A Força Aérea Brasileira (FAB) culpou na quarta-feira os dois pilotos americanos de um jato Legacy, controlatores de tráfego aéreo e falhas de comunicação pela queda do Boeing da Gol que fazia o vôo 1907, em 29 de setembro de 2006.
O Legacy pilotado pelos americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino chocou-se com a asa do avião da Gol, cortando-a e derrubando a aeronave brasileira de uma altura de 11.300 metros. O acidente, que ocorreu na Amazônia, causou a morte das 154 pessoas que ocupavam o Boeing 737.
O vôo da Gol saiu de Manaus rumo ao Rio de Janeiro, com uma escala em Brasília. O Legacy, produzido pela Embraer, conseguiu pousar em uma base aérea da Aeronáutica. Seus passageiros e tripulantes, que viajavam de São José dos Campos para os Estados Unidos, nada sofreram.
“Nenhum acidente ocorre por um único fator”, declarou a jornalistas o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro Jorge Kersul Filho.
O Cenipa informou no relatório sobre a investigação do acidente que os controladores de vôo baseados em São José dos Campos, Brasília e Manaus falharam ao não passar corretamente as instruções aos pilotos americanos.
Segundo o documento, que foi apresentado primeiro para os parentes das vítimas, os controladores não fizeram o Legacy corrigir sua altitude ou religar o transponder, equipamento que evitaria a colisão. O instrumento ficou desligado por 59 minutos, e só foi recolocado em operação cerca de dois minutos depois do acidente, que cortou sete dos 18 metros da asa esquerda do Boeing.
“O transponder foi colocado inadvertidamente na posição stand by”, destacou Kersul. “Não existe nada que comprove a intenção de fazer isso.”
Os controladores tampouco alertaram os pilotos de uma mudança da freqüência de rádio. Além disso, revelou o relatório, apenas uma das cinco freqüências que poderiam ser usadas estava funcionando. “A falta de ação do controlador possibilitou que a aeronave mantivesse o nível incorreto”, afirmou o coronel Rufino Antonio da Silva Ferreira, que coordenou a investigação.
Para o Cenipa, os pilotos do Legacy não se prepararam corretamente para o vôo, não tinham experiência para voar no Brasil e nunca haviam pilotado juntos.
A mãe de uma das vítimas passou mal e teve de receber atendimento médico durante a apresentação do relatório, cuja divulgação fez os parentes dos passageiros cobrarem a responsabilização criminal dos pilotos americanos. “Foi um crime doloso. Os controladores têm culpa, mas a maior culpa é dos americanos”, protestou Salma Assad, tia de Átila Assad, uma das vítimas.
“Vamos solicitar que esse relatório seja incluído no processo criminal”, complementou Angelita de Marchi, que perdeu o marido, Plínio Luiz de Ciqueira Júnior, no acidente.
Na terça-feira, a Justiça Federal de Mato Grosso absolveu Lepore e Paladino da acusação de negligência. Os pilotos ainda serão julgados por suposto atentado contra a segurança do transporte aéreo.
Joel Weiss, advogado dos pilotos, disse por meio de um comunicado que o acidente foi causado principalmente por erros individuais dos controladores de vôo e falhas institucionais do sistema de controle de tráfego aéreo brasileiro.
David Rimmer, vice-presidente executivo da ExcelAire, afirmou à Reuters que “o relatório foi feito para culpar os pilotos. Está cheio de viés”.
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