Corinthians e Palmeiras se enfrentam nesta quarta-feira, às 21h, no Morumbi, em uma situação atípica. Para não dizer desesperadora. Afinal, apesar de serem dois dos times mais tradicionais do país, os rivais entram em campo sob forte ameaça de rebaixamento à Serie B do Campeonato Brasileiro, e disputam um verdadeiro clássico da sobrevivência no estádio tricolor.
Considerando o Brasileirão, a Taça Brasil, a Taça Roberto Gomes Pedrosa e a Copa do Brasil, os dois somam 15 conquistas nacionais, e têm no retrospecto uma disputa de título, em 1994, que acabou com a vitória alviverde. Os rivais também disputaram as quartas-de-final da Copa Libertadores em 1999 e as semifinais em 2000, também com superioridade verde, mas, neste dia 25 de outubro de 2006, estarão duelando com objetivos bem mais modestos.
Faltando apenas oito rodadas para o fim da competição, o Corinthians, mandante do jogo, está apenas na 15ª colocação com 35 pontos, só dois a mais que a Ponte Preta (primeiro time da zona de rebaixamento). O Palmeiras, com 37 pontos, é o 14º, e também continua assombrado pelo fantasma da Série B.
A situação dos rivais fica mais dramática levando em consideração que a Ponte joga em casa contra o Botafogo. O Fluminense, que tem os mesmos 35 pontos do Corinthians, é outro que atua em casa, contra o Grêmio, aspirante ao título.
As campanhas ruins já condenaram quatro técnicos (Ademar Braga e Geninho no Corinthians; Emerson Leão e Tite no Palmeiras) e fizeram com que ambas as equipes adotassem uma greve de silêncio contra a imprensa na última semana.
No Parque São Jorge, apenas o técnico Leão fala. No Parque Antártica, depois de uma represália geral por supostos “maus tratos” da imprensa ao atacante Neto Baiano, os jogadores voltaram a conceder entrevistas, exceção feita ao animal Edmundo, que mandou avisar que só fala novamente com a mídia em 2007.
O clássico marcará o reencontro de Leão com seus ex-comandados. Quando comandava o Palmeiras, nas primeiras rodadas do campeonato, o treinador criou polêmica ao dizer que o time era “nota cinco” e que não poderia exigir muito dos atletas.
Já Magrão, que depois de vestir a camisa verde afirmou que jamais atuaria pelo rival, não poderá ajudar o Corinthians. O jogador foi punido pelo STJD pela expulsão contra o Santos e terá de cumprir suspensão. Amoroso é duvida e Gustavo Nery passou por cirurgia no ombro e só volta em 2007.
Pelos lados do Alviverde, a ordem é provar ao ex-comandante que a nota do elenco não é tão modesta quanto ele imagina. “Ele falou isso, mas essa é a opinião dele. Nesse jogo nós temos que ser nota dez, mas não pelo Leão, mas por nós, pois precisamos da vitória para melhorar nossa situação”, avisou o zagueiro Nen.
Questionado sobre qual nota daria para o atual time de Leão, Nen contemporizou: “O Corinthians é um grande time e o Palmeiras tem que respeitar. Não tememos, mas respeitamos”, frisou o atleta, que admitiu ter pela frente uma partida que poderá definir a sobrevivência dos clubes na elite nacional. “Quem perder terá que enfrentar uma pressão muito grande e um abalo psicológico que pode prejudicar”, alertou.
A opinião do experiente defensor foi compartilhada por um dos mais jovens jogadores do elenco alviverde: Wendel. Sem chances de trabalhar com Leão, o atleta não fez parte do grupo rotulado de “nota cinco”, mas também entrará em campo com gás extra para mostrar todo o seu potencial.
“Se for para ter uma nota tem que ser dez, pois nosso grupo tem jogadores de qualidade, que confiam um no outro”, analisou. “Cada jogador tem que mostrar o seu potencial e se esforçar ao máximo para sair de vez de perto da zona perigosa do campeonato”..
O técnico Marcelo Vilar, que terá pela primeira vez a chance de encontrar-se com Leão, que o chamara de ‘pato novo’, contará com as voltas de Michael e Enílton. Sem Juninho Paulista, o treinador optou pela entrada do chileno Valdívia na armação das jogadas.
Questionado sobre as rusgas com Leão, Vilar se irritou: “Cada pessoa tem direito de falar o que quiser. Não tive o prazer de conhecer o Leão e nunca foi feita uma crítica a ele, e sim colocado um fato de momento”, respondeu, explicando as acusações sobre o mau estado físico do elenco palmeirense na época em que Leão estava no clube. “Não tenho nada contra o Leão e estou focado apenas em fazer um bom jogo”, reforçou.
Sobre a importância da partida, foi direto: ‘Precisamos da vitória a qualquer custo e quero meus atletas cientes de que, por ser um clássico, terão um jogo difícil pela frente, mas sem essa história de vida ou morte”, frisou. “Precisamos lembrar do que fizemos contra Grêmio, Atlético-PR e São Paulo e ficar ligados o tempo todo para sair com uma vitória”.