Apesar de a comissão técnica e os jogadores estarem focados na partida de estréia, marcada para esta quarta-feira, contra o Al-Ahly, a torcida do Internacional esconde preocupações mais complexas. Seja no Japão ou no Rio Grande do Sul, os colorados mais fanáticos já projetam a final com o Barcelona, sem jamais, no entanto, se esquecerem do Grêmio, seu maior rival.
Na prática, a conquista da Libertadores no meio deste ano foi o primeiro passo rumo ao equilíbrio entre as duas maiores potências do futebol gaúcho. Até julho, os colorados ainda tinham de ouvir as piadas dos rivais em relação à falta de títulos internacionais. Se tudo der certo para o time do Beira-Rio neste final de ano, as gozações terão um fim com a conquista do Mundial. Com a taça, o clube terá igualado o maior triunfo do Grêmio, obtido em 1983.
Um tropeço no Japão seria trágico. Daria aos gremistas um último porto-seguro nas conversas de bar. Se na Libertadores este prazer foi perdido, os tricolores ainda teriam o direito de dizer “só nós somos campeões mundiais”. E isso é tudo que o torcedor do Inter não quer.
“Primeiro temos de pensar na estréia, isso é primordial. Ainda não sabemos nem se vamos enfrentar o Barcelona na final. Precisaremos lutar muito antes disso. Só depois pensaremos em nosso próximo adversário”, opina o colombiano Vargas, que já conquistou um Mundial Interclubes em 2003, quando ficou no banco de reservas do Boca Juniors na vitória sobre o Milan. Desta vez, ele também ficará apenas como opção para Abel Braga.
Para esquentar a rivalidade, há uma peça-chave. Ronaldinho Gaúcho, criado no Grêmio, é a maior estrela do Barcelona, time que, apesar da fama internacional, também nunca venceu um Mundial. A equipe perdeu a chance de quebrar o estigma em 1992, quando foi derrotada pelo São Paulo por 2 a 1.
”Como todos sabem, formei-me na escolinha do Grêmio. Aos oito anos, eu tentava imitar o meu irmão Assis e sonhava ganhar todos os títulos que tinha o clube”, afirma Ronaldinho. “Eu lembro sempre que quando ia ao estádio ver o meu irmão ou ao dormitório dos atletas via uma faixa gigante: ‘Campeões do Mundo’”, lembrou.
Se o Grêmio terminou o século XX em vantagem, o Internacional está na frente desde 2001. Foi duas vezes vice-campeão brasileiro, ganhou sua primeira Libertadores, três gaúchos e um Supercampeonato regional. Já os tricolores tiveram que se contentar com dois campeonatos gaúchos, uma Copa do Brasil e o nem tão honroso título da Série B.
O goleiro Clemer, de 38 anos, sabe que o melhor para os jogadores é deixar Ronaldinho Gaúcho e a rivalidade histórica com o Grêmio habitar apenas o imaginário do torcedor. Nesta quarta-feira, às 8h20 (de Brasília), no estádio Nacional de Tóquio, ele quer estar atento apenas aos chutes de Aboutrika e Flávio.
“Estamos dando atenção a todos os jogadores e não apenas ao Ronaldinho Gaúcho. Nem sequer sabemos ainda se vamos enfrentar o Barcelona. Estaremos sempre focados no próximo adversário”, promete o camisa um, que comandou o Inter em campo neste crescimento dos últimos anos.