"Vai ajudar a pagar o salário dos jogadores, que está atrasado. Inclusive o meu", disse Dória, sobre a então apenas possível venda de Rodrigo Caio, na quarta-feira passada. Exatamente uma semana depois, confirmada a ida do colega para o Valencia pelo valor de € 12,5 milhões (cerca de R$ 44 mi), o zagueiro – e outros jogadores do elenco do São Paulo – ainda não receberam.
A espera, a propósito, pode ir além do contrato de Dória (emprestado pelo Olympique de Marselha até 30 de junho), uma vez que a diretoria não conta com o dinheiro da negociação – da qual tem direito a 90% – tão cedo. "Isso demora um pouco. O Rodrigo ainda fará exames, assinará contrato. Depois, tem toda a parte burocrática, câmbio", disse o diretor financeiro são-paulino, Osvaldo Vieira de Abreu, à Gazeta Esportiva.
A previsão do dirigente é de que o pagamento do Valencia caia dentro de 20 dias. Neste momento, Dória tem garantia de mais 13 dias como jogador do São Paulo (ou dois jogos do Campeonato Brasileiro, contra Avaí e Palmeiras).
"Estou tranquilo, o São Paulo é um clube que honra com seus deveres, vai pagar a gente, está tranquilo", minimizou o jogador, ao mudar o tom do discurso da semana passada. "Estou feliz pelo Rodrigo, que vai realizar o sonho de jogar na Europa. Sobre salário, vão pagar a gente já já, está tranquilo".
Tornou-se recorrente vir à tona o atraso no pagamento de vencimentos dos jogadores na gestão do presidente Carlos Miguel Aidar, que assumiu o clube no ano passado. Atualmente, o débito nos direitos de imagem de parte do elenco – não há pendência com atletas que recebem em carteira – é relativo aos meses de abril e maio.
Para piorar, parte do montante da venda de Rodrigo Caio foi penhorada por conta de dívida antiga, de 2006, pelo não pagamento de comissão a empresários no empréstimo de Jorginho Paulista. A Justiça determinou que até R$ 3.119.479,69 dos cerca de R$ 44 milhões da transferência para o Valencia serão bloqueados, a fim de quitar o débito com a empresa Prazan Comercial.
Apesar de dizer que confia nos dirigentes são-paulinos, Dória espera não passar pela situação que viveu antes de ir para a França. "No Botafogo, estava havia quase um ano sem receber salário, direito de imagem. Lá, quando o jogador ia emendar três meses, pagavam um para não deixar sair na Justiça. Procuro não misturar essa situação, mas chegava para treinar e sempre tinha reunião de jogadores. Eu queria sair de qualquer jeito para pensar em jogar futebol", lembrou o defensor, um dia antes de se conhecer decisão que pode liberar Alexandre Pato a romper contrato com o Corinthians – e o empréstimo com o São Paulo, por consequência – em razão de atrasos.
"Quando há honestidade, quando se conhece a pessoa e consegue acreditar, dá para segurar por bastante tempo. Mas quando você vê que tudo que a pessoa te fala não passa de simples mentira, aí não se consegue aturar. Não sei como é a situação do Pato, mas, quando não cumprem, é difícil de aturar", falou, com propriedade, mas vontade de permanecer no São Paulo.