Tradição, rivalidade, catimba, “água batizada”, confusões. Todos esses ingredientes normalmente fazem parte de um encontro entre Brasil e Argentina, seja no futebol profissional, infantil ou de botão. Neste sábado, em Rosário, a partir das 21h30 (de Brasília), o clássico sul-americano, válido pela 15ª rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010, terá outra atração à parte: o duelo das estatísticas.
Líderes na tábua de classificação, os comandados do técnico Dunga poderão carimbar o passaporte rumo à África do Sul com uma simples vitória sobre os rivais, desde que o Equador, quinto colocado, não supere a Colômbia, fora de casa. Matematicamente falando, parece uma tarefa fácil, mas, na verdade, não é.
Apesar de ter um retrospecto positivo no palco do duelo deste sábado, o Gigante de Arroyito, com um empate sem gols – válido pela Copa do Mundo de 1978 -, e uma vitória por 1 a 0, registrada na Copa América disputada três anos antes, a seleção brasileira nunca bateu a Argentina em território hermano em jogos válidos por Eliminatórias para Copas do Mundo.
Desde que a Confederação Sul-americana mudou o sistema de disputa para pontos corridos, jogando todos contra todos, apenas dois encontros entre Brasil e Argentina foram registrados no país platino, ambos em Buenos Aires. E os donos da casa levaram a melhor nas duas oportunidades: 2 a 1, em 5 de setembro de 2001 e 3 a 1, dia 8 de junho de 2005. Nos anos anteriores, brasileiros e argentinos eram cabeças-de-chave e não se cruzavam nas Eliminatórias.
Para quem gosta de coincidências, o destino reservou também para um dia 5 de setembro – mesma data de uma das vitórias registradas anteriormente e do novo encontro entre brasileiros e argentinos -, a única derrota dos hermanos em seus domínios em toda a história das Eliminatórias Sul-americanas: 5 a 0 para a Colômbia, à época contando com Rincón, Valderrama e Asprilla em fases áureas.
Ainda no campo das estatísticas, vale citar que a história registra um enorme equilíbrio nos jogos entre Brasil e Argentina, com uma leve superioridade do time verde e amarelo. Até o momento, desde o amistoso disputado em 20 de setembro de 1914 (vitória argentina por 3 a 0), foram disputados 92 duelos, com 36 vitórias do Brasil, 33 da Argentina e 23 empates. Nos gols, vantagem mínima do rival: 146 a 145.
Os números envolvidos em um dos clássicos mais tradicionais do futebol mundial tornam ainda mais correta a análise de um dos titulares do técnico Dunga às vésperas do confronto da noite deste sábado, em Rosário: o volante Felipe Melo. “É um campeonato à parte. Será sempre difícil contra a Argentina, ainda mais jogando fora de casa, mas estamos preparados para o duelo, com espírito de vitória”, assegurou Melo, sem medo do atual retrospecto dos donos da casa, detentores de 81% de aproveitamento, com cinco vitórias e dois empates em sete rodadas disputadas em seus domínios.
O atacante Robinho, que há tempos vem devendo uma boa atuação com a camisa verde e amarela, foi outro a desmistificar o fato de a Argentina ser praticamente imbatível atuando em casa. “Trata-se de Brasil e Argentina e vai ser um jogo pegado desde o começo. Estamos tranquilos e sabendo que vai ser difícil, mas vamos entrar para jogar futebol, fazer gols e ganhar, como já ganhamos outras vezes. O objetivo é sair de lá classificados, a meta é a próxima Copa do Mundo”, frisou o atacante do Manchester City, que tem como companheiro de clube um dos titulares de Diego Maradona neste sábado: Carlitos Tevez.
A Argentina também vê a partida como uma decisão, pois está ameaçada de perder o quarto lugar nas Eliminatórias para o Equador, que enfrenta a Colômbia em Medellín nesta rodada. E promete fazer de tudo para não ficar ainda mais longe da Copa da África do Sul. “Temos muitas possibilidades de vitória. Podemos atacar pelas pontas, com Maxi e Dátolo e pelo meio, com o Tevez. O Messi terá toda liberdade. Além disso, o Zanetti nos cruzamentos e na bola parada nos faz ter vantagem no jogo. Temos muito respeito pelo Brasil, mas vamos atuar dessa forma e procurar pressioná-los”, avisou o técnico Diego Armando Maradona.
O treinador garantiu ainda não se sentir pressionado pela posição delicada em que a seleção se encontra. “Não gosto da palavra pressão. Só uma pessoa que acorda às 5 da manhã para trabalhar e ganhar o seu dinheiro sofre pressão. Jogador não tem pressão, no futebol ela não existe. Jogador de futebol tem responsabilidades, apenas isso”, decretou El Diez.
Genro de Maradona e opção no banco de reservas para este sábado, Sérgio “Kun” Aguero foi menos respeitoso em sua análise da partida. “Para mim, não tenho dúvidas: é Argentina com 80% de chances de vitória e o Brasil com 20%”, disparou o goleador do Atlético de Madri, sem medo de colocar os donos da casa como favoritos para o confronto.