A contratação de Rogério Ceni para assumir o comando do time do São Paulo não é simplesmente apenas mais uma troca de técnicos, algo tão rotineiro no Brasil. O ex-goleiro promete revolucionar a forma como o clube pensa e age em todo o departamento, espera adotar uma nova rotina de treinos e no convívio com a imprensa e espera que toda essa modernização seja a chave para resgatar os anos de glórias do Tricolor do Morumbi, além de deixar um legado montado para que seus sucessores possam apenas dar sequência no futuro, algo próximo do que fez Telê Santana.
E a aposta de Rogério Ceni tem três alicerces: sua vivência no futebol, seu status de ídolo e seus estudos. Embasado nesses pontos, o maior ídolo da história são-paulino não simplesmente negociou um contrato com a diretoria do clube. Ceni apresentou um projeto, um plano, mostrou suas pretensões no papel. Esperava três anos de contrato para ter mais segurança e tranquilidade, mas teve de se adaptar à realidade do futebol brasileiro e assinou um vínculo de dois anos com metas que inclusive estão diretamente ligadas a sua continuidade e ao seu salário, este inferior ao da maioria dos grandes treinadores do país.
E muitas das mudanças que Ceni deve começar a implantar no clube a partir de janeiro de 2017 têm relação com o futebol europeu, por onde o ex-camisa 01 passou os últimos meses estudando e adquirindo experiências novas, tanto na pratica quanto teóricas. Isso significa que a imprensa não deverá mais ter acesso aos treinamentos do time, com exceção a alguns minutos de parte do aquecimento ou já com os atletas deixando o campo.
Além disso, a dinâmica de treinos deve sofrer uma mudança brusca. Ceni vai trazer Michael Beale, britânico das categorias de base do Liverpool e que também já trabalhou no Chelsea, para lhe auxiliar nessa parte. Beale é um especialista em montagem e programação destas atividades do dia-a-dia. Fora a experiência de 15 anos de trabalhos com jovens promessas, outra tangente que deve ser ainda mais intensificada desde já. Os garotos de Cotia podem se preparar, porque terão chances na equipe principal.
Rogério Ceni ainda não descartou trazer outro profissional para sua comissão técnica que também lhe dê suporte nessa parte ‘campo-bola’, mas esse nome não está definido. O que parece cada vez mais certo é a ideia do novo técnico em alterar a forma como é feita a preparação física dos jogadores. Até mesmo a substituição do responsável pode acontecer.
Dentro das quatro linhas, o torcedor pode esperar um São Paulo europeu. Rogério Ceni se espelha em linhas de trabalho muito parecidas com as de Juan Carlos Osório e Jorge Sampaoli. Isso significa uma competitividade interna muito forte na briga por posições, uma intensiva metodologia de jogo coletivo, com compactação, toques rápidos e uma postura ofensiva, sem deixar de ser bem resguardada. A Florida Cup e o Campeonato Paulista serão fundamentais para esses primeiros passos.
Enquanto isso, Ceni vai adiantando o que pode. E isso significa correr com o planejamento de montagem de elenco. Rogério Ceni que o clube não tem muito dinheiro para investir, então, sua ideia é apostar em poucas contratações, mas, nomes de peso, jogadores rodados, experientes, que possam chegar para assumir uma condição de liderança em um grupo que será recheado por jovens cheios de disposição para buscar um espaço.
Se vai dar certo, ninguém sabe. Todos garantes que estão cientes dos riscos, tanto Rogério Ceni, que terá sua condição de ídolo em sob ameaça de degradação, quanto o clube, que vai apostar em um profissional, que apesar de não ser qualquer um, nunca atuou na nova função e tem uma personalidade conhecidamente forte, daqueles que não aceitam pitaco em suas pretensões. O que não dá para negar é que, apesar do ‘frio na barriga’, todos, inclusive os torcedores, estão otimistas para que o São Paulo se revolucione e reencontre o rumo das conquistas, uma realidade que tem se distanciado a cada ano.