Jean Chera vai recomeçar sua vida nesta segunda-feira. Aos 20 anos, o jogador badalado desde a infância completará os exames médicos no CT Rei Pelé e iniciará sua nova rotina de treinos, com apenas quatro meses de contrato para demonstrar ao Santos que não é uma mentira, uma enganação, uma eterna promessa ou coisa que o valha. Motivo de piada para boa parte da torcida em razão das passagens sem qualquer sucesso por oito clubes nos últimos quatro anos, ele voltou ao Peixe para tentar ser jogador profissional do time que cresceu torcendo.
– Interromperam um sonho meu em 2011 e eu espero que agora seja a continuação. Na época, eu não tinha a tranquilidade de um menino normal, uma criança que eu era, para trabalhar e treinar. Estou feliz com essa nova oportunidade, porque na época minha vontade não era de sair – argumenta o novo jogador do Santos, em entrevista ao LANCE!.
Jean Chera chegou ao Santos aos oito anos, e desde o início foi badalado como um novo raio da Vila Belmiro. Pouco mais novo que Neymar, era aposta tão alta quanto o hoje atacante do Barcelona (Espanha). Para Jean, porém, a história não foi tão bonita assim. Em 2011, seu pai e empresário, Celso Chera, recusou a proposta de assinatura do primeiro contrato profissional de Jean com o Santos, e chegou a pedir um vínculo com salários progressivos que chegariam a R$ 130 mil quando o garoto fizesse 18 anos. Não teve conversa.
E MAIS:
Fora do Santos é que a jovem promessa conheceu a realidade, e não o celeiro de sonhos, do futebol. Ficou oito meses só treinando no Genoa, da Itália, e não jogou por conta de desentendimentos para a obtenção do passaporte comunitário. No Brasil, três grandes apostaram em seu potencial: Flamengo, Atlético-PR e Cruzeiro. Três dispensas. Depois, a carreira degringolou de vez: Oeste (nem jogou), Universitatea Craiova (só dez dias treinando na Romênia), Paniliakos (o clube não pagou um único salário e faliu) e Cuiabá (dois jogos em quatro meses). Quando tudo parecia acabado, surgiu o Santos. Última chance?
– Meu empresário (Thiago Taveira) já estava conversando com o Modesto (Roma Júnior, presidente do Santos) há algum tempo, desde que a gente saiu do Cuiabá. Só que não estava indo muito para a frente, eu sentia isso. Aí vim para Santos, me encontrei com o Modesto e batemos um papo muito legal. Eu pedi essa chance de recomeçar e ele me deu liberdade, porque eu conheço ele desde 2005, quando ele trabalhava com o Marcelo Teixeira. A gente sempre teve amizade desde então. E deu certo – comemora o veterano jovem de 20 anos.
A decisão de repatriar Jean Chera, que jogará na categoria sub-23 do Santos, foi exclusive de Modesto. À imprensa, o presidente do Santos utiliza argumentos como "o Santos investiu muito dinheiro na formação do Jean, precisa tentar recuperar" ou "ninguém desaprende a jogar". Porém, até os parceiros do mandatário (uma unanimidade contrária à contratação de Jean) acreditam que ele ficou sensibilizado com o pedido emocionado de um menino para quem todas as portas estavam fechadas. Se o Santos não abrisse dificilmente alguém o faria.
– Eu até entendo esse pé atrás das pessoas do Santos, porque depois que saí não consegui me firmar em lugar nenhum devido a vários problemas que eu tive. Pressão sempre existiu, desde que eu era novinho, mas agora é trabalhar no dia a dia, com seriedade e em busca dos objetivos – diz Jean, com um argumento incontestável para pedir de volta a confiança do torcedor:
– Acho que a minha maturidade pode fazer a diferença. Eu passei por vários lugares, aprendi bastante coisa em muitas escolas de futebol, muitos jeitos de ver o futebol, de ver as pessoas, e tudo que aconteceu levo como aprendizado. Tenho certeza que isso vai me ajudar. Agora é me preparar – completa.
A fascinante história da eterna promessa Jean Chera terá um novo capítulo a partir desta segunda-feira. Eterna promessa? As portas foram abertas para ele provar que não
LANCE!: Já está definido que você vai jogar no sub-23 mesmo com idade para o sub-20?
Jean Chera: O que me passaram foi isso, que seria no sub-23. Estive segunda-feira no CT e eles estavam fazendo um amistoso contra o profissional. Tive contato com o Kleiton Lima, que é o técnico, e também é um cara que eu conheço desde 2005, quando ele era treinador do feminino do Santos, e ele é super bacana e gente boa.
Ele já te disse alguma coisa? Qual expectativa ele tem para você?
Ele disse que está lá para me ajudar e me apoiar muito. Disse que posso contar com ele no que for possível. Isso é muito legal.
O Dorival Júnior, técnico do profissional, está bem próximo do sub-23, sempre observando. Isso também anima pelas perspectivas de subir para o time principal?
Eu concordo com você que é uma boa oportunidade, mas vamos com calma. O Dorival estar ali junto, trabalhando perto, sempre observando, é muito bom para todo mundo que está no sub-23. Porque aí cabe a nós nos dedicarmos o máximo que o pessoal vai ver. Mas eu reconheço que essa minha nova chance vai ser aos poucos.
A torcida do Santos fez muita piada de você nos últimos anos, você deve saber disso… Mas hoje muita gente te apoia também. Acha que consegue reconquistar?
Eu era apontado como uma das maiores apostas do Santos e infelizmente em 2011 eu saí. Normal a torcida ficar chateada, com o pé atrás, mas eu levo isso numa boa. Tenho recebido muitas mensagens positivas no meu Instagram. Claro que também tem um pessoal meio assim, meio fazendo graça, provocando, xingando, mas também tem gente que dá força. É jogar bem, cara. É jogar bem que isso muda.