Começar o Ano Novo com as contas no azul não é tarefa simples. Para que isso ocorra são necessárias verdadeiras acrobacias orçamentárias para equilibrar as despesas e a receita. Tira-se um pouco daqui, coloca-se mais ali, no intuito de pôr as contas em ordem. Mas, uma das orientações mais importantes é não gastar dinheiro com produtos desnecessários, como aqueles comprados simplesmente porque a pessoa não resiste a uma promoção. Com um pouco de disciplina e algumas dicas de especialistas no assunto, é possível fazer um bom planejamento e começar o ano sem ter de correr atrás do prejuízo. Pode ser um pouco cedo, pois ainda faltam quase dois meses para acabar 2009. Porém, falar sobre o orçamento doméstico com antecedência é fundamental. Isso porque as finanças de boa parte das famílias brasileiras começam o ano desequilibradas, tendendo para a inadimplência. Isso ocorre porque as pessoas são seduzidas pelas festas de fim de ano, estão animadas com o pagamento do 13º e até 14º salário, recebem um percentual referente à participação dos lucros da empresa e até mesmo o adicional de férias.
Com tanta possibilidade de ganho, acabam extrapolando nos gastos, na troca de presentes, e quando chega janeiro, as contas estão no vermelho, e o pior, com várias contas a pagar, como o Imposto sobre Predial e Territorial Urbano (IPTU), matrícula e material escolar, além das despesas fixas como contas de água, luz, telefone, plano de saúde, alimentação, transporte, entre outros, que abocanham parte do salário mensalmente. Como se percebe, ter uma visão de futuro e planejar-se de forma antecipada reduz os riscos de falta de dinheiro nos primeiros meses do ano que vem.
Perfis diferentes – O economista José Manuel Marta lembra que podem haver dois perfis diferentes neste fim de ano: de pessoas endividadas e as sem dívidas pendentes. Na opinião dele, mesmo que hajam débitos é possível a pessoa fazer um planejamento no intuito de equilibrar as contas e ainda festejar a passagem do ano. Marta conta que para os endividados, a principal orientação é a quitação do débito, priorizando as contas de maior valor e as que têm os juros mais alto, a exemplo de cartão de crédito e cheque especial. Ele diz que para manter uma vida financeira saudável é imprescindível a participação de toda da família.
"A prioridade para pessoas endividadas é se livrar das contas. E qualquer indivíduo, por mais leigo que seja em economia, sabe elencar as prioridades dentro do contexto familiar e colocar as coisas em ordem". O economista complementa ainda que não existe uma receita de bolo, e que cada caso é único. Diante dessa afirmação, ele diz que a dica é não gastar além do que se ganha, para não perder controle da situação. Colocar as contas na ponta do lápis, todos os meses, é um dos procedimentos de devem ser adotados e serve como um pontapé para o equilíbrio do orçamento doméstico.
Onde investir – Para ilustrar a preocupação com o que fazer com o dinheiro neste fim de ano, uma enquete realizada esta semana com internautas do site Gazeta Digital, questionou o que as pessoas iriam fazer com o 13º salário. Para surpresa (ou não), 71,3% dos participantes (295 pessoas) disseram que vão pagar dívidas. Outros 17,3% (71 internautas) informaram que vão investir e apenas 11,3%, o equivalente a 46 respostas, vão fazer compras. Isso demonstra que a primeira preocupação dos mato-grossenses é acertar os débitos e que outra parcela dos participantes da enquete pretende investir, no intuito de fazer o dinheiro render. A minoria vai gastar em presentes.
E como resistir a tanta tentação? Seria até fácil se as pessoas tapassem os olhos e não vissem a quantidade de promoções e campanhas natalinas realizadas pelo comércio. A Câmara de Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL), por exemplo, lança no dia 14 deste mês a campanha Natal Premiado, que vai premiar consumidores com carros zero km e com vales-compras no valor de R$ 100, tudo atrelado a compras a partir de R$ 30. O intuito é, justamente, atrair o consumidor para as compras e quem não tiver força de vontade e jogo de cintura, acabará comprando mais do que precisa e entrar o ano "no sufoco".
