O Santos tem motivos para festejar neste sábado. Há 50 anos, o Alvinegro conquistou o bicampeonato mundial, superando o Milan, por 1 a 0, no estádio do Maracanã. Mesmo com o desfalque de Pelé em dois dos três jogos contra a equipe italiana, o Peixe comprovou seu poder de reação. Naquele dia 16 de novembro de 1963, o clube brasileiro contou com um gol de pênalti, do lateral Dalmo, para superar uma partida violenta, com lances ríspidos, brigas e expulsões.
Para conquistar o título no terceiro jogo, o Santos deu uma grande demonstração de força antes. O primeiro duelo, no San Siro, terminou com a vitória por 4 a 2 dos italianos, sendo que os dois gols do Peixe foram anotados por Pelé. Porém, em função de uma contusão, o Rei do Futebol não teve condições de participar dos confrontos seguintes (Calvet e o capitão Zito também desfalcaram o time)
Assim, Almir Pernambuquinho substituiu o eterno camisa 10. O segundo confronto, no Maracanã, começou com um Milan implacável, abrindo 2 a 0 ainda no primeiro tempo. Porém, depois do intervalo, o clube do litoral paulista marcou quatro vezes, sendo duas com Pepe, uma com Lima e outra com Almir.
“Foi a maior vitória que tive nos 750 jogos que fiz pelo Santos. Estávamos perdendo por 2 a 0 no Rio e só restavam 45 minutos. O Lula (treinador) fez uma preleção curta no intervalo, mas começou a cair um temporal. Nós aproveitamos o campo alagado, com meu chute forte, e fizemos os quatro gols, principalmente em batidas de fora da área. Foi uma chuva divina”, relembra Pepe, em contato por telefone com a GE.net.
Sem chuva, o terceiro jogo foi bem mais forte na marcação, mas o Santos conseguiu furar o bloqueio adversário. O título do Peixe também serviu para ratificar a soberania do País no futebol mundial daquela época. Na edição do jornal A Gazeta Esportiva veiculada no dia seguinte ao título, o jornalista Thomaz Mazzoni relatou a sensação dos esportistas nacionais com o resultado.
“O Santos é bicampeão mundial de clubes! Grande vitória do futebol brasileiro, antes de mais nada, e resposta à altura aos descrentes, aos invejosos, aos falsos Messias e aos derrotistas”, escreveu o jornalista, que ainda acrescentou a “resposta aos ilustres críticos europeus que vinham apregoando o declínio do futebol do Brasil”.
Porém, para o País comprovar sua soberania, o Santos teve de suportar uma partida bastante tensa. De acordo com A Gazeta Esportiva, o adversário promoveu uma “verdadeira guerra de nervos contra o juiz” assim que chegou ao Rio de Janeiro. Por isso, o árbitro argentino Juan Brozzi teve muita dificuldade para controlar os ânimos.
Nos acréscimos do primeiro tempo da partida decisiva, o lateral santista Ismael foi expulso, depois de ter acertado uma cabeçada no compatriota Amarildo, que jogava pelo Milan (Mazzola também fazia parte da equipe italiana).
“Houve um arroubo mais forte entre Ismael e Amarildo, num lance anteriormente disputado. Amarildo ficou com o peito estufado para o lado de Ismael, e o lateral esquerdo santista não hesitou: bancou o José Luiz, famoso campeão português de luta-livre. Desferiu uma potente cabeçada no ‘antagonista” que nem teve graça. Amarildo, nocauteado, estendeu-se no gramado”, relatou a publicação.
Outra briga foi deflagrada depois de um empurrão de Maldini em Coutinho. Os jogadores dos dois times passaram a discutir e até os fotógrafos entraram em campo, até que a polícia chegou para dispersar o tumulto.
“Um outro defensor do Milan – quando se abriu a ‘clareira” – estava estendido aos pés de um avantajado policial. Aliás, um verdadeiro batalhão de policiais interveio no ‘bafafá”. A ação deles parecia daqueles que se registram contra piquetes de grevistas… A turma espalhou rapidamente”, informou A Gazeta Esportiva.
Cinco décadas depois do título, Pepe admite que “o terceiro jogo realmente foi muito confuso”, explicando que os santistas não aceitavam facilmente agressões e provocações. “Nunca fui expulso de campo, mas meus companheiros não pensavam assim”, recorda, com bom humor. Além do santista Ismael, o italiano Maldini também foi excluído da partida.
Para superar os lances ríspidos e controlar o placar, o Santos contou com o apoio intenso de 120 mil torcedores no Maracanã. Sem poder receber a partida na Vila Belmiro, o clube paulista preferiu o estádio do Rio de Janeiro, pois, segundo Pepe, não haveria apoio dos rivais em um estádio de São Paulo. Portanto, depois de ter sido campeão mundial em 1962, o Santos se sentiu em casa para confirmar sua hegemonia em 16 de novembro de 1963.