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Chacina de Matupá: réus apresentam suas versões sobre crime

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Luiz Alberto Donin, Elo Eidt, Mario Nicolau Schorr, Faustino da Silva Rossi e Elywd Pereira da Silva, acusados de incitar a comunidade do município de Matupá e de agredir e queimar os três assaltantes que haviam mantido como reféns uma família por doze horas na noite anterior, já foram ouvidos pelo Tribunal do Júri da comarca local, hoje pela manhã.

Além disso, três pessoas foram ouvidas na oitiva de testemunhas. A primeira negou ter ido à delegacia assinar o depoimento. Contou que foram buscá-la de carro na casa dela e que a levaram para um hotel da cidade. Mas, antes, passaram na casa de outra mulher, também para pegá-la. As duas foram levadas a um quarto de hotel, onde teriam sido ouvidas pelo delegado, apesar de Matupá ter delegacia. A primeira testemunha contou que não fora informada de que estava prestando depoimento. O delegado teria pedido para reconhecer as pessoas que já haviam sido listadas no crime. Ela negou se lembrar das pessoas, mas disse se lembrar do quão apreensiva ficou ao ser levada para aquele hotel.

A segunda testemunha, um jornalista que atualmente trabalha na cidade vizinha de Guarantã do Norte, disse que estava trabalhando à época. Confirmou o depoimento para o delegado da época, que ouviu pessoas dizerem que iam "fazer", termo usado na cidade para exterminar pessoas. Ele confirmou que foi perseguido pelo depoimento prestado na delegacia. Também contou que seu depoimento foi realizado num quarto de hotel, onde o delegado morava, e que o delegado tinha dificuldade de locomoção.

O jornalista disse que o delegado teria induzido as pessoas a falarem o que não queriam, "colocando palavras na boca das pessoas". Contou que ninguém tentou tirar os presos da polícia, mas sim que a polícia deixou a comunidade pegá-los. Afirmou que os presos já estavam sangrando, e que poderiam ter sido salvos pela polícia, mas não foram. Confirmou ainda que não foi incitado pela comunidade a agredir ou queimar ninguém, mas disse que todos tinham medo da polícia e ninguém se atreveria a retirar os bandidos, que estavam algemados, do alcance dos policiais.

A terceira testemunha ouvida durante a oitiva disse o tempo todo que não se lembrava de nada e foi dispensada logo após as perguntas dos promotores de justiça e dos advogados de defesa.

Dos cinco acusados para este terceiro julgamento, Luiz Alberto Donin foi o primeiro a ser ouvido. Disse que na época tinha um posto telefônico e passava pelo local, quando viu a aglomeração e resolveu parar para ver o que estava acontecendo. Afirmou que quando chegou ao local as vítimas já estavam mortas. Donin contou que veio trabalhar em Matupá aos 17 anos. Nunca foi processado, sempre trabalhou e trabalha até hoje na cidade.

O segundo acusado, Elo Eidt, era vereador e presidente da Câmara do Município. Ele acompanhou as primeiras horas da ação dos assaltantes, na frente da casa da família refém. "Eu e o pastor negociávamos, imploramos pela vida das crianças e ouvimos tiros do lado de dentro da casa", disse Eidt. Ele disse que foi embora antes da madrugada e voltou no dia seguinte, quando viu os bandidos saindo algemados. "Na casa eu ajudei a polícia afastar a multidão que estava enfurecida". Contou que viu os assaltantes saindo sangrando do carro da polícia. Viu a aeronave aberta esperando o transporte. "Eles (a polícia) não levaram para o avião, levaram de volta para o carro, eu fui embora e voltei quando me disseram que o povo havia matado os caras (os assaltantes)". Eidt contou que pegou as jóias dos mortos, jóias que pertenciam à família que os bandidos haviam assaltados na noite anterior, e devolveu à família Mazoneto.

Os representantes do MPE passaram mais uma vez o vídeo do homicídio, conhecido como "Chacina de Matupá", mostrou o momento em que Eidt, que também é conhecido pelo apelido de Rimani, pega as jóias e diz que "está quente", enquanto os bandidos estavam em brasa.

O terceiro réu, Elywd Pereira da Silva, é acusado de chutar as vítimas e inclusive ficar com as botas sujas de sangue. Mas Elywd alegou que chegou quando os assaltantes já estavam mortos. "Eu estava com as botas sujas de óleo diesel, eu havia chegado do garimpo. Por que o delegado não pediu minhas botas para examinar as manchas?", questionou. O promotor de justiça insistiu junto aos réus, perguntando se a polícia estava presente, se a polícia poderia ter impedido o crime, mesmo depois de o réu dizer que todos têm medo da polícia até hoje.

Faustino da Silva Rossi, o quarto réu, disse que o comandante da polícia liberou os assaltantes para a comunidade "fazer justiça com as próprias mãos". Rossi confirmou que a polícia atirou nos assaltantes antes de liberar as vítimas para o massacre. Rossi se lembrou que os policiais tiraram as algemas e soltaram os assaltantes diante da comunidade enfurecida. "Eu achava que a polícia sabia o que estava fazendo, disseram que o comandante havia se comprometido pela vida dos assaltantes". Rossi ainda foi contou que foi ameaçado várias vezes pelo delegado durante o depoimento, que começou às 16h e terminou às 20h. "Ele me ameaçou com o revolver várias vezes, o cano virado pra mim", finalizou.

Mário Nicolau Schorr contou que viu os policiais tirando as algemas dos assaltantes e que eles ainda atiraram neles, que corriam para o trevo, na saída da BR 163. Schorr disse ainda que viu um policial dando um tiro de misericórdia num dos bandidos. Mais uma vez o MPE mostrou o vídeo onde aparecem os policiais militares.

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