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Mercado de trabalho ainda exclui deficiente em Mato Grosso

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Mato Grosso possui 81 pessoas Portadoras de Necessidades Especiais (PNE) contratadas. O número é referente à fiscalização feita pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em 1,913 mil empresas no Estado no primeiro quadrimestre deste ano. No mesmo período do ano passado, não houve nenhum registro mesmo com a vistoria a 1,488 mil estabelecimentos. Durante todo o ano de 2010, os 5,364 mil locais visitados apresentaram 47 contratações.

Os PNE possuem cotas reservadas nas empresas acima de 100 funcionários. A Lei 8.213/91 assegura que 2% das vagas nas empresas com até 200 pessoas, 3% naquelas com 201 a 500, 4% quando o empregador possui entre 501 e 1000 funcionários e 5% nas com mais de 1001 colaboradores devem ser preenchidas por pessoas portadoras de deficiência.

Mesmo com a garantia legal, muitas pessoas nestas condições enfrentam grande dificuldade em buscar lugar no mercado de trabalho. "Os cadeirantes sofrem porque muitas empresas não aceitam adaptar prédios para nos receber, o que não é o caso do lugar onde trabalho", destaca a atendente Marília Dias da Silva, 28 anos. Na concessionária Trescinco há quase 2 anos, ela é uma das responsáveis pelo agendamento de revisões para os clientes.

No segundo emprego, Marília possui algo que a favorece na concorrência com outros PNE, carro próprio. "É muito difícil se locomover na cidade. Mesmo com ônibus adaptados os motoristas que operam o elevador não são devidamente preparados. Uma amiga minha, inclusive, caiu de um deles". A atendente se tornou cadeirante por conta de sequela da poliomielite, contraída quando tinha 1 ano de idade.

Se a estrutura física é um problema, o lado humano por sua vez é um fator importante para a inclusão do PNE no ambiente de trabalho. "Sou muito bem tratada aqui, como uma pessoa normal, tanto pela empresa quanto pelos colegas, que me recebem muito bem". A concessionária conta com 6 colaboradores, quantidade dentro da cota prevista em lei. "Estamos muito satisfeitos com o rendimento deles que é semelhante ao apresentado por pessoas normais. A única coisa que tivemos que fazer foi facilitar a locomoção deles na empresa. As atendentes, cadeirantes, ficam no piso inferior, sem necessidade de subir escadas", salienta a gerente de Departamento Pessoal da empresa, Carmem Araújo.

Outro exemplo de superação é o do auxiliar de mercearia do Supermercado Big Lar, George Oliveira Vasconcelos. Há 10 anos na empresa ele recentemente foi promovido ao posto. "Trabalhei por mais de 9 anos como empacotador e agora sou responsável por repor as mercadorias da seção e anotar os pedidos que devem ser feitos". Mesmo com dificuldade em se locomover e falar, o funcionário de 33 anos esbanja competência e é apontado por clientes como modelo de profissional.

Morando sozinho há 4 meses, Vasconcelos considera o emprego uma real oportunidade de aprendizado. "Aqui é uma escola para mim, um lugar em que conheço cada vez mais pessoas e onde fiz grandes amigos". Revela ser tratado como uma pessoa normal, "até porque não me vejo como um deficiente", e participa ativamente de todos os treinamentos promovidos pelo supermercado. Para chegar ao trabalho ele utiliza transporte coletivo.

As qualidades do auxiliar são reconhecidas também por seu superior, Elias Rodrigues de Almeida. "Ele tem um desempenho excelente, como qualquer outro colaborador. Pontual, está sempre disposto a ajudar as pessoas. Enfim, é alguém por quem temos um grande carinho".

Cumprir a cota estabelecida por lei é uma grande dificuldade para algumas empresas. Uma das maiores reclamações é a falta de qualificação e experiência para assumir funções na empresa. Pensando nisso, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Mato Grosso (Senai/MT) criou o Programa Senai de Ações Inclusivas (Psai). "Realizamos tudo o que for necessário para que alunos PNE possuam condições de aprendizado semelhantes aos das pessoas normais", ressalta a coordenadora do Psai, Denise Torres Molina.

Além de adaptações, que incluem livros falados de informática para deficientes visuais e a contratação de intérpretes de Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) para aulas em que hajam deficientes auditivos, o Programa isenta alunos interessados de qualquer pagamento, inclusive da mensalidade. "É uma meta de Responsabilidade Social incluir o maior número possível de PNE no mercado de trabalho". Com o trabalho, o Psai contribuiu para a formação de 350 pessoas no ano passado.

Há 23 anos trabalhando com pessoas especiais, Molina traçou um perfil comum ao PNE que busca qualificação. "Ele é uma pessoa ávida por aprender, com um desejo enorme de ser produtivo". Outro serviço prestado pelo programa é o da preparação de empresas para receber os PNE, com cursos de Libras voltados ao ramo de atividade. Para aqueles que buscam espaço no mercado e sonham em se destacar como como Marília e George, o auxiliar de mercearia dá o conselho. "É preciso se esforçar sempre, porque só assim se trabalha melhor. Somos capazes de fazer grandes coisas. Basta apenas que acreditem, e acima de tudo, acreditarmos em nós".

 

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