Fotos podem ajudar a Polícia Civil a identificar os autores dos disparos que mataram os agricultores Abner José da Costa, 49, e Edeuton Rodrigues do Nascimento, 48, durante conflito entre trabalhadores rurais e caminhoneiros quarta-feira (17). O tumulto ocorreu na BR-158, no km 340, município de Bom Jesus do Araguaia (983 km a nordeste de Cuiabá). Os caminhoneiros Aroldo Pinheiro Júnior, 30, e Geremias Aniceto de Moraes, 24, ficaram feridos. Os trabalhadores rurais bloqueavam a rodovia há 5 dias em protesto contra o despejo de 1.043 famílias da Fazenda Bordolândia, em abril.
De acordo com o delegado de Ribeirão Cascalheira, Rodrigo Ricardo Sant"Anna, que instaurou inquérito para apurar os crimes, algumas pessoas tiravam fotos no momento do conflito e as imagens podem ajudar a Polícia a identificar os autores. Há também informações de que o autor dos disparos tenha fugido do local em um carro pequeno.
O delegado procura testemunhas oculares que possam ajudar a esclarecer os fatos e aguarda laudo de necropsia para dar andamento nas investigações. Os corpos dos trabalhadores passaram por necropsia em Água Boa e foram entregues para os familiares, que moram em Porto Alegre do Norte e Alto Boa Vista.
Ontem o clima continuava tenso no local. Representantes dos trabalhadores rurais se reuniram com uma equipe do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que foi ao local e ameaçaram não liberar os funcionários até que fosse encontrada a solução para as famílias despejadas. Após negociação, ficou marcada uma reunião para segunda-feira (22), na sede do Incra, em Cuiabá.
Participaram da reunião com os manifestantes o chefe da Ouvidoria Agrária Regional, Salvador Solterio Almeida, o superintendente substituto, Valdir Barranco, e o representante da Ouvidoria de Brasília, Marco Aurélio. A proposta apresentada por eles, de selecionar 200 famílias despejadas da Bordolândia para acamparem provisoriamente em uma área de Ribeirão Cascalheira, que está em processo de desapropriação, não foi aceita pelos trabalhadores. Após a reunião, por volta das 15h30, os agricultores deram uma trégua e desocuparam a pista.
Na avaliação de José Vieira Marques Júnior, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o descaso dos órgãos públicos federais com a situação da Fazenda Bordolândia é responsável pela tragédia ocorrida na quarta-feira. "Há vários outros casos como esse no Estado e o problema não é só desta gestão, vem de um longo tempo", lamenta.