Nos 29 jogos de sua segunda passagem pela Seleção Brasileira, Luiz Felipe Scolari só não escalou Neymar duas vezes. Em ambas, o atacante estava lesionado, e o treinador ficou sem saber o que fazer. Com Dunga de volta ao comando, a tendência é que o principal jogador brasileiro na atualidade seja tratado como substituível, até para a eventualidade de, de fato, não tê-lo à disposição.
Isso foi o que o novo técnico, de volta à equipe nacional após quatro anos, deu a entender em alguns momentos de sua apresentação, na terça-feira. Sempre que possível, reforçou o que pensa: talento e improvisação podem ser superados por um adversário bem organizado, e atletas que não tenham comprometimento tático ficarão para trás em sua preferência.
"Futebol arte é muito bonito, muito legal. Mas o que é futebol arte? Um goleiro defender ambém é arte. Um zagueiro fazer uma interceptação também é arte. Não podemos comparar o futebol de lá de trás com o de agora, achar que vai encontrar um Pelé toda hora. Pelé é um mito. Ídolo, a gente não cria. É ele quem vai conquistando seu espaço, a cada dia, pelos resultados dentro de campo. O Brasil tem jogadores de grande talento e sempre vai ter, mas temos que aliar esse talento a comprometimento, humildade, equilíbrio emocional", contestou.
Em 2010, diante do apelo público e de parte da imprensa para que ele levasse Neymar para o Mundial da África do Sul, Dunga também lembrou Pelé para, mesmo que sem citar nominalmente o então jovem santista, afastar a ideia de convocá-lo. "Tem que ser realmente um jogador diferenciado, que venha para jogar e encha os olhos de todos. Se surgir um novo Pelé, eu o convoco", avisou, como viria efetivamente a fazer.
Quatro anos mais tarde, Neymar se tornou uma realidade, joga no Barcelona e, aos 22 anos, foi o principal nome do Brasil até as quartas de final da Copa, quando levou uma joelhada nas costas e fraturou a terceira vértebra lombar – motivo pelo qual não pôde ir a campo na semifinal (vencida por 7 a 1 para a Alemanha) e na disputa pelo terceiro lugar (vencida por 3 a 0 pela Holanda). Também se tornou, porém, uma grande marca publicitária, com diversos patrocinadores e até grife própria. Nas entrevistas e viagens, usava um boné com seu nome estilizado.
"Vimos na Copa o quanto é importante o talento, mas o planejamento também é muito importante. O quanto é importante no futebol moderno o marketing, mas também o trabalho dentro de campo", salientou Dunga.
Neymar obviamene vai figurar nas convocações do sucessor de Felipão – assim que se recuperar da lesão e tiver novamente condições de atuar -, mas sabe desde já que não terá tratamento diferenciado do comandante. O mesmo que, há quatro anos, desdenhou de seu potencial e também não chamou seu melhor amigo no futebol, o meia Paulo Henrique Ganso.