Vestidas de branco, centenas de pessoas pararam o trânsito na ponte Júlio Müller, no Rio Cuiabá, para prestar homenagem às vítimas de violência na Grande Cuiabá. O ato marcou o 7o dia de morte de Admárcia Mônica da Silva Alves e do pequeno Ryan Alves Camargo, 4, brutalmente assassinos no último domingo. Familiares jogaram pétalas de rosas no rio, onde o menino foi arremessado ainda vivo, e soltaram balões brancos para simbolizar o pedido de paz. A manifestação ocorreu após uma caminhada que percorreu as avenidas Carmindo de Campos e 15 de Novembro.
Thassya da Silva Alves, 24, mãe de Ryan, foi amparada pelo pai, o repórter fotográfico Luiz Antônio Alves durante todo o trajeto. Enquanto jogava pétalas no rio, não conseguia conter as lágrimas de dor pela perda do filho e da mãe. O pai de Ryan, Lauro Pereira Camargo disse que, apesar da enorme tristeza, decidiram sair pelas ruas para cobrar Justiça por tantos crimes bárbaros que vem ocorrendo. "Não temos palavras para expressar o que estamos sentindo, apenas agradecer as orações e palavras de apoio. Mas precisamos sair pelas ruas e mostrar para toda a sociedade o que está acontecendo".
Segurando uma foto da filha Juliene Gonçalves, 22, morta enforcada em um campo de futebol no bairro CPA, a professora Marlene Anunciação, 44, também cobrava Justiça. Passados 6 meses do crime, a família ainda aguarda os laudos da causa morte e do local do homicídio. "As nossas autoridades fazem pouco caso. Só porque não temos influência, sou professora e meu marido vendedor, ninguém faz nada?", desabafou.
A pedagoga Ana Carina Barros, 36, disse que ficou chocada com as barbaridades noticiadas pela imprensa nas últimas semanas. Segurando a mão da filha de 4 anos, ela acompanhou a marcha até a ponte. Era amiga da família do pequeno Ryan. "Nós não sabíamos que era o Ryan e a avó dele que tinham sido assassinados. Quando vimos na TV o choque foi ainda maior. Como alguém faz isso? Falta amor no coração".
Nas ruas e em frente às empresas inúmeras pessoas acompanharam a caminhada e, em silêncio, também prestaram homenagem às vítimas. O comerciante André de Oliveira, 53, aplaudiu a passagem dos manifestantes. "Estou aplaudindo porque o que eles estão fazendo merece nossa admiração. Porque a dor de perder alguém de forma tão cruel, só quem passa sabe como é". Também participaram da manifestação outras famílias de vítimas de violência. Entre eles Jorgemar Pinto, pai do menino Kayto Guilherme, violentado e morto no ano de 2010.
Caso Ryan – O advogado da família do pequeno Ryan e de Admárcia, avó e neto, Claudino Aleixo Júnior, disse que espera, ainda nesta semana, que o Ministério Público ofereça a denúncia contra o técnico de informática Carlos Henrique Costa de Carvalho, 25, acusado de cometer o brutal crime. Ele destacou que, apesar de já haver indícios suficientes que comprovem a autoria, outras provas ainda passam pela perícia para serem juntadas ao processo posteriormente.
Entre elas imagens de circuito de segurança que registraram a movimentação na casa das vítimas no dia do crime. O inquérito foi concluído pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que indiciou Carlos Henrique por duplo homicídio triplamente qualificado, considerando que o crime foi cometido por motivo torpe, meio cruel e sem possibilidade de defesa das vítimas.
Após ouvir testemunhas, a Polícia concluiu que Admárcia foi morta com golpes de faca no coração e outras partes do corpo. Depois foi queimada. Tudo teria sido presenciado pelo neto Ryan, que foi levado até a ponte e jogado no rio.