Um eventual repasse ao varejo da alta de preços no atacado de alimentos e matérias-primas, como metais, químicos e petróleo, não deverá puxar para cima a inflação. A opinião é do diretor-executivo do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), Emerson Kapaz.
“Os últimos dados estão demonstrando que o varejo está diminuindo a margem, às vezes até diminuindo a capacidade de geração de lucro, para não perder vendas”, disse hoje.
Segundo Kapaz, o varejo já não pratica mais o repasse automático para o preço dos produtos reajustado no atacado. Os empresários, argumentou, fazem antes uma avaliação mais criteriosa em função da existência de uma competição mais acirrada. “Inclusive de fora do Brasil”, afirmou.
Ele ressaltou que a concorrência faz com que os preços sejam sempre conferidos e controlados pelos valores movimentados na importação, com o dólar bem abaixo do real, que continua sobrevalorizado. “O que você tem de fato é uma competição internacional muito forte e isso faz com que os preços fiquem mais equilibrados”, afirmou Kapaz.
Segundo o diretor-executivo do IDV, dificilmente haverá inflação causada pelo varejo. “Mesmo que o consumo esteja respondendo bem, a competição é muito forte. Ela [a concorrência] é que vai segurar [a inflação]”.
Kapaz atribuiu o aumento de arrecadação do governo federal, registrado em abril, a um maior faturamento das empresas “e até da própria lucratividade”. Ele acrescentou que o custo vem aumentando pontualmente, em alguns segmentos. “Ele [o aumento do custo] está muito forte em alimentos. Alguma coisa aconteceu em combustíveis, mas não é generalizado. Em alguns setores, inclusive, você tem diminuição de custos por causa do aumento do faturamento”, ressaltou.
Como exemplo, ele citou o caso da venda de automóveis no varejo, que está batendo recordes sucessivos, sem que se verifique aumento de preço.
Kapaz discorda, entretanto, da solução adotada pelo Banco Central de aumentar os juros para controlar a inflação. Ele se mostrou preocupado ante a possibilidade de um novo aumento da taxa básica de juros pelo Comitê de Política Monetária do BC (Copom) na próxima reunião, prevista para junho.
“O Banco Central já fez um aumento preventivo de 0,5 ponto percentual [na última reunião, em abril]. Eu não acredito que agora um outro aumento muito forte de juros vá resolver, porque juro também é custo”, observou. Para ele, aumentar os juros para o varejo significa elevar o custo do financiamento, com a possibilidade de inibir o consumo e aumentar a inadimplência.
Por isso, o diretor do IDV recomendou “cuidado na dosagem do aumento dos juros”. “Eu esperaria um pouco mais porque, efetivamente você tem o real valorizado, o dólar num nível que aumenta a competição internacional fortemente. Então, se subir o juro, vai entrar mais recurso para aplicar e vai baixar ainda mais o dólar. Por isso é que o governo está buscando outras alternativas, como a criação do fundo soberano, para evitar aumento do juros. Eu não acho que aumento de juros seja a solução”, opinou.