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Copa do Mundo em Cuiabá distante por falta de entusiasmo político

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No dia 30 de julho, o prefeito de Cuiabá, Wilson Santos, conseguiu destaque nos principais portais de notícias do Brasil e, no dia seguinte, teve sua fotografia publicada em alguns periódicos matutinos, ao lado de um alegre presidente Luís Inácio Lula da Silva dedilhando uma viola de cocho – instrumento artesanal presente no folclore e cultura cuiabana. No mesmo dia, já no começo da noite, com destaques apenas na mídia regional, o prefeito Nelson Trad, de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em solenidade parecida, entregava ao presidente Lula um tuiuiú, ave símbolo do Pantanal, vestido com a camisa da Seleção Brasileira. Embutido, o pedido de apoio político para que a capital de Mato Grosso do Sul seja uma das subsedes da Copa do Mundo de 2014.

As duas situações refletem com clareza uma realidade: o grau de organização e prioridade que o assunto vem tomando em todos os sentidos entre os dois estados. A CBF já tem quatro locais que receberão os jogos da Copa 2014 caso a Fifa confirme a realização da competição no Brasil. Além do Rio de Janeiro e São Paulo, Amazônia e o Pantanal serão sedes do torneio. É fato que Cuiabá e Campo Grande disputam a mesma vaga. A diferença é que Mato Grosso do Sul já vende o sonho aos seus habitantes. Mato Grosso, por enquanto, usa os pés no chão e coloca em dúvida essa possibilidade.

A ação de Nelson Trad foi eficiente e abrandou muito o que Mato Grosso tinha de mais importante no momento, que era o apoio político. Não há dúvidas de que o presidente Lula e o governador Blairo Maggi estão afinados em projetos futuros. O discurso do prefeito Wilson Santos, um tucano de carteirinhas, com elogios rasgados ao dirigente da Nação, também contariam pontos. Fora isso, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, sempre manteve estreitas ligações com Carlos Orione, presidente da Federação Mato-grossense de Futebol: vide a quantidade de jogos da Seleção Brasileira no Verdão.

Os dois estados têm economias muito parecidas, as atrações turísticas se equivalem e as potencialidades para atrair investimentos também. Contudo, até por questões de caráter geográfico, Mato Grosso do Sul sempre soube explorar melhor e vender mais seus aspectos sócio-econômicos que Mato Grosso. E agora, pelo que demonstra, vai conquistando aquilo que precisa para obter a subsede da Copa, qual seja, o apoio político. Lula se mostrou extremamente amistoso com o afago que recebeu em Mato Grosso do Sul.“Se depender da segurança e das belezas naturais, Campo Grande é forte candidata, mas se depender do carinho dos campo-grandenses, aí não há dúvida” – comentou o presidente.

O desejo de Campo Grande em sediar jogos da Copa do Mundo, aliás, é notável. Coloca “no chinelo” a mobilização popular e até mesmo a organização dos que estão do lado de cá da divisa. Para se ter uma vaga idéia, até a arbitragem participando de jogos do Campeonato Brasileiro está sendo usada como sinônimo de força, organização e prestígio. Campo Grande “vende” que o futebol de lá é melhor que o daqui.

Com um olhar político mais atento, o prefeito Trad Filho diz que Campo Grande tem rede hoteleira melhor estruturada, possui infra-estrutura mais adequada para sediar um evento como a Copa e, ainda, está próxima ao Pantanal. Aliás, a diplomacia passa distante quando os interesses estão em jogo. “Cuiabá também tem o apelo pantaneiro na disputa, mas 75% da planície estão localizados em Mato Grosso do Sul” – diz Nessa luta vale tudo. Ele afirma, por exemplo, que a presença de um aeroporto em Campo Grande também é vantagem e diz que aeroporto mais próximo de Cuiabá está localizado em Várzea Grande, o que dificultaria a locomoção à cidade. Esqueceu de dizer que Cuiabá e Várzea Grande estão separadas por um rio. Trad não esconde o entusiasmo em relação ao evento. “Minha adrenalina sobe cada vez mais” – afirma.

O entusiasmo dos sul mato-grossenses comparado aos mato-grossenses é notável. Por lá, todos respiram Copa do Mundo. Aqui, poucas têm sido as intervenções dos políticos. Wilson Santos limitou-se a um “fará tudo que for possível” para trazer os jogos para Cuiabá durante uma visita, em abril, do presidente da CBF a Cuiabá, Ricardo Teixeira. Na mesma ocasião, o governador Blairo Maggi mencionou um certo “esforço conjunto” entre Estado e Município para viabilizar o projeto. De lá para cá, o assunto ficou a cargo do Comitê” Pró Copa Pantanal 2014”, que vem tentando dar conta do recado.

Entre as maiores exigências colocadas pela CBF, está a logística de transporte e tráfego, que deve garantir o acesso rápido e desafogado de delegações e torcedores ao estádio, ampliação da rede hoteleira, gastronômica e hospitalar e a construção de três campos de treinamentos. As cidades-candidatas terão que cumprir as mesmas exigências: estádio coberto, com capacidade entre 40 e 45 mil pessoas, todas acomodadas em cadeiras; áreas destinadas a convidados Vips, imprensa e autoridades com acesso e estacionamento exclusivos; corredor coberto para as bilheterias e pista de atletismo ao redor do gramado.

“Nós precisamos convencer a Fifa de que teremos condições de promover as alterações e os ajustes necessários para a vinda a Copa, nós temos uma vitrine muito forte hoje que é a estrutura turística de Mato Grosso, mas temos a estrutura do estádio, hoteleira e a pouca tradição futebolística como nossos pontos fracos, precisamos traçar diretrizes de trabalho, envolver a sociedade e fomentar o clamor do da população” – admitiu o vice-presidente do Comitê, Baiano Filho, que é secretário Estadual de Esportes. Baiano ainda acrescentou a necessidade de se realizar consultas à população, com a organização de audiências públicas, e o esclarecimento quanto ao retorno social, econômico, turístico e cultural que o Estado terá com o evento. Por enquanto, nada aconteceu.

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