Recentemente o Banco Central do Brasil divulgou números sobre os juros no país. Conforme o balanço divulgado pelo agente financeiro, a taxa de juros para Pessoa Física chegou a 43,6% ao ano em setembro, o menor percentual desde 2004. O número é ainda 0,5% a menos que o registrado em agosto. A taxa anual para o financiamento de veículos reduziu de 26,2% para 24,9%, e para os eletrodomésticos e eletrônicos baixou de 54,4% para 51,4% a.a. A notícia pode ser boa, mas na análise do economista Aurelino Levy Dias de Campos, os consumidores devem resistir à tentação. Para ele, o melhor a fazer, independentemente se a pessoa está endividada ou não, é poupar e comprar o bem à vista.
Dicas importantes – Determinação. Esta é a palavra-chave para manter as contas sob controle. E para quem não quer mesmo entrar o ano com contas a pagar, o consultor financeiro e organizacional, Saulo Gouveia, ensina que o ideal é a pessoa não gastar o dinheiro extra com produtos, ainda mais se a aquisição não gerar ganho posteriormente. Ele é enfático ao dizer que de tudo o que a pessoa receber neste fim de ano, um terço deve ser direcionado aos gastos com os festejos natalinos; outro um terço direcionado às contas que "aparecem" no início do ano como IPTU e despesas escolares, e o restante deve ser aplicado. "São várias as opções de investimentos. Se a pessoa está devendo, a melhor coisa a fazer é quitar a dívida, dando prioridade às que têm o juros mais elevado", afirma Gouveia ao completar que 13º salário e férias são recursos extras que devem ser aplicados racionalmente. Ele não diz que a pessoa deve deixar de tirar férias, viajar e se divertir, mas considera que tudo deve ser feito obedecendo a um plano, focado no futuro, porque ninguém está livre de imprevistos. Na opinião dele, todas as famílias devem ter um planejamento anual, e nele listar os gastos e os ganhos, priorizando os itens realmente necessários.
O consultor diz ainda que os investimentos devem ser feitos, como uma espécie de poupança e sempre visando ganho sobre a aplicação. "A pessoa tem direito a festejar o fim do ano, mas tudo tem de ser controlado para não gastar mais que o necessário. E assim deve ser o comportamento durante todo o ano". Conforme Saulo Gouveia, uma pesquisa recente mostra que as pessoas estão usando o cartão de crédito como complemento do salário. "São 135 milhões de cartões em circulação, sendo que a inadimplência chega a 27,5%, o que demonstra que as pessoas estão usando o documento de forma errada".
Exemplo a ser seguido – Depois de tanto ter problemas no início do ano, depois dos gastos excessivos em dezembro, o empresário Dário Landolfi, 37, decidiu pôr um fim nessa situação. Ele conta que não tinha controle das despesas e que sempre entrava o ano devendo mais do que podia pagar. Há dois anos, ele e a mulher buscaram orientação profissional e vêm colhendo bons frutos do aprendizado. "Paramos de gastar sem necessidade e juntamos dinheiro para fazer compras à vista", diz ao revelar que muitas vezes, ao juntar dinheiro para comprar determinado produto, quando consegue chegar ao valor necessário acaba percebendo que não precisa do objeto. "Passei a controlar os meus desejos e impulsos consumistas".
O empresário conta que passou a listar três metas a serem cumpridas durante o ano. Ele conta que tem um objetivo principal, outro secundário (no caso de bens a serem adquiridos) e que além disso tem um terceiro plano, que é sempre cumprido:aplicar dinheiro na poupança. "Dessa forma, junto dinheiro para comprar alguma coisa que quero, e além disso poupo e no fim do ano tenho dois prêmios, já que consigo adquirir o objeto de desejo e ter dinheiro a mais no banco", diz ao informar que todo o ensinamento está sendo repassado ao filho de seis anos.
Ele conta que a criança tem um cofre e que todos os dias dá duas moedas a ela. Uma para ser gasta com o que o garoto quer, e outra para ser colocada no cofrinho. "No fim do ano vamos abrir o cofre e metade do que foi depositado voltará novamente. A outra parte será usada para comprar um brinquedo", revela ao explicar que com este procedimento o filho está sabendo a dar valor ao dinheiro e a poupar.