Mato Grosso foi o segundo Estado que mais produziu biodiesel no primeiro semestre deste ano. Ao todo foram 170,845 milhões de litros do produto, 64,789 milhões/l a menos que o primeiro colocado. A liderança no período foi do Rio Grande do Sul, que contabilizou produção de 235,634 milhões de litros. Já na comparação com o volume produzido nos seis primeiros meses de 2008, quando a produção totalizou 141,307 milhões, houve incremento de 20,9% de um ano para outro. Os dados são da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Conforme a agência, Mato Grosso tem capacidade (autorizada) para produzir até 1,049 bilhão de litros de biodiesel por ano. Atualmente, 22 usinas estão em operação e no último leilão realizado pela ANP, o Estado foi o que mais vendeu biodiesel, totalizando 148,730 milhões de litros o equivalente a 25,7% da quantidade ofertada, de 575 milhões/l. Apesar de tantos números positivos para o setor, alguns empresários afirmam que as indústrias estão operando com ociosidade, e esperam que com a mistura de 5% (B5) de biodiesel ao óleo diesel, previsto para entrar em vigor em 1º de janeiro de 2010, a demanda aumente e a capacidade instalada possa ser utilizada totalmente.
O último leilão, em que Mato Grosso mais vendeu, foi realizado no dia 17 deste mês, justamente para atender a obrigatoriedade da mistura. Novos leilões devem ser marcados. O produto vendido deve ser entregue no primeiro trimestre do ano que vem. Na opinião do presidente do Sindicato das Indústrias de Biodiesel de Mato Grosso (SindiBio-MT), Sílvio Rangel, o Estado tem condições de ampliar a produção atual, já que tem oferta de matéria-prima em abundância, uma vez que o biodiesel utiliza óleo de soja, algodão e gordura animal. Outros produtos como pinhão-manso e óleo de girassol também são usados na produção do biocombustível, porém em menor escala.
“Temos boas chances para ocupar a liderança na produção nacional de biodiesel, porém precisamos de mais condições de mercado. O B5 é uma boa notícia e esperamos que gradativamente o percentual do biodiesel ao diesel aumente, ampliando a demanda pelo produto”, diz ao revelar que atualmente a oferta é maior que a demanda e que isso vem inibindo investimentos. Outra peculiaridade desse setor é com relação ao consumidor, já que o produto adquirido nos leilões pela Petrobras e pela Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), o que acaba restringindo o mercado e acarreta no deságio do preço do produto nas vendas públicas.
Com uma capacidade de produção no porte de Mato Grosso, Rangel avalia que o setor estadual está preparado para atender até mesmo o B10, que seria adição de 10% de biodiesel ao diesel. A evolução fomentaria ainda mais a produção, o que promove um efeito cascata nos setores primários, especialmente da produção de matéria-prima. Isso porque, parte do produto negociado nos leilões deve ser proveniente da agricultura, o que rende às usinas o chamado Selo Combustível Social. “O biodiesel é bom para vários agentes produtores, usinas e agricultores, em que são gerados inúmeros postos de trabalho, nas usinas e no campo”, diz ao informar que não tem os dados sobre a quantidade de trabalhadores envolvidos no processo produtivo.
Investimentos – Com a perspectiva positiva para o ano que vem, produtores de biodiesel estão se mexendo para ganhar cada vez mais mercado. Com tanta competitividade e objetivando ampliar a participação nos leilões, o proprietário da Bio Óleo Biodiesel, Rodrigo Prosdócimo Guerra, afirma que está com um projeto em andamento para ampliar a produção de 3,6 milhões de litros por ano para 36 milhões litros/ano, o que vai resultar em uma capacidade de produção 10 vezes maior que a atual.
“Estamos aguardando a autorização da ANP para o início das obras e projetamos que tudo ficará pronto até o primeiro semestre do ano que vem”, diz preferindo não revelar o volume financeiro que será aplicado nas obras. Ele justifica que as contas ainda não foram fechadas, mas adianta que a parte tecnológica será bastante avançada para garantir a qualidade do processo produtivo. A Bio Óleo, localizada no Distrito Industrial de Cuiabá, produz biodiesel a partir de óleo de caroço de algodão e gordura animal. “Não estamos usando óleo de soja no momento, porque essa matéria-prima está com o preço elevado atualmente”, explica Guerra ao acrescentar que é usado o produto disponível no mercado com valor menor para não encarecer os custos.
A usina tem participado dos leilões promovidos pela ANP e no último evento negociou 720 mil litros do produto, cuja entrega está prevista para os três primeiros meses de 2010, em lotes diferente.
Produção ampliada – Localizada na cidade de Colíder, a CLV Agrobiodiesel, está em operação desde 2007 e já soma R$ 40 milhões em investimentos, valor que não deve ficar estagnado. O diretor da usina, Victor Augusto Birtche, afirma que está com um projeto, que deve ser concluído em breve, e que será responsável pela ampliação no volume produzido na unidade. Atualmente a capacidade é de 36 milhões de litros ano e deve saltar para 72 milhões/l ano, incremento de 100%. “Estamos aguardando a autorização por parte da ANP, mas prevemos que vamos operar com esta capacidade já no início de 2010”.
Recentemente a CLV começou a movimentar produtores de Colíder, fomentando a produção de amendoim, destinado ao biodiesel. Este produto tem um teor de óleo maior que o da soja, grão que é mais utilizado pelas indústrias estaduais. “Com o aumento da produção, estimamos passar de uma oferta, por leilão, de 7,2 milhões de litros, para 14,4 milhões/l”. A unidade é responsável pela geração de 50 empregos diretos e outros 250 famílias de agricultores fornecem matéria-prima para a usina. Este ano, a CLV vendeu pouco mais de 20 milhões de litros de biodiesel à Petrobras e Refap e pretende aumentar o volume em 2010.
Boa expectativa – Quem também está otimista com a chegada de 2010 é o presidente da Barralcool, João Petroni. Ele diz que com o aumento de 1% na quantidade de biodiesel no combustível haverá mais chances de venda, para atender a demanda nacional. “Temos uma capacidade de 58 milhões de litros por ano, mas por causa da oferta ser maior que a demanda atual, estamos trabalhando com ociosidade de quase metade da capacidade total”, diz ao revelar que com o aumento gradativo do produto, a tendência é que os preços aumentem.
Na opinião de Petroni, a existência de várias usinas em operação faz com que haja mais produto no mercado e com isso os preços reduzem, e que uma das estratégias usadas nos leilões (a usina participou de todos realizados anteriormente), é sair da venda pública quando os preços caem demais. “Esperamos melhorias para 2010. Estamos trabalhando, junto ao sindicato de produtores nacional, para que a obrigatoriedade da mistura suba para 8% ainda no ano que vem”. A Barralcool usa soja e gordura animal como matéria-prima para a produção do biodiesel, e está localizada no município de Barra do Bugres.