Trinta e duas etnias indígenas de Mato Grosso estavam presentes na cerimônia de colação de grau de três turmas indígena da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), realizada em Barra do Bugres, na última sexta-feira. A reitora da Instituição, Ana Di Renzo, outorgou grau a 45 novos professores. Durante a solenidade no ginásio de esportes Arlindo Buck, houve apresentações culturais Umutina, de acadêmicos do Xingu, Irantxe e Paresí.
A engenheira florestal Natália Filardo, missionária do Conselho Indigenista, que morou quatro anos na aldeia dos Myky em Brasnorte prestigiou a conquista dos indígenas Tupy Myky e Wajakuxi Myky. Natália contou que eles são os primeiros Mykys a concluir ensino superior. “É gratificante ver que, apesar de todas as dificuldades, o Estado consegue oferecer ensino superior aos indígenas por meio da Unemat, que se propõe a atender todas as especificidades indígenas”, elogiou. Já na família do Kezi Ajigui, da etnia Bakairi do município de Paranatinga, o irmão Marceni Mugarai Apacano é o primeiro a concluir o ensino superior. “Não é por acaso que estudamos para ter diploma. Essa vitória é uma honra”, afirmou o irmão que cursa Enfermagem em Cuiabá.
A reitora da Unemat, Ana Di Renzo, disse que a Educação Indígena é uma das coisas mais bonitas que a Instituição faz. Lembrou que se faz igualdade respeitando as diferenças. E convidou todos a pensar a concorrência pelos indígenas a qualquer curso da Universidade. “A nossa Universidade veste a camisa da cultura indígena em Mato Grosso. Vamos dar continuidade a esse processo pioneiro iniciado pela Unemat”, falou a reitora. Ana Di Renzo também citou o compromisso do governo do Estado em investir 18 milhões de reais na educação indígena até 2018.
Cleide Adriana da Silva Terena, da etnia Nambiquara, disse ter sido indicada pelas lideranças da tribo quando saiu o edital do curso. “Trabalho na sala de aula desde 2008, agora com mais aprendizado poderei ajudar mais minha comunidade”, afirmou a nova professora licenciada em Ciências matemáticas e da natureza. O coordenador do curso de Formação de Professores Indígenas da Unemat, Adailton Alves da Silva, reforça o sentimento de Cleide Adriana. “Não é um indivíduo que se forma, mas o coletivo de uma aldeia”, explicou Silva.
A turma “O olhar além das palavras”, do curso de Línguas, Artes e Literaturas, teve como orador o graduado Marcelo Munhuari Munduruku que apontou a “virada” na vida de suas famílias e aldeias por meio “dos agora professores formados”. “Por uma sociedade mais justa” foi o nome escolhido pela turma de Ciências Sociais, que teve por orador o graduado Tupy Myky. O graduado Edivaldo Lourival Mampuche, foi o orador da turma “Ciência do saber, o objetivo é vencer: uma lenda e dez histórias”, do curso Ciências Matemáticas e da Natureza, que concluiu seu discurso com grande expectativa: “Que cada um se dedique a ser um milagre na vida de seus alunos”.
Estavam presentes na cerimônia vários caciques, dentre eles, Damião Paridzané, dos Xavantes de Marãiwatsédé, que era também pai do formando Elideo Tsõrõné. O cacique Damião aproveitou a colação para fazer reivindicações, entre elas: a criação de mestrado e doutorado para atender aos indígenas. O cacique que confessou ter dificuldades com o português fez comparações entre sua geração e a atual. Lembrou que é um guerreiro de borduna (arma indígena usada na guerra), que não teve oportunidade de estudar, e que agora seus filhos têm a caneta como arma para lutar.
O secretário adjunto de Política Educacional da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Gilberto Fraga, afirmou que a Secretaria tem a preocupação de trazer respostas às reivindicações apresentadas pelos representantes indígenas. Em sua fala citou o professor Carlos Maldonado que recentemente deu nome a Instituição: “O aprender antecede o ensinar”, ratificou Fraga.