A safra 2008/2009 de soja está praticamente travada em Mato Grosso. Os preços dos fertilizantes não param de subir e as restrições ao crédito, sejam de origem financeira ou ambiental, provocam incertezas sem precedentes sobre o plantio da cultura no Estado, que é o maior produtor da oleaginosa no país.
Diante desse cenário, a diretoria da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), após reunião ocorrida esta semana, alerta os produtores a realizarem as contas na ponta do lápis para decidir o nível de tecnologia a ser feito este ano.
O custo operacional para a safra 2008/2009 de soja em Mato Grosso já alcançou R$ 7,6 bilhões no mês de abril e representa 38% a mais que os R$ 5,5 bilhões registrados na safra 2007/2008. E as previsões são de que os gastos aumentem nos próximos meses, com a insistência das altas nos preços dos fertilizantes, que chegam a responder por 48% dos gastos deste ano ante os 38% verificados no ano passado.
“Pelo menos metade dos fertilizantes necessários para esta safra ainda não foram comprados pelos produtores e mesmo a quantidade adquirida gera incerteza. Não sabemos se os fornecedores irão segurar a entrega para tentar elevar o preço do volume”, afirma o diretor executivo da Aprosoja/MT, Ricardo Tomczyk.
Para a safra 2008/2009 em Mato Grosso o custo médio do fertilizante por hectare já está em R$ 630 contra R$ 363 na safra 2007/2008. O custo operacional para a safra deste ano chegou a R$ 1.334,00 e no ano passado fechou em R$ 961. O custo operacional não inclui, por exemplo, as depreciações dos preços de máquinas, de terras e dívidas.
Os consecutivos aumentos nos preços dos fertilizantes provocaram um efeito dominó imediato sobre os índices inflacionários. A segunda prévia do IGP-M de abril fechou em 1,54, quatro vezes mais que o 0,37% verificados na segunda prévia de abril pressionado pelo aumento dos preços dos produtos no atacado (puxado pela soja que, por sua vez, teve a pressão dos fertilizantes, segundo divulgou a Fundação Getúlio Vargas na terça-feira.
Nesta quarta-feira, a Secretaria de Política Agrícola (SPE) do Ministério da Fazenda admitiu que a inflação medida pelo IPCA poderá sair do centro da meta, de 4,5%, e sinalizou que o novo índice oficial a ser perseguido pelo governo seja de 5%.
Além da questão do preço dos fertilizantes, existem as restrições de crédito por parte das empresas fornecedoras de insumos e pela determinação do Conselho Monetário Nacional (CMN) de impor restrição de financiamento aos empresários que não dispõem de Licença Ambiental Única (LAU) para realizar a atividade produtora nos 86 municípios embargados pelo Ministério do Meio Ambiente.
“A situação é tão delicada que mesmo os poucos produtores que ainda têm capacidade de endividamento não estão conseguindo obter crédito junto às empresas fornecedoras, que são as grandes financiadoras da safra”, afirma o presidente da Aprosoja/MT, Glauber Silveira.
Segundo levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea/Aprosoja-MT), cerca de 82% dos empréstimos captados pelos sojicultores na safra 07/08 foram provenientes de fontes privadas de financiamento, o que inclui as tradings e as instituições financeiras não oficiais.
O diretor administrativo da Aprosoja, Ricardo Tomczyk, avalia que as restrições de crédito estão ocorrendo porque as próprias empresas estão sendo atingidas pela volatilidade do mercado e também estarem com dificuldade em captar recursos para refinanciar aos produtores.
Existe ainda o impedimento aos produtores inadimplentes. A Medida Provisória (MP) contendo as regras para a renegociação das dívidas agrícolas, prevista para ser publicada nesta quarta-feira (21.05) foi adiada mais uma vez, agora com previsão para a semana que vem. “A nova data passou a ser a próxima terça-feira (27.05) e a cada dia que passa fica mais difícil a viabilidade da safra deste ano”, pontua o diretor administrativo da Aprosoja, Ricardo Tomczyk.
Os sojicultores inadimplentes continuam tendo os nomes incluídos nos serviços de proteção ao crédito e sendo cobrados judicialmente pelos credores e alguns bancos não estão prorrogando para 1 de outubro as parcelas de empréstimos de custeio e investimentos vencidas e vincendas este ano.
O adiamento foi aprovado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no dia 24 de abril e deixou de fora os meses de janeiro, fevereiro e março. Em Mato Grosso, a maior parte das parcelas venceu no primeiro trimestre deste ano e a resolução n. 3.563, do CMN, adiou o pagamento das parcelas vencidas e vincendas somente de 1 de abril a 30 de setembro. “A inclusão dos três primeiros meses trata-se de uma medida emergencial de crédito para a sojicultura mato-grossense”.