O presidente da Comissão Nacional da Pecuária de Leite da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Ronaldo Sant"ana Alvim, negou hoje (11) que os produtores de leite sejam os responsáveis pela alta do preço do produto dos últimos meses, que chegou a superar os R$ 3 em alguns estados. Ao participar de audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara, ele disse que o preço pago aos produtores corresponde apenas a cerca entre 1,9% e 2,2% do valor repassado aos consumidores.
“Quando ocorre os picos nos preços do leite longa vida na gôndula do supermercado, os produtores nunca participam disso. A relação que existe normal de preço da indústria, vendendo para o varejo em relação ao que o produtor, é remunerado entre 1,9% a 2,2%”, afirmou o representante da CNA aos deputados. “Ou seja, o preço que a indústria está vendendo para o atacado é em torno de duas vezes mais do que o valor pago pela matéria-prima ao produtor”, acrescentou.
Para Alvim, a culpa pela alta do preço do leite é da indústria de processamento, do monopólio da fabricação das embalagens de leite longa vida e também dos supermercados. “É preciso que a sociedade brasileira compreenda que produtor de leite, neste país, não é formador de preço, ele é tomador de preço. Formam o preço e o que sobra dão para ele. Essa é a realidade e a relação conflituosa que exite dentro da cadeia [produtiva]”.
Ele também criticou o governo, que teria autorizado a importação de leite de países do Mercosul, como Uruguai e Argentina, a preços abaixo dos vigentes no mercado. Para ele, é preciso que os produtores estejam unidos em cooperativas, como ocorre em outros países do mundo, para acabar com essa distorção.
“Os produtores têm que entender que no mundo inteiro a agropecuária é cooperativada e mais ainda o leite”, argumentou. “Se olharmos para o país mais eficiente do mundo, que detém mais de 35% da fatia do mercado mundial, que é a Nova Zelândia, 100% do leite naquele país é [captado] em cooperativas e cooperativas grandes, com escala.”
Segundo o presidente da Comissão Nacional da Pecuária de Leite da CNA, na Nova Zelândia, apenas uma cooperativa capta 95% da produção de leite. Ele citou também o exemplo dos Estados Unidos, onde uma cooperativa capta 23 bilhões de litros por ano, o que corresponde a quase toda a produção brasileira.
“Não pode ter indústria? Claro que pode haver, comprando leite, matéria-prima, e os produtores organizados. Temos que entender que na pecuária leiteira uma andorinha não faz verão e catitu fora da manada é comida de onça”, comparou.
Alvim afirmou também que resistência dos produtores de leite no país em se organizar em cooperativas ocorre devido a experiências fracassadas. Mas, para ele, o fracasso no passado não foi reflexo do modelo e sim das pessoas que estiveram à frente das cooperativas. “Não fomos bem-sucedidos nas cooperativas que tivemos, que chegaram a captar 60% do leite do país por uma questão de gestão. Temos que profissionalizar a gestão das nossas cooperativas”, sugeriu.