O setor produtivo e o governo estadual divergem sobre as conseqüências para Mato Grosso da crise financeira que atinge os Estados Unidos, principalmente no que se refere à oferta de crédito. O economista Paulo Rabelo de Castro disse que a crise dos Estados Unidos já está afetando Mato Grosso porque a economia local está sentindo os reflexos nos preços das commodities, que já estão sofrendo queda. Destaca também a variação cambial, em decorrência da alta do dólar, que já superou a casa dos R$ 1,90. “Isso fatalmente implica no preço de todos os produtos importados, cujos importadores já estavam se acostumando a raciocinar com valores baixos”, afirmou, para A Gazeta ao afirmar que o reflexo, no final das contas, será o aumento da inflação.
Para ele, sob a ótica dos produtores rurais, a elevação do dólar rente ao real é positiva, pois é uma oportunidade para se recuperar os preços das commodities que estavam desvalorizadas com o dólar cotado a R$ 1,60 e até mesmo abaixo deste valor. Por outro lado, os custos da produção também aumentam, já que são produtos importados e comprados a preços em dólar.
O secretário de Indústria, Comércio, Minas e Energia, Pedro Nadaf, afirma que a crise não afeta diretamente o Estado, ao contrário, até favorece se a análise for sob a perspectiva do aumento do dólar, que tende a gerar reflexos positivos na comercialização de produtos exportáveis. Com relação à oferta de crédito, bastante temida pelo setor produtivo local, o secretário considera que não há com que se preocupar. Ele explica que as tradings cumprem uma legislação internacional específica garantida pelos governos federais para a concessão de crédito. “Existe a garantia de oferta de crédito por parte dos bancos, mas se ele tiver dificuldade pode não conceder na mesma proporção de outros períodos” declarou, para a repórter Fabiana Reis, de A Gazeta.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado lembra que este ano os produtores já estão enfrentando restrições, decorrentes principalmente do endividamento e de problemas ambientais, com a instituição de decretos que proíbem a atividade agrícola em áreas do Bioma Amazônico e para os não possuem autorização dos órgãos ambientais para a prática. “O crédito já está escasso. As tradings reduziram a oferta de dinheiro e os bancos do governo também. A situação está desfavorável e gerando preocupações sobre o futuro do Estado”.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira da Silva avalia que a tensão maior está no fato de a crise estar só começando, podendo refletir ainda mais negativamente na economia estadual. “A situação é preocupante”.