O caminhoneiro Anilson Ramires de Campos, porta voz do movimento em Sinop, disse, há pouco, ao Só Notícias, que o bloqueio de cargas em "Mato Grosso e outros Estados continua por tempo indeterminado" e que está sendo feita liberação de cargas de combustível para ambulâncias e para o setor de segurança pública (viaturas). As demais cargas não terão permissão para passar.
Ele apontou que as medidas anunciadas, ontem à noite pelo governo, são insuficientes e que boa parte da categoria considera pequena a redução de R$ 0,46 no litro do óleo diesel. "As medidas estão sendo manipuladas, são falhas, não são verdadeiras. Nossa reivindicação é para reduzir mais o valor do diesel. Baixar R$ 0,46 é uma vergonha, é uma bagatela", atacou. Ele também criticou o prazo estabelecido pelo governo para o preço não ser reajustado. "Você acha que 60 dias são suficientes para endireitar o país ? Defendemos estabilidade nos preços para que o cidadão consiga trabalhar e manter sua família", disse, referindo-se aos caminhoneiros autônomos.
Anilson também expôs que é preciso uma tabela de frete que "para nós sobrevivermos", "que volte ao patamar de preços como antigamente quando havia sobra de 60% do frete para o caminhoneiro. Com isso teríamos 20% para gastar em casa e o restante na manutenção do caminhão e recuperar a depreciação é grande. Meu caminhão, por exemplo, tem 7 anos, e perdeu 50% do valor de mercado e não consegui recuperar nada com frete. Não é justo, trabalhar, trabalhar sem resultados postivos", emendou.
Anilson disse que, diante das inúmeras manifestações de apoio de entidades dos mais diversos setores, empresas e da população, "não é mais uma paralisação dos caminhoneiros, é um movimento popular. Continuamos firmes e fortes e vamos continuar aqui o tempo necessário e alguém ouça a nossa voz".
Em cada Estado, os protestos dos caminhoneiros têm líderes que se comunicam pelo WatsApp e algumas associações e entidades ligadas ao setor consideraram satisfatórias as medidas publicadas no Diário Oficial da União e decidiram encerrar o manifesto. O presidente da Associação Brasileira das Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, disse que entre 70% e 80% dos caminhoneiros que participavam das manifestações nas rodovias do país já “levantaram acampamento” nos pontos de obstrução em alguns Estados. A expectativa é de que a desmobilização seja concretizada até o final desta terça-feira.
A Polícia Rodoviária Federal informou que, hoje, há 30 trechos nas BRs 163 e 364 com bloqueios em Mato Grosso – do Nortão a Cuiabá, em Rondonópolis (Sul) e outras regiões.
O líder do Movimento dos Transportadores de Grãos (MTG), Gilson Baitaca, -que é de Lucas do Rio Verde- e também participou, domingo, da reunião com lideranças dos caminhoneiros e ministros, afirmou ao Só Notícias, que houve avanço histórico para o setor com as medidas publicadas, esta manhã, no Diário Oficial da União. Porém, Baitaca negou ter autonomia em determinar aos caminhoneiros para liberarem o transporte de cargas em rodovias no Mato Grosso. “Represento a categoria dos transportadores de grãos. As reinvindicações da categoria foram atendidas e até houve avanços que não esperava que ocorresse neste momento. Tudo ocorreu graças as paralisações. Os acordos foram feitos todos com o aval do movimento próprio. Agora, não temos autonomia sobre outros movimentos. As exigências feitas pelos transportadores de grãos foram atendidas. Outros pleitos estão fora do que defendemos e cobramos. Podemos afirmar que foi uma conquista histórica. Dará garantias e segurança no preço do combustível. Nunca se conseguiu avançar tanto com reinvindicações”, afirmou Baitaca.
O Sindipetróleo (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis de Mato Grosso) informou, hoje, que o abastecimento regular de gasolina, etanol e diesel continua interrompido por conta do protesto dos caminhoneiros que impedem a passagem de cargas. Alguns postos no Estado ainda tem óleo diesel. "Há cargas aleatórias chegando ao mercado por meio de escolta policial. Não é possível informar o volume. Em Rondonópolis, 50% dos postos foram reabastecidos com ajuda de escoltas das polícias. Em Cuiabá e Várzea Grande um ou outro posto pode vir a conseguir um abastecimento pequeno, de forma isolada, no caso de caminhão-tanque conseguir furar os bloqueios ou por meio de escolta, sendo que tal abastecimento é limitado devido à grande demanda", informa o sindicato.
Em relação ao transporte para o Médio Norte e Nortão, o sindicato não informou se cargas chegaram aos postos. O governador também ouviu o setor de combustíveis, participaram representantes das 3 maiores distribuidoras no setor. Eles destacaram que há carretas carregadas paradas nas rodovias, mas necessitam de escolta para fazer esse abastecimento. Juntas as três bandeiras representam 90% do combustível consumido em Mato Grosso. Não foi anunciado se a PRF quando e para quais cidades a PRF fará escoltas das cargas até os postos. Dezenas de municípios estão sem gasolina, álcool e diesel. Neste domingo, a PRF informou que escoltou carretas levando cerca de 94 mil litros para Sorriso.
Por conta do desabastecimento, o governo de Mato Grosso suspendeu expediente em diversas secretarias e nas escolas estaduais não tem aulas. No Tribunal de Justiça o expediente também foi suspenso, assim como no Ministério Público. Na terça, quarta e sexta-feiras foi decretado ponto facultativo.
Hoje, a UFMT suspendeu aulas para acadêmicos. Em Sinop, a Unemat e Fasipe também. A maioria dos donos de vans em Sinop que levam alunos às escolas e universidades também suspenderam o transporte por falta de combustível.
O setor de transporte aéreo também foi parcialmente afetado. Em Sinop, neste domingo, dois voos foram cancelados. Nesta segunda-feira, o voo da manhã foi suspenso. Em Sinop, ontem, houve redução de linhas de ônibus. Em Cuiabá, hoje, 50% dos ônibus não circularam.
O governador Pedro Taques, que está coordenando o comitê da crise, esteve na central de jornalismo de Só Notícias, e disse Mato Grosso poderá até rever o percentual de ICMS (Imposto Circulação Mercadorias e Serviços) cobrado sobre o diesel, desde que o governo federal compense os Estados pelas perdas (clique aqui e assista).