O Corinthians agora é só saudosismo com a sua “maloca querida”. Inspirado no samba do ilustre torcedor Adoniran Barbosa, lembrado em faixas e bandeiras, o time que se orgulha da alcunha de maloqueiro se despediu do Pacaembu sem sofrer exageradamente. Venceu o Flamengo por 2 a 0 na tarde deste domingo, com gols do volante Guilherme no primeiro tempo e do zagueiro Gil no segundo. A expulsão do lateral direito Leonardo Moura, pouco antes do intervalo, contribuiu com o resultado.
Foi mais um dia feliz da vida do Corinthians no Pacaembu, dim dim donde o clube acumulou algumas de suas principais glórias, em harmonia com o refrão de “Saudosa Maloca”. Afinal, além de ter conquistado os primeiros três pontos no Campeonato Brasileiro diante do Flamengo, a equipe de Itaquera ainda festejou o retorno do ex-flamenguista Elias e os nadadores campeões do Troféu de Maria Lenk em um estádio municipal lotado.
Com o resultado, o Corinthians ganhou tranquilidade na tabela de classificação após o empate sem gols com o Atlético-MG na primeira rodada. O time ainda tem alguns compromissos pela frente antes de estrear a sua moderna arena de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. Começará o duelo da segunda fase da Copa do Brasil com o Nacional na noite de quarta-feira, na Arena da Amazônia, e visitará a Chapecoense no próximo domingo, na Arena Condá.
Já o Flamengo permaneceu sem vencer e sem marcar gols na competição nacional. Precocemente eliminado da Copa Libertadores da América, a equipe carioca havia ficado no 0 a 0 com o Goiás na primeira rodada. Buscará a reabilitação contra outro oponente paulista, o Palmeiras, no próximo domingo, no Maracanã.
O jogo –A “maloca” estava toda enfeitada para receber o Corinthians pela última vez antes da inauguração da luxuosa arena de Itaquera. Com uma bandeira que lembrava o samba de Adoniran Barbosa estendida no gramado, o Pacaembu ainda acolheu as voltas olímpicas do meio-campista Elias, reapresentado à torcida, e dos nadadores corintianos campeões do Troféu Maria Lenk antes de o jogo contra o Flamengo começar.
Assim que se posicionou no banco de reservas, enquanto era hostilizado por torcedores do seu ex-clube, o técnico Mano Menezes lembrou que o Corinthians deveria justificar o ambiente festivo. O centroavante peruano Paolo Guerrero, novamente titular, sabia bem disso. Tanto é que mostrou o seu estilo aguerrido aos marcadores do Flamengo (principalmente ao paraguaio Cáceres) logo nos primeiro minutos – a ponto de ser punido com um cartão amarelo.
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Foi também a o estilo brigado de Guerrero que contribuiu para o Corinthians abrir o placar. Aos nove minutos, ele se enroscou com o zagueiro Samir durante escanteio cobrado pelo meia Jadson e permitiu que a bola sobrasse limpa para Guilherme. O volante não titubeou e encheu o pé para sacudir a rede e correr na direção da principal torcida organizada corintiana para comemorar.
A vantagem no marcador fez a superioridade técnica do Corinthians ficar mais nítida. O Flamengo tinha muitas dificuldades no setor criativo e apelava para um rodízio de faltas para conter as investidas adversárias. Irritado porque a bola quase não chegava ao ataque, o centroavante Alecsandro começou a desabafar com alguns companheiros. Quando teve a oportunidade, tentou encurtar o caminho para o gol com um chute de longa distância – sem sucesso.
Em pé à beira do campo, Mano gritava e gesticulava para que o Corinthians aproveitasse o melhor momento psicológico. Seus berros eram encobertos pela cantoria da torcida. No gramado, quem parecia mais disposto era um jogador que estreava com a camisa corintiana no Pacaembu – o meio-campista Petros corria de um lado a outro, colaborando com a defesa e com o ataque. Até Ralf se contagiou com o colega, fugindo às suas características e colocando a bola entre as pernas de Alecsandro, que respondeu com uma rasteira.
Alecsandro não foi punido pelo árbitro Leandro Pedro Vuaden na ocasião, o que não significava que o gaúcho tivesse perdido a rigidez. Aos 42 minutos, Leonardo Moura derrubou Petros na lateral do campo e foi severamente punido com o cartão vermelho – sem que tivesse recebido anteriormente o amarelo. A expulsão revoltou os jogadores do Flamengo. Os do Corinthians, ao contrário, terminaram o primeiro tempo aplaudidos, mesmo sem a construção de muitas chances de gol.
Para mudar o panorama da partida, o técnico Jayme de Almeida apostou na entrada de Nixon no lugar de Alecsandro no intervalo. Era necessário tomar uma atitude, como alguns dos seus comandados falaram ao descer para o vestiário. Afinal, o Flamengo já tinha um jogador a menos e havia passado os últimos minutos do primeiro tempo assistindo à torcida corintiana se divertir com insultos ao goleiro Felipe, que deixou o clube do Parque São Jorge de forma polêmica.
A alteração de Jayme, no entanto, não impediu o Corinthians de ser mais perigoso já no princípio do segundo tempo. Logo aos dois minutos, o lateral esquerdo Fábio Santos se projetou em tabela com Jadson e finalizou com força. A bola acertou o travessão. Foi o suficiente para o técnico do Flamengo preparar outra substituição. Trocou o ex-corintiano André Santos pelo argentino Lucas Mugni.
Com novo fôlego na armação, o Flamengo pareceu esquecer que estava em desvantagem numérica e passou a pressionar e a fazer o goleiro Cássio trabalhar. A postura diferente coincidiu com as mudanças de Mano no Corinthians. Guerrero, para quem os defensores do clube carioca queriam cavar uma expulsão, saiu para a entrada de Luciano. Petros deu lugar ao veterano Danilo. E, mais tarde, o apagado Romarinho cedeu espaço ao novato Malcom.
A formação fez o Corinthians ficar posicionado para jogar no contra-ataque no final da partida. A estratégia quase se mostrou eficaz no instante em que o Flamengo se aproximava do gol de empate. Aos 32 minutos, o hostilizado Felipe errou na saída de bola e permitiu que Malcom deixasse Jadson em frente ao goleiro rubro-negro, que se recuperou na jogada e fez a defesa. Luciano já estava pronto para empurrar para a rede.
Aos 35, Felipe nada pôde fazer. Fábio Santos foi à linha de fundo esquerda depois de receber a bola de Luciano e cruzou rasteiro para o zagueiro Gil ganhar a disputa com Samir e emendar para dentro. O segundo gol era o que restava para o Corinthians completar o dia feliz – e para a sua torcida abrir duas faixas na arquibancada amarela da “saudosa maloca”, compondo a inscrição: “Obrigado, Pacaembu”.