As vendas no varejo devem sofrer desaceleração em 2009 devido às restrições e aos custos mais altos do crédito, afirmou hoje o economista Alexandre Andrade, no 2º Seminário Perspectivas do Crédito no Brasil, realizado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Segundo ele, isso deve ocorrer porque os setores que impulsionam as vendas no varejo estão associados ao crédito. Entre os itens, estão incluídos eletrodomésticos, automóveis e eletroeletrônicos.
“Nós prevemos não uma queda forte, mas uma redução do crescimento. Anteriormente, trabalhávamos com uma expansão de 6,5% de aumento das vendas no varejo e, atualmente, trabalhamos com uma perspectiva de expansão de 5,2%”, disse Andrade.
O economista destacou que as vendas de alimentos nos supermercados devem registrar ligeira queda, porque, embora dependam menos de crédito, estão relacionadas com a renda das pessoas.
Ele lembra que pode haver menos consumo, em função de possíveis aumentos com as prováveis altas do dólar. O setor, no entanto, não pára, já que alimento é produto essencial.
“O setor de alimentos tende a sofrer menos os efeitos do canal de crédito. Mas há o fator do câmbio que além de encarecer um pouco os preços e as matérias primas de bens duráveis também encarece um pouco os alimentos”.
Andrade estima que o dólar pare de subir, mas se acomode em um patamar mais alto do que o anterior, ficando em R$ 1,95 este ano e em R$ 1,90 em 2009.
Com relação ao crédito imobiliário, a economista Amaryllis Romano, avaliou que, em 2009, o Brasil manterá o cenário de crescimento do financiamento, porém com índices menores do que os registrados nos últimos quatro anos. “O setor teve piora nas expectativas de crescimento, mas ainda é um setor promissor a médio e longo prazos, devido ao déficit habitacional do país.”
Segundo Amaryllis, a restrição ao crédito pode comprometer o lançamento de novos empreendimentos e até mesmo os empreendimentos já lançados. Como conseqüência, isso poderá gerar desconfiança e incerteza para pretensos mutuários, que terão receio de se comprometer com uma dívida, já que temem o risco de queda da renda ou do nível de emprego. “A pessoa que se lança na compra de um imóvel está adquirindo um compromisso de 18 a 20 anos. Ela tem que olhar para frente e analisar as expectativas de renda e emprego para os próximos anos”, lembrou a economista.
Para o economista Nathan Blanche, a crise financeira é resultado da globalização e o crescimento da economia deve ser menor no ano que vem, com restrição de oferta de crédito mundial. “Não espere para 2009 o que aconteceu em 2007 e em 2008. E, com certeza, o preço do dinheiro vai ser mais alto.”
Ele destacou que o Brasil vive um ajuste do momento de crise global e que a falta de capital de externo e da geração de crédito, internamente, depende do nível de confiança na atividade do país. “O momento é muito difícil de ser analisado, mas quando analisamos com cabeça fria vemos que nosso cenário não é tão pessimista.”
O economista considerou positiva a fusão entre Unibanco e Itaú e disse que a operação mostra a solidez do mercado financeiro brasileiro. Nos Estados Unidos, lembrou, as fusões e aquisições ocorrem quando os bancos estão em más condições e com problemas sérios de liquidez.