A usina termelétrica de Cuiabá está parada desde sábado por falta do gás natural que vem da Bolívia. Neste domingo, a diretoria comercial da Empresa Produtora de Energia (EPE), que controla a planta, disse que não há previsão do retorno do funcionamento. Desde a última sexta-feira, a YPFB, estatal boliviana de gás e petróleo, reduziu o despacho para 600 mil metros cúbicos diários, volume insuficiente para pôr as turbinas em atividade. O mínimo necessário seriam 700 mil metros cúbicos.
A explicação oficial do governo boliviano são os problemas operacionais nos compressores de uma estação do gasoduto na região de Rio Grande, na Bolívia. Os equipamentos teriam apresentado problemas na sexta-feira, o que fez cair pela metade o envio do gás. Até a semana passada, o despacho diário era de 1,1 milhão. Segundo o diretor comercial e de assuntos regulatórios da usina, Fábio Garcia, os 600 mil metros cúbicos não são suficientes nem mesmo para operar em carga mínima, de 135 MegaWatts (MW).
– Para a usina voltar a operar, nós precisamos garantir que exista um funcionamento contínuo e uma operação segura da térmica. Para isso, necessitamos de uma garantia de volume de fornecimento – disse Garcia na tarde deste domingo.
Em 20 de abril, o despacho de gás já havia sido interrompido durante um dia, afetando principalmente a usina de Cuiabá. Por causa da reserva nos dutos e do curto período de corte, a termelétrica não precisou desligar as turbinas.
A redução drástica do fornecimento ocorre em um momento em que a usina negocia um novo contrato com a YPFB, após o aumento no preço do produto acertado durante a visita do presidente Evo Morales ao Brasil, em fevereiro. O preço do milhão de BTU (unidade térmica britânica) passou de US$ 1,19 para US$ 4,20. No mesmo documento que informou sobre a redução do envio, a YPFB acrescentou ainda a possibilidade de novas reduções ou até mesmo a interrupção total no fornecimento.
– Temos neste momento um ambiente de muita incerteza. E este ambiente não nos dá a possibilidade de prever a volta da operação – disse Garcia.
Segundo Garcia, o problema surge na mesma semana em que o Operador Nacional do Sistema (ONS) passou a solicitar da empresa que operasse em carga máxima, de 480 MW, o que demandaria 2,2 milhões de metros cúbicos de gás por dia.
– Temos uma demanda de 2,2 milhões de metros cúbicos, mas estamos recebendo apenas 600 mil – comparou.
A paralisação da usina reduz a confiabilidade do sistema elétrico de Mato Grosso. Segundo especialistas em energia, a termelétrica de Cuiabá faz um papel importante de estabilidade de carga dentro do Estado. O risco de corte no fornecimento para o consumidor não está descartado. Vai depender da demanda de energia e da operação de linhas de transmissões e de transformadores.
– Se houver perda de circuitos dentro do Estado, e com a termelétrica paralisada, pode haver corte seletivo de fornecimento – disse Garcia.
A usina produz o equivalente a 70% do que Mato Grosso consome. O corte de energia residencial só não foi imediato porque o sistema energético do país compensa a lacuna deixada pela termelétrica.
Apesar de não admitir, a usina teme que a interrupção no envio do gás possa ser uma estratégia do governo boliviano, com quem tem tido uma negociação tensa para a assinatura do novo contrato. Um dos pontos mais polêmicos da negociação é a insistência do governo boliviano em não garantir um despacho mínimo.
– Queremos um tratamento isonômico entre todos os mercados de exportação. Se existir problemas operacionais, queremos que os cortes sejam iguais para todos – afirmou Garcia.
A redução na remessa pode significar que os bolivianos voltaram a priorizar os contratos com a Argentina e a Petrobras, que têm demandas maiores.