Pela segunda vez neste ano o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) corrige a taxa básica de juros para cima, elevando-a de 11,75% para 12,25% ao ano, em decisão unânime e sem viés. A justificativa, de acordo com o colegiado de diretores do BC, é a necessidade de conter o aumento do consumo interno e segurar a inflação o mais próximo possível do centro da meta de 4,5% ao ano.
Por enquanto, os analistas de mercado consultados semanalmente pelo BC, no Boletim Focus, estimam Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao redor de 5,5% ao ano.
Eles foram surpreeendidos, porém, com o anúncio hoje (4) de que a inflação de maio, na capital paulista, foi de 1,23%, nos cálculos da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe). Ficou acima, portanto, das apostas dos consultores econômicos, que esperavam Índice de Preços ao Consumidor (IPC) superior aos 0,54% de abril; mas não tanto. O aumento foi puxado principalmente pelos preços dos alimentos.
Na verdade, “o mercado já havia precificado o aumento da taxa Selic”, de acordo com o professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli. Ele considera inútil, inclusive, a elevação da taxa básica de juros, em virtude de os aumentos de preços verificados até agora serem “predominantemente decorrentes do que se poderia caracterizar como choques de oferta”.
Segundo Piscitelli, o Copom pode aumentar quanto queira a taxa de juros, e nem por isso os fornecedores de trigo vão baixar as cotações internacionais; da mesma forma nossos exportadores de commodities (produtos com cotação internacional: agrícolas, minérios e petróleo) também continuarão alinhados aos preços externos, “em relação aos quais nossa capacidade de influência é residual”. Exemplo disso, diz ele, é o que acontece na Argentina, onde a presidente Cristina Kirshner trava dura queda-de-braço com os produtores agrícolas.
Piscitelli salienta, ainda, que “o aumento nas previsões de inflação não nos deixou fora da meta e, sim, acima do centro da meta. Aliás, se o desvio desse alvo provoca tanta celeuma, não sei por que estabelecem margens de tolerância de 2% para cima ou para baixo”. O professor acrescenta também que o câmbio está a favor do Brasil e que “as estimativas de safra são mais do que satisfatórias”, não havendo razões para o aumento da taxa Selic.
Ele lembra ainda que os setores da indústria que mais crescem são os de bens de capital (máquinas e utensílios para modernização do parque fabril), e isso significa, no seu entender, que “os empresários estão levando fé na continuidade do crescimento”. Por isso é que aumentam ou repõem a capacidade de produção de suas atividades, afirma. Dessa maneira, “é pouco provável que se criem novos gargalos”, além dos já conhecidos nas áreas de infra-estrutura, acrescenta.
Nas circunstâncias atuais, ele acredita que um aumento de juros – com expectativa de continuidade do processo de “ajuste” – pode até reforçar tendências altistas em certos setores, aumentar custos de produção e provocar retração nos investimentos (com menos influência sobre o consumo, que continua “ajustando-se” mediante alargamento de prazos). “É curioso”, diz Piscitelli, “pois com o grau de investimento, as percepções de risco deveriam ser mais diluídas e os custos de captação reduzidos”.
O professor ressalta que o aumento dos juros favorece, isto sim, o aumento do spread bancário (diferença entre o que o banco paga ao depositante e o que cobra na concessão de empréstimo) e estimula a captação de mais capitais especulativos, provenientes do exterior, uma vez que aumentam os diferenciais entre as taxas internas e externas de juros.
Na sua concepção, isso fará o dólar “derreter” ainda mais, com prejuízos para as nossas balanças comercial, de serviços e de pagamentos em geral; e a dívida pública mobiliária federal interna continuará a subir, com encargos crescentes de juros, em virtude do maior comprometimento de receitas orçamentárias.