O número de vítimas de estupro atendidas pelo serviço de referência para cuidados com as vítimas de violência sexual do Hospital Universitário Júlio Müller aumentou 20% em 2011, se comparado ao ano anterior. Foram 150 pessoas atendidas no ano passado, 25 a mais que em 2010.
Dos total de atendimentos no ano passado, 32 foram referentes a pacientes com idade entre 0 e 12 anos, 48 vítimas tinham entre 13 e 18 anos e 62 acima de 19. A maior incidência, conforme o relatório, está na faixa etária dos 13 aos 15 anos, com 38 casos.
Para a gerente do setor de Serviço Social da unidade de saúde, Nair da Costa Barbosa, os dados não representam, necessariamente, o crescimento dos crimes de estupro, mas possivelmente uma maior conscientização das vítimas em buscar o atendimento de saúde e psicológico.
São recebidas no hospital as pessoas que sofreram a agressão até 72 horas antes. Nair explica que as vítimas recebem atendimento médico, com realização de exame e administração de medicamentos para tentar combater uma possível gravidez, contaminação por doenças sexualmente transmissíveis e vírus HIV. Na sequência passa ao tratamento psicológico para cuidar do emocional.
Imediatamente ao chegar na unidade de saúde o paciente é encaminhado para a equipe multidisciplinar, recepcionado pelo Serviço Social. Em seguida passa por exames e toma a pílula do dia seguinte, medicamentos de profilaxia contra DSTs e recebe a receita dos remédios de combate ao HIV que devem ser administrados por 21 dias. "Todo esse processo é acompanhado pela equipe multidisciplinar. A vítima é atendida enquanto percebemos que existe a necessidade, passa por novos exames, recebe toda atenção que precisa".
Além dos procedimentos de profilaxia, os paientes recebem o atendimento psicológico feito por profissionais do Júlio Müller.
Foi justamente este atendimento que devolveu a Gabriela* a vontade de voltar a viver. Aos 40 anos ela foi abordada por um homem dentro de casa e sofreu violência sexual. Casada e com 3 filhos, a vítima conta que só pensava em tirar aquela dor de dentro dela. "Não é que eu tinha vontade de morrer, mas queria que a dor emocional, a vergonha passasse. E pra mim, naquele momento, isso só seria possível se
eu acabasse com a minha vida".
Logo após ser agredida Gabriela ligou para uma amiga, que foi até sua casa em companhia da Polícia. "Eu não queria contar o que aconteceu porque o homem disse que me mataria se eu falasse para alguém. Mas acabei concordando em ir para a Delegacia das Mulheres".
Depois de ser atendida no Instituto Médico Legal (IML), a vítima foi informada que o Hospital Universitário oferecia atendimento psicológico para vítimas de violência sexual. "No começo eu era atendida 3 vezes por semana. Esse serviço foi muito importante para que eu restabelecesse a minha vida, voltasse a ser feliz e a levar uma rotina normal com a minha família. Adoro viajar com meus filhos, sair com meu marido, faço todas as coisas que costumava fazer antes do que me aconteceu".