O salário médio inicial do mato-grossense é de R$ 1,101 mil. A média sobe para R$ 1,170 mil se a folha de pagamento for apenas masculina. Criado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o “Salariômetro” aponta que para as mulheres, o valor nem chega a mil reais (R$ 935). A ferramenta calcula o salário médio dos admitidos nos últimos 6 meses para cada uma das ocupações existentes na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Além do gênero, o Salariômetro permite ainda traçar um perfil salarial dos contratados segundo a cor, a escolaridade e a faixa etária.
A base de dados utilizada é o Cadastro de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Através da ferramenta disponível na página salários.org.br é possível saber que em Mato Grosso, o melhor salário médio é pago à pessoa “branca” (R$ 1,193 mil) e o pior ao índio (R$ 975). Uma pessoa negra recebe em média R$ 1,042 mil. Se ela for uma mulher e estudou até a 4ª série, a média cai para R$ 831. Mas se ela tiver ensino superior, a renda média chega a R$ 1,318 mil, menos do que recebe uma mulher “branca” (R$ 1,780 mil) com o mesmo grau de instrução.
Estas informações são importantes para que os mercados funcionem melhor, na análise do coordenador do projeto salários.org.br, o professor doutor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Hélio Zylberstajn. “Quanto mais informações o mercado tiver, melhor irá funcionar, principalmente se for acessível para os 2 lados. Para a pessoa que está procurando emprego, para a empresa que está contratando saber quanto o mercado está pagando, para o negociador (sindicatos) saber como está o mercado. O site é acessível a qualquer um”, frisa o pesquisador.
Através da página é possível saber, por exemplo, que em Mato Grosso, o dentista tem o pior salário inicial médio do Centro-Oeste (R$ 2,403 mil) e o 5º mais baixo do país. Para se ter uma ideia, em Mato Grosso do Sul, o valor chega a R$ 6,054 mil. Em contrapartida, um vendedor de pipoca mato-grossense recebe em média R$ 1,063 mil por mês, a 2ª melhor renda do país para a atividade. Só o Paraná supera o Estado com a média de salário de R$ 1,147 mil para pipoqueiro. Ganha, mas tem que trabalhar muito, diz dona Lourdes de Lima, vendedora de pipoca há 35 anos. Assumiu a função sozinha há 6 anos, quando o marido faleceu. Ela conta que antigamente a venda era melhor porque tinha menos concorrência.
“Pipoca é assim. Duas semanas você vende bem e duas semanas você vai na praça para cumprir o dever. O pessoal fica sem dinheiro no fim do mês. Igual acontece com o comércio. Este ano não está bom. Acho que foi a Copa. Sumiu o dinheiro”. Aos 60 anos, Lourdes revela que os problemas de saúde impedem que ela procure um trabalho fixo. Como autônoma pode fazer seus horários, mas ela depende de si mesma para conseguir alcançar um bom salário.
Ferramentas – a página salários.org.br oferece 3 grupos de informações. Além do Salariômetro (pesquisa de salários iniciais), o acompanhamento da negociação coletiva e a Folha de Salários do Brasil. O coordenador do projeto revela que o Salariômetro já existe há alguns anos. Fazia parte de um projeto que tinha a parceria da Secretaria de Emprego de São Paulo, mas quando o contrato terminou não foi renovado. “Eu já estava querendo, há muito tempo, ter uma página com informações diferentes do mercado de trabalho e a primeira coisa era acompanhar a negociação coletiva. Ia criá-la e resolvi acrescentar o Salariômetro”.
Zylberstajn idealizou o projeto de acompanhamento da negociação coletiva há 15 anos. Solicitava aos sindicatos e empresas informações sobre os acordos e enviava questionários para que respondessem. Era difícil manter as contribuições e a quantidade de respostas recebida era pequena. Há 2 anos, o pesquisador decidiu retomar a ideia, usando uma estratégia diferente, acessando os dados depositados na página do MTE chamada “Medidor”. “Antigamente, as empresas e os sindicatos tinham que depositar fisicamente os acordos e convenções nas Superintendências Regionais do Trabalho. Desde 2007, o depósito ficou virtual. É enviado para a página o texto do acordo. Está lá desde 2007, é só difícil de usar”.
Para compilar as informações e saber o aumento real de Mato Grosso e dos demais estados brasileiros, o coordenador explica que a equipe acessou todos os acordos e pesquisou um a um. Essa rotina é diária.
Foram mais de 270 mil documentos. A Fipe classifica os instrumentos de negociação coletiva segundo 80 ramos, como indústria de alimentos e comércio atacadista e varejista. Os arquivos são baixados no Word e lançados num programa, desenvolvido ao longo de 2 anos, período em que passou por correções e melhorias. As informações são inseridas no software, que faz os cálculos e apresenta um índice que é verificado pelos pesquisadores. O programa entrou em operação plenamente em 12 de novembro deste ano, quando o site passou a disponibilizar as 3 ferramentas.
Por último, a evolução da folha de salários é feita por meio das informações sobre o recolhimento do FGTS, disponibilizadas pela Caixa Econômica Federal. O banco informa o valor arrecadado mensalmente no Fundo e com esse dado, a Fipe reconstitui o volume de salários pagos aos trabalhadores. O valor do depósito equivale a 8% dos respectivos salários. A Fipe divide o volume depositado por 0,08 e obtém diretamente o valor da folha mensal de pagamento dos trabalhadores regidos pela CLT. A “Folha de Salários do Brasil” é atualizada mensalmente. “Está mostrando que nos últimos 12 anos, a folha de salário formal no Brasil se multiplicou duas vezes e meia, sem contar a inflação”, analisa o pesquisador.
Hoje, o projeto Salários.org.br é patrocinado pela Souza Cruz. Segundo o coordenador, a intenção é com o tempo, sentir a demanda e o interesse, criar desagregações para vender assinaturas anuais que possam sustentar o projeto.
Extra – a ferramenta da Fipe disponibiliza, além do valor médio, a mediana do piso e do reajuste salarial. Conforme Zylberstajn, a mediana é o “maior reajuste”, a partir da metade dos menores reajustes. Ou seja, dentre os menores reajustes é retirado o maior índice como mediano. O pesquisador explica que numa boa medição, a média e a mediana são iguais ou muito parecidas. Quando são diferentes demonstra que alguns valores estão puxando a média para cima ou para baixo. Por exemplo, um salário está muito alto ou baixo. “Indica a qualidade da amostra. Além do reajuste salarial, a gente informa se foi escalonado ou pago de uma vez. Se houve um teto para aplicar o reajuste. Essa parte do site oferece também uma análise de PLR (Participação nos Lucros e Resultados)”.