Foi criada esta semana a primeira faculdade indígena da América do Sul, que estará sediada em Barra do Bugres onde já existem vários cursos superiores ligados ao Programa de Educação Superior Indígena Intercultural (Proesi), coordenado pelo vice-reitor da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), professor Elias Januário. A proposta foi apresentada pelo vice-reitor e representantes indígenas e aprovada no II Congresso Universitário da Unemat.
De um total de 252 delegados, representando os diferentes segmentos acadêmicos, sociedade civil e governo do Estado, foram redefinidas macro-políticas para o ensino, pesquisa, extensão, bem como gestão universitária.
“Com a criação da Faculdade Intercultural Indígena, estamos concluindo mais uma etapa e pavimentando o caminho na direção da tão sonhada Universidade dos Povos Indígenas, que acredito será realidade daqui alguns anos”, comentou o vice-reitor da Unemat.
Atualmente existe apenas uma Universidade Indígena no mundo, na cidade do México.
A faculdade aprovada para Mato Grosso será dotada de infra-estrutura necessária para a realização das aulas das etapas presenciais dos cursos realizados, alojamento dos cursistas durante as etapas, instalação da sede administrativa e demais dependências a serem utilizadas pelo Programa de Educação Superior Indígena Intercultural (Proesi).
A Unemat tem, ao longo do tempo, contribuído para o fortalecimento da educação escolar indígena específica e diferenciada em Mato Grosso e, por conseqüência, em nível nacional. Para isso tem adotado práticas visando a oferta da Educação Superior para os povos indígenas.
A oferta de cursos de formação com currículos específicos e diferenciados tem sido uma das ações da universidade no campo da Educação Superior Indígena. A partir do ano 2000, foram iniciados Cursos de Licenciatura Específica para Formação de Professores Indígenas, após ter participado das discussões estabelecidas para sua concepção, com representação na então Comissão Interinstitucional e Paritária.
São oferecidos três cursos de licenciatura específica para a formação de professores indígenas: línguas, artes e literaturas; ciências matemáticas e da natureza; e ciências sociais.
Quanto à metodologia, os cursos obedecem a um regime especial e são desenvolvidos de forma intensa e presencial nos períodos de férias e recessos escolares, com atividades cooperadas entre docentes e cursistas nos períodos em que estes estão ministrando aulas nas escolas indígenas.
Durante as etapas intermediárias, os estudantes desenvolvem atividades de estágio nas escolas de suas aldeias, acompanhados por professores da instituição, aproximando ainda mais a universidade da realidade vivida em cada comunidade indígena, contribuindo dessa forma para a consolidação de uma educação escolar específica e diferenciada, que atenda aos anseios de cada povo.
O currículo é flexível e definido com ampla participação dos estudantes e demais envolvidos no contexto, partindo de pressupostos como a afirmação da identidade étnica e valorização dos costumes, língua e tradições de cada povo.
Propõem-se também buscar respostas para os problemas e expectativas das comunidades, assim como compreender os processos históricos em que as comunidades indígenas e outras formas de sociedade estão mergulhadas. Para isso, aponta-se para o estudo e utilização das línguas indígenas no trabalho docente e o debate sobre os projetos de vida e de futuro de cada povo.
Ao longo de oito anos de execução, os cursos contam com três turmas, que atendem a 340 estudantes de 45 diferentes etnias.