A falta de criatividade imperou no estádio do Morumbi, mas não impediu o São Paulo de vencer os bolivianos do Strongest, nesta quinta-feira, por 2 a 1. Pela segunda rodada da fase de grupos da Libertadores, e com o esquema de três atacantes retomado por Ney Franco, o Tricolor atuou de forma desorganizada e viu sua torcida pedir raça nas arquibancadas antes de Luis Fabiano balançar as redes de Vaca, aos 34 do segundo tempo. Depois da derrota contra o Atlético-MG na estreia, o time avança a três pontos e divide com os bolivianos a vice-liderança do Grupo 3 da principal competição continental.
Depois de um primeiro tempo em que pecou na marcação de meio-campo, deu espaço aos bolivianos, pouco criou e ainda levou, logo aos 20 minutos, um gol do zagueiro Barrera por erro defensivo, o São Paulo voltou do mesmo jeito para a etapa complementar, mesmo com o empate anotado por Osvaldo. Apenas Aloísio, com seu estilo de jogo tradicionalmente combativo, e Ganso, acionado aos 16 do segundo tempo, buscaram jogo. E foi justamente com uma assistência do camisa 8, ovacionado pela torcida, que o Fabuloso voltou a marcar no Morumbi depois de um mês na seca e igualou Rogério Ceni como maior artilheiro tricolor em Libertadores.
O próximo desafio tricolor será longe de casa, em Penápolis, pelo Campeonato Paulista, competição em que defende a liderança. Pela Libertadores, o Grupo 3 já vive sua terceira rodada no próximo meio de semana, quando o São Paulo antecipa sua punição referente às finais da Sul-americana e enfrenta o Arsenal de Sarandí na quinta-feira, às 19h15 (de Brasília), no Pacaembu. O desafio do Strongest é mais duro: quarta, contra o Atlético-MG, no Independência.
O Jogo – Em clima de decisão e com torcedores chegando já com bola rolando graças ao horário inusitado da partida – 21h30 e não 22 horas, como de costume -, o São Paulo começou pressionando o Strongest, um adversário que não possuía jogadores de grande força física e parecia intimidado nos primeiros minutos, dada a ofensividade do time da casa. Após um minuto de silêncio respeitado pelas próprias arquibancadas e pelo menos até metade do primeiro tempo, só deu Tricolor.
Logo no lance de abertura, para acuar ainda mais os bolivianos, Osvaldo partiu em velocidade pelo meio e sofreu falta dura de Méndez, que levou cartão amarelo. Jadson até completou para o gol, mas o árbitro já havia interrompido o lance para desespero do camisa 10. Na cobrança de falta precisa, Rogério Ceni obrigou o baixinho Daniel Vaca a se esticar todo para praticar a defesa e evitar, de cara, o que poderia ser o primeiro gol da partida.
Baseado principalmente na boa fase de Jadson, o Tricolor seguiu arriscando no campo de ataque, pelo lado direito. Depois de desperdiçar uma chance após bela jogada na entrada da área, o camisa 10 armou outra boa oportunidade aos oito minutos, quando Osvaldo errou na sequência e Denílson aproveitou a sobra para bater de fora e ver a bola passar raspando o travessão do goleiro Vaca. Até aquele momento da partida, o time da casa dominava amplamente as ações e não dava qualquer espaço para tentativas dos bolivianos.
Imprevisível como a vida, o futebol proporcionou um baque de grandes dimensões para o torcedor são-paulino aos 21 minutos do primeiro tempo, logo quando o time do Morumbi criava chances e chegava bem próximo de abrir o placar. Em uma despretensiosa cobrança de escanteio de Pablo Escobar, ex-jogador de clubes como Ponte Preta e Santo André, Cristaldo apareceu na primeira área, onde não havia marcadores do São Paulo, e encobriu Rogério Ceni. A bola não entraria, mas Barrera apareceu, também sem a atenção dos brasileiros, para completar de carrinho e inaugurar o marcador.
Há 200 dias sem perder no Morumbi, o São Paulo sentiu a pressão de novamente sair atrás no placar. O time corria atrás da desvantagem, mas aparentava desorganização dentro de campo. Com Jadson e Osvaldo mais sumidos do que o costume e abalado pelo baque do primeiro gol, a marcação no setor de meio-campo estava enfraquecida e Harold Reina se destacava chamando a atenção nas saídas dos volantes tricolores. Isso tudo enquanto Pablo Escobar se movimentava para receber, sem sucesso.
Na reta final do primeiro tempo, motivado pela força de sua torcida, Luis Fabiano perdeu boa chance após passe de Aloísio, que começava a se destacar como grande nome do São Paulo na partida. Na primeira jogada organizada pelo ex-Figueirense, o Fabuloso atirou por cima do gol de Vaca. Mas na segunda, não teve jeito. Após lance do Boi Bandido pela direita, o camisa 9 bateu para boa defesa de Vaca. No rebote, o goleiro até tentou o milagre, mas não evitou que Osvaldo marcasse e corresse para o abraço.
Desligado no fim do primeiro tempo, mas com o empate garantido aos 43 minutos, o Tricolor voltou sem inspiração para a etapa complementar. Depois de 15 minutos sem um único chute em direção ao gol de Vaca, a falta de criatividade ficou evidente. O time era presa fácil para a marcação do Strongest e os jogadores do meio para frente ficavam parados, como que esperando o passe chegar aos pés. Impreciso, o São Paulo despertou a irritação da torcida e só reagiu quando Ney Franco acionou Paulo Henrique Ganso.
O camisa 8 levantou a torcida logo que saiu do banco de reservas e teve tempo para ver, de pé, Aloísio fazer mais uma grande jogada pelo lado, cortar a marcação e servir Jadson que, no meio da área, acertou o travessão de Vaca. Com Ganso em campo – e querendo jogo -, o Tricolor retomou a soberania e mudou a postura dentro de campo. Luis Fabiano perdeu uma boa chance logo de cara para colocar o time em vantagem. A animação, no entanto, não durou muito tempo.
Ainda desorganizado mesmo com Cañete na vaga do exausto Aloísio, o São Paulo exagerou nas enfiadas de bola de Ganso e Jadson, buscando justamente os três atacantes. No momento em que a torcida já começava a pedir ‘raça" ao time nas arquibancadas, um ataque com o toque de Ney Franco definiu o placar: Cañete inicou a jogada pelo meio e deixou Ganso livre na área, onde teve espaço para tocar no meio e ver Luis Fabiano se atirar para anotar o gol da virada, o gol da festa no Morumbi.