Dezenas de estudantes do campus de Sinop da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) estão protestando, hoje, contra a mudança na política de alimentação do restaurante universitário. Em fevereiro, a instituição anunciou “ampliação do acesso gratuito” aos que comprovassem renda de até 1,5 salário mínimo e “acesso subsidiado para estudantes com outros fatores de vulnerabilidade socioeconômica, no limite do orçamento do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes)”. Para os demais, o valor das refeições seria pago sem subsídio.
Com a mudança, segundo a estudante de Enfermagem do campus de Sinop, Fernanda Trombetta Pedraça, muitos alunos devem deixar a instituição. “Sem diálogo necessário, ou um levantamento para representar a realidade, muitos vão deixar a universidade. Tem estudantes em situação de vulnerabilidade que não vão se enquadrar no perfil socioeconômico e não serão assistidos. Muitos farão a inscrição (para auxílio estudantil) e, por causa de R$ 50, não terão subsídios. Aí, tendo que cobrir o valor integral (das refeições), não terão condições. Outros nem sequer entrarão na faculdade, porque sabem que não irão conseguir se manter”.
Atualmente, todos os estudantes do campus de Sinop pagam R$ 0,25 pelo café da manhã, R$ 1 pelo almoço e mais R$ 1 pela janta. Desta forma, o custo mensal com três alimentações diárias chega a R$ 50 por aluno. Segundo Fernanda, com a proposta apresentada pela universidade, estudantes contemplados pela assistência estudantil estarão isentos. Cerca de 3 mil devem se enquadrar nesta situação em todo o Estado (não há números oficiais sobre Sinop). Já os demais, passarão a pagar R$ 2,35 pelo café da manhã, R$ 9,48 pelo almoço e R$ 9,48 pela janta. Neste cenário, o custo da alimentação chegará a R$ 473,52 por mês.
Conforme a estudante, a principal “bronca” dos estudantes é com a “falta de diálogo” da instituição ao implantar a mudança. “A gente quer que a universidade pare e dialogue, chamando assembleias estudantis, justamente para fazer contraproposta”, afirmou, ressaltando que o movimento contrário à mudança em Sinop não é ligado a nenhuma “entidade estudantil. É um movimento de estudantes, com participação de todos os cursos do campus”.
Em nota à imprensa, divulgada em fevereiro, a UFMT afirmou que a implantação da nova política de alimentação seria gradual, a partir de março, e observada por um Comitê Gestor de Acompanhamento. “Atualmente, na assistência estudantil, em torno de 1.500 estudantes recebem o auxílio alimentação, após se submeterem a edital. Nesta reestruturação, a projeção é alcançar o dobro de estudantes beneficiados com a gratuidade. Significaria potencializar o que a política de assistência estudantil já se compromete; que é a priorização dos mais vulneráveis”, afirmou, na época, a pró-reitora de Assistência Estudantil, Erivã Garcia Velasco.
Segundo a instituição, o orçamento para custeio e investimento das universidades vem caindo, ano a ano. “O orçamento de 2017, comparado ao do ano anterior, teve redução de cerca de 38% nos recursos destinados ao capital, utilizado para realização de obras e aquisição de equipamentos, e de aproximadamente 4,5% na verba destinada ao custeio, referente a manutenção de despesas básicas. Com isso, a administração da Universidade vem manifestando, sistematicamente, à sociedade mato-grossense e à sua comunidade acadêmica, preocupação e oposição a novos contingenciamentos nos recursos destinados à Ciência e Tecnologia”, aponta trecho da nota.
Só Notícias tentou contato com o pró-reitor da UFMT em Sinop, Roberto Beber. Ele não atendeu, nem retornou as ligações. O campus da instituição no município tem 3.340 estudantes de graduação, 52 de pós-graduação e 426 servidores.