Noventa minutos podem definir o Gauchão. Ao vencer o Veranópolis, ontem, 1 a 0, gol de Willians, o Inter chega à final da Taça Farroupilha Se ganhar do Juventude do técnico Lisca, no próximo domingo, em um Centenário que, a cada partida, fica mais à vontade como a casa colorada em 2013, leva o Gauchão. O título do returno não marca apenas o tricampeonato do Inter no Estadual, mas a primeira taça conquistada por Dunga como técnico de clube.
Um Centenário praticamente lotado viu o Inter envolver o Veranópolis e mostrar que se o Gauchão é considerado um teste para enfileirar Copa do Brasil e Brasileirão, o time de Dunga está no caminho de terminar o ano com um A. Desde o início, o Inter trocava bons passes de um lado a outro do campo, adiantava seus zagueiros e volantes para próximo da intermediária e, com isso, empurrava o time de Julinho Camargo para o campo adversário. Mesmo com as duas linhas de quatro propostas pelo Veranópolis para conter os avanços de D"Alessandro, Fred e Forlán, a diferença técnica das duas equipes seria determinante em uma série de oportunidades. Pela direita, Gabriel tinha facilidade para ir à linha de fundo. Fabrício aparecia bem pela esquerda. A dinâmica de jogo cobrada à exaustão por Dunga aparecia. Sem erros.
E quando um time com a qualidade do Inter não erra, o adversário tem a vida complicada. João Ricardo, o camisa 1 do Veranópolis, consagrava-se. Aos 16 minutos, espalmou ótima falta cobrada por D"Alessandro. Dois minutos depois, impediu o gol de Forlán. Afastava cruzamentos com socos. Organizava a defesa aos berros. Pedia atenção ao time. Era o melhor em campo. Mas pelo lado do Veranópolis. Pelo Inter, o conjunto fazia a diferença. E, com isso, as individualidades apareciam. D"Alessandro, inspirado. Forlán, movediço e veloz pela esquerda. Damião, ainda que não tenha sido decisivo, deixava a área e compunha os tabelamentos em frente da área – a evolução do camisa 9 do Inter, com Dunga, é evidente. Não é mais (apenas) aquele centroavante mortal, goleador dos dois últimos Estaduais, artilheiro do Brasil em 2011. Artilheiro da Olimpíada de Londres de 2012. O Damião de Dunga sabe jogar fora da área.
O gol do Inter surgiu de aos 25 minutos. Willians pedalou, tirou o marcador da jogada e, na entrada da área, de perna esquerda, colocou no canto direito de João Ricardo. E o gol melhorou o jogo. O Veranópolis teve de sair para o jogo. Não podia apenas esperar o Inter e apostar nos contra-golpes.
Se no primeiro tempo a partida mais parecia um treino de ataque contra a defesa, a etapa final ganhou movimentação e emoção. Com o Veranópolis proporcionando espaços, Ednei dava espaços, pela esquerda do ataque. E o Inter explorou o setor uma vez com Forlán, uma vez com Fred, outra vez com Damião. Mas o suficiente 1 a 0 deu ao Inter a vaga na final da Farroupilha. Sem o Grêmio para fazer frente na finalíssima, a tarefa de continuar o campeonato fica com o Juventude. Ao que tudo indica, faltam 90 minutos.
Grêmio
Vanderlei Luxemburgo estava decepcionado no vestiário após a derrota para o Juventude, nos pênaltis. Mas o técnico viu a eliminação no Gauchão como algo natural no processo de formação de uma equipe forte. Citou exemplos próprios, como quando treinou o Corinthians, em 1998, e o Cruzeiro, em 2003, e, inclusive, do rival Inter, que nos primeiros anos da gestão Fernando Carvalho teve dificuldades. Luxemburgo ainda enalteceu a campanha do Juventude, mas achou que o Grêmio foi injustiçado pela anulação de dois gols na partida.
— Só vejo como injustiça (a eliminação) porque nós tivemos dois gols legais anulados numa partida decisiva. Mas o Juventude vem fazendo uma campanha muito boa e merece a classificação. Hoje, talvez tenha sido um dos melhores jogos nosso. Temos de ficar chateados, mas precisamos continuar trabalhando porque tem coisa boa reservada para nós, tenho certeza — disse Luxemburgo.
O treinador gremista não teme que seu trabalho seja interrompido após a desclassificação no Campeonato Gaúcho. E ressaltou que a prioridade do Grêmio nesta temporada é a Libertadores, pela qual enfrenta o Independiente Santa Fe, na Arena, quarta-feira, na partida de ida das oitavas de final.
— No futebol se vive momentos complicados. Na história dos grandes times se vive momentos difíceis durante a sua formação. A gente está conversando internamente e sabemos dos objetivos do doutor Fábio (Fábio Koff, presidente do Grêmio). Na minha passagem pelo Coritnhians, em 1998, eu perdi cinco jogos seguidos. São momentos complicados, mas a firmeza e a certeza no que se está fazendo me dá tranquilidade. Eu tenho certeza de que o Grêmio vai fazer uma temporada muito boa. Claro que o Gaúcho é importante, pela rivalidade, mas a nossa prioridade é quarta-feira – afirmou o técnico.
Em relação as reclamações da torcida, que saiu do Alfredo Jaconi reclamando do técnico, Luxemburgo tratou com naturalidade e disse que a pressão em um time grande como o Grêmio sempre vai ocorrer. Mas mandou um recado otimista para os gremistas:
— O torcedor precisa saber da importância desse jogo na quarta-feira para lotar a Arena. A partir desse jogo nós vamos ter muito tempo para preparar essa equipe. O Grêmio esse ano entra no Brasileiro e na Copa do Brasil para brigar pelo título. Por isso sacrificamos o time no Gauchão, para que pudéssemos avançar. O retorno realmente vai chegar mais na frente. Agora temos um caminho bem desenhado. Posso falar para o torcedor: o Grêmio é candidato a ganhar título esse ano.