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Chacina de adolescentes completa 20 anos e mortes ainda não foram esclarecidas em Cuiabá

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A Gazeta

Vinte anos de um crime sem solução. Mães que dividem a mesma dor, a perda dos filhos. Na terça-feira (10) completam duas décadas da chacina do Beco do Candeeiro. Foram executados Adileu Araújo, 13, Reginaldo Magalhães, 16, e Edgar de Arruda, 12. Até hoje não foi identificado o suspeito ou mandante dos assassinatos e o processo segue parado. A hipótese é que seja um crime de pistolagem. Um berço da história cuiabana, o Beco do Candeeiro é retratado em livros e até em canções. Mas, a história, assim como toda Cuiabá, perdeu a cor para Maria dos Santos e Silva e Albina Rodrigues de Arruda, que até hoje choram pelos filhos mortos na chacina e pela impunidade.

Foi exatamente no Beco do Candeeiro que Maria dos Santos e Silva, mãe de Adileu dos Santos Araújo, recebeu a reportagem. As lágrimas que nunca secam ao chorar a morte do filho, que hoje estaria com 33 anos, também clamam por justiça, mesmo com o vasto tempo sem respostas. “O sofrimento é grande, ele era meu caçula, minha esperança era que ele fosse crescer e estivesse me ajudando. Quando começa o mês de julho para mim não tem jeito. Se não existisse este mês para mim era bom. Quanto mais o tempo passa, mas a saudade aumenta. Aí você sabe que nunca mais vai ver, não vai abraçar, não tem volta, não tem jeito”, diz.

 

Maria descreve o filho como atencioso e diz que nunca soube que ele tivesse qualquer envolvimento com drogas. Os 2 moravam em Cáceres (225 km ao Oeste), onde até hoje Maria mora. Ela conta que teve uma greve na escola e o filho veio para Cuiabá visitar os parentes. Em uma semana na Capital, Adileu morreu. “Não gosto de vir aqui, tem meus filhos, família e amigos, mas não gosto. Sei que um daqueles é meu filho (estátua). Para mim é muito triste. Eu não esperava que acontecesse com ele, ele era estudioso, em tudo me ajudava em casa”.

Maria ressalta que vai continuar cobrando por justiça e não aceita impunidade. “Não foram cachorros que eles mataram, foram crianças, eles mataram gente, não animal qualquer. A justiça de Deus vai prevalecer e vai fazer que a justiça dos homens tome iniciativa. Precisávamos que o Estado entrasse com providência, olhasse com cuidado a parte jurídica e desse mais valor à vida humana. Para mim não acabou, vou lutar, vou em frente, não vou desistir”, desabafa. Albina Rodrigues de Arruda, mãe de Edgar Rodrigues de Arruda, diz que mudou de Cuiabá há 14 anos. “Eu entreguei nas mãos de Deus. Até hoje não apareceu quem mandou, quem matou, teve julgamento e o suspeito foi liberado. Eu desgostei de tudo isso que resolvi mudar. Para mim Cuiabá tudo é triste, vou aí fico triste. Nada me satisfaz. Chego e já dá vontade de voltar”, diz.

Albina afirma que Edgar foi vítima duas vezes. A primeira vez é quando, segundo ela, o filho foi iludido a usar drogas e depois ao ser assassinado. “Ele era um menino do bem e tudo dele ele queria dividir com os outros. Ele era estudioso, nunca deu trabalho na escola, ele era alegre, do bem. Não tem o que diminua a dor”. A mãe ressalta que batalhou pelo filho e foi ao Conselho Tutelar pedir ajuda. Lá orientaram a buscar uma escola em Cáceres que cobrava mensalidade de R$ 700 para tratar a situação do menino. “Foram 6 meses morando na rua. Para mim foi uma cacetada, não tinha noção do que estava acontecendo. Eu não desejo nem para um cachorro o que eu passei”.

Quanto à solução do crime, Albina diz que tudo que esperava nestes 20 anos, nada se resolveu. “Só resta saudade. A data de aniversário dele, 09 de junho, que a gente não esquece. Fico imaginando como seria ele hoje. Só me resta saudade”, diz.

Segundo o Ministério Público do Estado, foram várias investigações de supostos assassinos e mandantes. Até mesmo o ex-policial militar Hércules de Araújo Agostinho chegou a ser apontado como suspeito. Na época foi cogitado que os menores haviam roubado a ex-mulher de Hércules. Outras hipóteses seriam dívidas por drogas e até mesmo a morte ser encomendada por comerciantes devido aos roubos na região. Numa investigação foi descoberta outra vítima, Edilson Ferreira Júnior, que conseguiu fugir do atirador. Ele apontou em reconhecimento de foto o ex-policial militar Adeir de Souza Filho. Adeir foi levado a júri popular, mas foi absolvido. Diante da fragilidade das provas, o Ministério Público não recorreu da sentença e deu por encerrada a matéria.

Conforme denúncia do MPE no processo contra Adeir, por volta das 20h, os jovens Adileu, Edgar, Reginaldo e Edilson conversavam no Beco do Candeeiro, no Centro de Cuiabá, quando foram surpreendidos por vários tiros. Adileu foi o primeiro a ser morto. Na sequência, Reginaldo, que se encontrava também sentado a poucos centímetros de Adileu, foi atingido. Ele chegou a ser encaminhado ao Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá. Mesmo vendo a morte dos colegas, Edgar ficou imóvel e foi atingido na cabeça. Edilson estava distante alguns metros, do outro lado da rua, e viu que seria vítima do pistoleiro, quando começou a correr. Contra ele foram desferiu 4 tiros, mas nenhum o acertou.

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