Itália e França jogam hoje, às 14 horas (horário de Mato Grosso), em Berlim, pelo título da Copa-06. O confronto, inédito na partida decisiva do Mundial, opõe duas equipes que chegaram ao torneio tendo de encarar condições adversas rumo à conquista da taça.
Os italianos desembarcaram na Alemanha dispostos a apagar o mau desempenho de 2002, quando foram derrotados pela Coréia do Sul nas oitavas-de-final. Não bastasse a pressão por um bom resultado, o país se encontra envolvido em um escândalo de manipulação de resultados em seu campeonato nacional.
Em meio a tanta turbulência, a esperança de fazer boa campanha no Mundial veio de uma fonte pouco convencional: as coincidências com o ambiente e a preparação para a Copa de 1982, em que a seleção comandada por Enzo Bearzot conquistou o tricampeonato.
Há 24 anos, o futebol italiano lutava para cicatrizar as feridas de crise semelhante. Uma máfia de manipulação na loteria esportiva foi descoberta e envolveu o atacante Paolo Rossi, da Juventus, que acabou suspenso por dois anos. O jogador só voltou a atuar em abril de 1982 –perto da convocação para o Mundial– e foi artilheiro do torneio com seis gols, metade deles contra o Brasil.
Do lado francês o ambiente antes do torneio na Alemanha também não era dos melhores. Sem títulos de expressão na carreira, o técnico Raymond Domenech teve sua competência colocada em xeque após uma campanha claudicante nas eliminatórias.
A caminho do Mundial, os franceses empataram em casa, sem gols, com Israel, Irlanda e Suíça. O time correu sério risco de ficar fora da Copa e precisou “resgatar” os veteranos Zidane e Thuram –então aposentados da seleção– para conseguir a classificação.
Campanhas
A Itália começou bem o torneio, com uma vitória por 2 a 0 sobre Gana. Em seguida, porém, veio a pior atuação em gramados alemães, no 1 a 1 com os Estados que ficou mais marcado pela violência das equipes em campo do que pelo futebol apresentado –o volante De Rossi foi expulso por dar uma cotovelada em McBride e pegou quatro jogos de suspensão.
Com quatro pontos, a Itália chegou ao duelo contra a República Tcheca precisando de um empate para se classificar. Mas fez mais, ganhou por 2 a 0 e se qualificou para enfrentar a Austrália nas oitavas-de-final.
O confronto contra o time de Guus Hiddink ganhou tons dramáticos quando Materazzi foi expulso, no início do segundo tempo. A partir daí, os australianos passaram a dominar as ações e a prorrogação parecia ser lucro para a Itália quando, já nos acréscimos, o lateral Grosso conseguiu um pênalti. Totti converteu e tirou a agonia dos corações italianos.
Nas quartas, a Ucrânia não ofereceu maiores problemas e Zambrotta foi o destaque nos 3 a 0. O jogo contou ainda com os dois primeiros, e únicos, gols de Toni no torneio.
Por fim, o mais difícil duelo, contra a Alemanha. Depois de um empate sem gols no tempo regulamentar, a prorrogação seguia pelo mesmo caminho e a decisão dos pênaltis era praticamente fato consumado quando, quase no final do segundo tempo extra, Grosso acertou um belo chute e colocou a ‘Azzurra’ em vantagem. Ainda houve tempo para Del Piero sacramentar a passagem à decisão.
A França começou sua trajetória na Alemanha de modo bem mais acidentado do que a Itália e chegou à última rodada da primeira fase precisando de uma vitória contra Togo para se classificar, depois dos empates iniciais com a Suíça (0 a 0) e a Coréia do Sul (1 a 1).
A vitória por 2 a 0 veio e a França se garantiu no segundo lugar do Grupo G. Entrou como azarão contra a Espanha, nas oitavas, e, para piorar, ainda iniciou perdendo. A partir daí, começou a surgir a até então desaparecida força de Zidane, Vieira e companhia. Os franceses viraram o jogo e se classificaram com um 3 a 1.
O próximo rival foi o Brasil, temido por todo o mundo, mas não pela França, que trazia de 1998 a receita exata para derrotá-lo. Com Zidane inspiradíssimo e um gol de Henry, os europeus fizeram 1 a 0 e mandaram para a casa os pentacampeões mundiais.
O último desafio antes da final foi Portugal de Luiz Felipe Scolari. O jogo foi duro, sem muitas oportunidades para ambos os lados, mas a maior experiência da França acabou prevalecendo e, com um gol de pênalti, Zidane colocou ‘os azuis’ na decisão.
Equipes
Para a partida decisiva, o técnico Marcello Lippi deve repetir o time que derrotou a Alemanha por 2 a 0 na prorrogação, na semifinal. Caso confirmada a escalação, será a primeira vez que o treinador terá os mesmos titulares por dois jogos consecutivos no Mundial.
No gol, os italianos têm a segurança de Gianluigi Buffon, que levou apenas um gol nesta Copa –marcado por Christian Zaccardo, contra, diante dos Estados Unidos. No miolo da zaga, a força e a altura de Marco Materazzi contrastam com a técnica do refinado Fabio Cannavaro.
Gianluca Zambrotta e Fabio Grosso são os laterais, que têm se mostrado fundamentais tanto na defesa quanto no ataque.
O meio-campo tem como principal característica a marcação. Gennaro Gattuso e Simone Perrotta são responsáveis por parar as jogadas de criação adversária. Um pouco à frente, Andrea Pirlo e Mauro Camoranesi –com maior qualidade no passe– auxiliam Francesco Totti na armação.
O único legítimo atacante da equipe é Luca Toni, goleador da última temporada do campeonato nacional, com 31 tentos. Alto –tem 1,94m–, o jogador da Fiorentina é opção tanto no jogo aéreo quanto para tabelas na entrada da área, fazendo o papel de pivô.
A seleção francesa repetirá a formação que venceu Brasil e Portugal rumo à decisão. Para conquistar o segundo título do país, Raymond Domenech conta com o instável Fabien Barthez, remanescente de 1998, no gol. Na defesa, o experiente Thuram –também presente na única conquista de Mundial– faz dupla com William Gallas.
Os laterais têm comportamentos distintos no jogo: enquanto Willy Sagnol apoia o ataque com freqüência pela direita, Eric Abidal tem função mais defensiva.
O ponto de equilíbrio da equipe está no meio-campo. Claude Makelele –especialista na marcação e nos desarmes– e o versátil Patrick Vieira, que defende e ataca com qualidade e marcou dois gols nesta Copa, são os volantes.
O comando do time fica a cargo de Zinedine Zidane, que faz a ligação do meio para o ataque, com liberdade para ocupar os espaços de acordo com as necessidades da equipe.
Abertos pelas pontas, Florent Malouda –na esquerda– e Franck Ribéry, à direita, são opções para utilizar os avanços dos laterais adversários. Thierry Henry, artilheiro do Arsenal, é o responsável pelas conclusões.
ITÁLIA
Buffon; Zambrotta, Cannavaro, Materazzi e Grosso; Pirlo, Gattuso, Camoranesi e Perrotta; Totti e Toni.
Técnico: Marcello Lippi
FRANÇA
Barthez; Sagnol, Thuram, Gallas e Abidal; Makelele, Vieira, Ribéry, Zidane e Malouda; Henry.
Técnico: Raymond Domenech
Local: Estádio Olímpico, em Berlim
Árbitro: Horacio Elizondo (ARG)