundamentais é revoltante. Nós estamos há um ano discutindo por que o isolamento na pediatria do Pronto Socorro Municipal de Cuiabá está fechado e por que não temos pelos menos 10 leitos e UTIs infantis no referido hospital. Estamos há 30 anos discutindo por que a construção do hospital regional, que poderia ser referência no tratamento a crianças e adolescentes, parou. Será que é tão difícil assim para que Estado e município tenham um olhar voltado para esta causa?", questionou.
A presidente do Comitê Estadual de Mortalidade Materna e Infantil, Eloá de Carvalho Lourenço, destacou que o objetivo do Fórum é sensibilizar e mobilizar os gestores para a gravidade e a repercussão dessas mortes na sociedade. "A mortalidade materna é uma das mais graves violações dos direitos humanos das mulheres, por ser uma tragédia evitável em 92% dos casos e por ocorrer, principalmente nos países em desenvolvimento", afirmou a psicóloga.
Segundo ela, a mortalidade neonatal representa entre 60% e 70% da mortalidade infantil em todas as regiões do Brasil e Mato Grosso não está fora dessa realidade. "Esses óbitos podem ser evitados, em sua maioria, pela atuação dos serviços de saúde, desde que utilizados os conhecimentos, as tecnologias e os recursos disponíveis na atualidade, que perpassa a oferta de Unidades Básicas de Saúde até a disponibilidade de leitos de UTI neonatal", disse.