O aumento no nível de endividamento, crédito restrito e encarecimento dos veículos zero km são alguns dos fatores que contribuíram para a freada nas vendas do setor automobilístico em 2014. O ano avança para o seu término sem registrar a esperada recuperação pelo segmento no varejo, inclusive em Mato Grosso, que costumeiramente apresenta desempenho positivo e acima da média nacional na comercialização de veículos. No Estado, o volume financiado entre os meses de janeiro a setembro deste ano acumula 106,450 mil unidades e retração de 1,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Deste total, cerca de 83% foram financiados por meio de operações de Crédito Direto ao Consumidor (CDC).
Mas, diferentemente dos resultados alcançados com os financiamentos via CDC, a aquisição de veículos por meio de consórcios apresentou crescimento em Mato Grosso. Durante os 9 primeiros meses de 2014 foram adquiridos 24,986 mil automóveis, caminhonetes, motocicletas e caminhões em operações de consórcio no Estado. A quantidade evidencia acréscimo de 4,83% sobre os 23,833 mil veículos consorciados no mesmo intervalo do ano passado, segundo levantamento realizado pela companhia de capital aberto Cetip, que opera como integradora do mercado financeiro. Os consórcios de automóveis e caminhonetes foram a opção mais procurada pelos consumidores mato-grossenses que decidiram por essa modalidade de financiamento. Com 8,873 mil unidades consorciadas entre janeiro a setembro deste ano, os autos leves garantiram aumento de 18,35% nas vendas sobre igual intervalo de 2013.
Também houve crescimento nos consórcios de veículos pesados, com 866 unidades contabilizadas nos 9 primeiros meses deste ano, avanço de 10,6% sobre as vendas acumuladas em igual período de 2013, quando somaram 783 unidades. As motocicletas continuam liderando a preferência dos consumidores adeptos dos consórcios em Mato Grosso, mas acumularam retração de 1,96% nos financiamentos realizados por essa modalidade em 2014, quando foram adquiridas 15,247 mil unidades. Em 2013, de janeiro a setembro, foram negociadas 15,553 mil motocicletas no Estado por meio de consórcios. “Em Mato Grosso, apesar da queda, observamos que o consórcio de motocicleta é muito interessante”, opina o gerente de Relações Institucionais da Cetip, Marcus Lavorato.
Ele esclarece que a base de dados da Cetip inclui todas as operações de consórcios que estão sendo pagos. “No panorama geral, o que observamos é que o baixo nível de confiança do consumidor e a economia estagnada, além da inclusão de alguns itens obrigatórios nos veículos novos, acabaram refletindo nas vendas do carro zero, mas permitiu a retomada da procura pelo (veículo) usado”. De acordo com ele, a dinâmica diferente dos financiamentos via consórcios possibilita ao consumidor “contemplado” decidir pela compra de um veículo zero ou seminovo. “Após quitar o consórcio, a carta de crédito pode ser utilizada tanto para compra do veículo novo quanto usado”.
Para a secretária-executiva Mariana Rinaldi, 32, manter um consórcio é uma opção de investimento. “Optei pelos consórcios há algum tempo e este ano estou pagando o 3º”. Ela conta que o 1º veículo adquirido foi por meio de consórcio. “Penso o seguinte: é bom pagar sem ter pressa de retirar o veículo, porque ainda que você não tenha uma renda alta pode ir mantendo as parcelas pagas para efetuar um lance quando receber um valor maior”. Nos consórcios contratados anteriormente, a secretária foi sorteada logo no início do pagamento das parcelas.“Mas, não retirei o bem e preferi continuar pagando para acumular um valor maior”.
Novos e seminovos – Na separação entre os consórcios de veículos novos e usados contratados nos 9 primeiros meses de 2014 constatou-se uma queda de 0,29% nos consórcios de veículos zero km, em relação a igual período de 2013. Já os consórcios de veículos usados cresceu 22,31% pela mesma base comparativa, conforme dados da Cetip. No segmento de veículos novos, o total de financiamentos pela modalidade de consórcios, acumulado de janeiro a setembro deste ano chegou a 18,371 mil unidades.
Em 2013, foram 18,425 mil veículos. Apesar da elevação de 4,34% nos consórcios de autos leves e de 8,33% nos consórcios de veículos pesados, os financiamentos de motocicletas reduziram 1,53% e impactaram o resultado total do segmento.
Em oposição ao desempenho negativo das vendas consorciadas de veículos zero km, a procura por financiamentos do tipo consórcio de veículos usados saltou de 5,408 mil entre os meses de janeiro a setembro de 2013, para 6,615 mil no mesmo período de 2014. Contribuíram para esse avanço as vendas de autos leves, que subiram de 3,977 mil em 2013 para 5,2 mil neste ano, incremento de 30,75%. Também aumentaram as vendas de veículos pesados pela mesma base comparativa, ao passar de 555 unidades em 2013 para 619 este ano. Os consórcios de motocicletas usadas ficou restrito a 796 unidades em 2014, num recuo de 9,13% em relação a 2013, quando foram negociadas 876 por meio de consórcio.
Supervisora de consórcios de motocicletas em Cuiabá, Marialva Campos afirma que na loja onde trabalha a entrega de motos aumentou 80% no mês passado, em comparação com a média do último trimestre. “Para nós, as vendas melhoraram a partir de julho e acho que isso pode ser explicado pela necessidade de economizar mais, de se deslocar melhor no trânsito e também pelo valor acessível das parcelas do consórcio”. Entre janeiro e setembro deste ano, a revenda de motocicletas acumula alta de 17% nas vendas de consórcios,comparativamente com igual período de 2013. “Para 2015 esperamos manter o crescimento, porque tem vários modelos novos chegando”.
Para o vendedor de uma concessionária na Capital, Reginaldo José de Almeida, o mercado continua consumidor em 2014, mas não no mesmo patamar de 2013. “O endividamento desacelerou as vendas, mas em relação ao consórcio a vantagem é que mesmo negativado o cliente pode contratar”, relata. “Porém, se ele for contemplado e ainda restar parcelas a pagar, só poderá retirar o veículo se estiver com o nome limpo ou conseguir um avalista”. De acordo com ele, outro ponto que torna o consórcio de veículo atrativo é a taxa de juros praticada. “Num plano de até 60 meses, o cliente irá pagar 12% no total do plano”, exemplifica. “Já no CDC, a taxa é de 1% ao mês”.