Em meio à série de fracassos que o continente africano registrou nesta Copa do Mundo, a seleção ganesa conseguiu lavar a sua honra na manhã desta quinta-feira, em Nuremberg. Com a vitória de 2 a 1 sobre os EUA, os Estrelas Negras alcançaram os seis pontos no Grupo E e garantiram a sua classificação às oitavas-de-final, esperando agora pela definição do primeiro colocado da Chave F – provavelmente o Brasil – para saber quem enfrentam na segunda fase.
Mas nem tudo foi fácil para Gana alcançar a vaga. Como em um filme que vinha sendo desenhado desde as eliminações precoces de Angola, Togo e Costa do Marfim, a equipe do técnico Ratomir Dujkovic precisou superar as dificuldades enfrentadas pela forte marcação norte-americana, principalmente no meio-campo, e não esboçava grande reação no ataque.
A primeira chance veio cedo, aos oito minutos, com Essien, em cobrança de falta ensaiada, quase pega o goleiro Keller de surpresa. Foi pouco para os africanos, mas serviu para os EUA se assustarem e crescerem na partida. Com exatos seis meias em campo, os filhos do Tio Sam chegaram duas vezes consecutivas com Dempsey, mas Kingson salvou os Estrelas de uma tragédia.
Dos alto-falantes veio a notícia do gol italiano em Hamburgo e a motivação de Gana cresceu dentro de campo, empurrando a equipe para o gol. Aos 22, Reyna se complica ao tentar sair jogando da defesa e entrega de presente para Draman, que invadiu a área e chutou cruzado, sem chances para Keller. O drama ganês havia acabado.
Esperava-se mais dos norte-americanos na Alemanha, principalmente de seu astro Cláudio Reyna. Mas ele colaborou para que Gana aparecesse mais uma vez com perigo à frente, aos 28, desta vez entregando um presente para Essien, que emendou um lançamento de primeira para Pimpong e a finalização para fora, raspando a trave.
A dificuldade na articulação das jogadas seguia, mas os espaços apareciam com maior freqüência. Em um deles, os EUA chegaram ao empate. A defesa de Gana resolveu retribuir o favor norte-americano e lançou Besley na ala-esquerda. O meia cruzou na medida para Dempsey, que livre de marcação, apenas encostou para empatar.
O 1 a 1, mais a vitória italiana, eram o suficiente para a classificação ganesa, mas os tropeços dos seus companheiros de continente voltaram a assombrar os Estrelas Negras. Era a hora do segundo gol e de novo uma falha de defesa seria fundamental para isso. Aos 46, em um lance isolado, sem perigo, o zagueiro Onyewu derrubou Pimpong dentro da área. Pênalti marcado pelo árbitro alemão Markus Merk e convertido com facilidade pelo astro Appiah, garantindo a tranqüilidade africana no intervalo.
Gana chegou à Copa com a estranha alcunha de possuir uma boa defesa, característica estranha às equipes africanas. Na derrota de 2 a 0 para a Itália, foi óbvio que a fama não lhe era o suficiente e, na vitória pelo mesmo placar contra a República Tcheca, a equipe foi ao ataque esnobando a fama que carregou. A etapa final em Nuremberg foi a primeira demonstração da solidez ganesa na retaguarda.
Tirando um chute de Appiah aos nove minutos, os africanos não ameaçaram em nenhuma outra oportunidade a defesa norte-americana. Os EUA tentaram, aos 20 com Mc Bride acertando a trave em uma cabeçada, mas a “Muralha Negra”, como chegou a ser apelidada a defesa do país, fizeram o seu trabalho. Bruce Arena, responsável direto pela popularização do esporte na maior potência mundial, abdicou do estranho sistema com meias se revezando na frente e apostou as fichas nos atacantes que esquentavam o banco de reservas.
A Itália venceu a República Tcheca por 2 a 0 em Hamburgo e resolveu a situação no grupo. Os EUA encerram a participação na Alemanha mantendo a escrita lamentável em Copas na Europa: nove derrotas e apenas um empate (com os próprios italianos, na segunda rodada).
Gana chega às oitavas com duas vitórias em sua primeira participação em Mundiais, exibindo um bom equilíbrio entre defesa e ataque e com o status de cumprir as escritas de Camarões (1990), Nigéria (1994 e 1998) e Senegal (2002) e sair da Alemanha com a estrela brilhando forte, uma Estrela Negra.