A Secretaria de Estado de Educação (Seduc) propôs ao Conselho de Educação Escolar Indígena (CEEI) de Mato Grosso coordenar e integrar a comissão para discutir a implantação da Política de Educação Indígena para o Estado. A proposta partiu do secretário-adjunto de Políticas Educacionais da Seduc, Gilberto Fraga, durante reunião ordinária do CEEI, realizada em Cuiabá, nesta semana.
Os conselheiros formaram uma comissão para o desenvolvimento da Política de Educação Escolar Indígena. Eles terão a responsabilidade de articular a política com os demais setores do governo e com a sociedade. Conforme Fraga, a proposta foi bem aceita pela proposição de uma política diferenciada e diversificada para atender os povos indígenas.
“Nós assumimos a responsabilidade de elaborar a base da política de Educação Escolar Indígena. Durante essa semana preparamos os conselheiros, explicamos quais informações são necessárias para formar esse trabalho, quando eles nos trouxerem essas respostas vamos sistematizar e inserir nesse esqueleto para construir a política de Educação Escolar Indígena”, explica a professora Francisca Navantino, membro do CEEI e representante do povo Pareci.
Mato Grosso conta com 69 escolas indígenas e essa é a primeira vez que esses povos estão à frente do desenvolvimento dessa política. O presidente do CEEI, Filadelfo de Oliveira Neto, conta que outras gestões contrataram consultas para a elaboração da proposta, mas o que era apresentado não atendia as necessidades dos indígenas.
Filadelfo destaca que nessa gestão houve um entendimento que protagonismo na formatação do Ensino Escolar Indígena deve ser o povo indígena. “O aval do secretário permitiu que nós pudéssemos participar desse momento histórico da educação escolar indígena em Mato Grosso”.
O coordenador do Ensino Escolar Indígena, da Seduc, Félix Rondon Adugoenau, afirmou que o objetivo é que cada comunidade tenha um projeto pedagógico próprio. “Por exemplo, na parte diversificada do currículo escolar indígena trabalhar os componentes específicos como: os saberes e fazeres, valores e cosmologia (movimento constante processual e holístico)”.
A oportunidade de executar os ensinamentos culturais de cada povo junto ao ensino formal é objetivo comum dos educadores indígenas. “Os jovens como os meus filhos deixam de seguir a nossa cultura porque não existe política que atenda a educação tradicional indígena”, expõe o professor Xisto Xavante, da aldeia xavante em Barra do Garças.
O educador conta que em sua comunidade, na educação tradicional, “os meninos quando chegam a adolescência são retirados do convívio e enviados a uma casa onde passam quatro ou cinco anos. Essa tradição não é conciliada ao ensino e é aí que o problema reside. Nós acreditamos que o espírito de quem não participa dessas ações tradicionais enfraquece, esse jovem não terá um espírito guerreiro, será fraco”.
“A nossa cultura é transmitida pela oralidade, no Xingu os anciões gostam de passar os conhecimentos, enquanto fazem cestas no centro da aldeia e não em uma sala de aula na escola e precisamos pensar sobre isso também. De que forma vamos transmitir a nossa cultura” conta o presidente da Organização dos Profissionais da Educação Escolar Indígena de Mato Grosso, Mayawari Mehinako, do povo Mehinaku, daTerra Indígena Xingu.