Com a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar e ao euro, os mato-grossenses que programavam viagens internacionais para as férias de julho estão revendo os destinos, adiando os embarques e até cancelando as viagens. Nas agências que trabalham com o turismo emissivo, a queda nas vendas este mês visando o período já chega a 100% em comparação com o mesmo período do ano passado. Empresários do segmento não duvidam que até mesmo voos internacionais sejam cancelados se o câmbio continuar tão desfavorável aos turistas brasileiros. “Na semana passada, soube que um voo decolou de São Paulo com destino a Miami com apenas 2 passageiros”, relata o proprietário de uma agência de viagens em Cuiabá, Horácio Teixeira de Souza Neto.
Com o dólar comercial cotado acima de R$ 3,20 e a estimativa do Banco Central de que mantenha o patamar superior a R$ 3 até o fim do ano, a tendência é que as agências de viagens vendam menos em 2015. Neste momento, o esforço é direcionar os turistas mato-grossenses mais para os atrativos nacionais, acrescenta Souza Neto. “Em janeiro, o dólar estava na média de R$ 2,12 e agora já se compra por R$ 3,45, mais IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Então, não tem como viajar neste preço”, desabafa. “Ao final das contas, o turista que embarca para o exterior neste momento paga pelo dólar quase 4 vezes a mais que o valor do real”. O problema é inédito para o empresário que atua no ramo há 28 anos. “A opção é viajar pelo Brasil, mas em julho o Sul é muito frio, então resta o Nordeste e é o que estamos trabalhando”.
Mesmo quem já adquiriu os pacotes de viagens com antecedência para o exterior gastará mais, reforça o empresário, lembrando que a hospedagem nos Estados Unidos raramente é pelo sistema all inclusive. “Então, um café da manhã que custa US$ 20 dólares por pessoa ficará quase R$ 80”. Com a freada nas viagens internacionais, as trocas por moeda norte-americana e europeia despencaram, diz o proprietário de uma casa de câmbio em Cuiabá, Eduardo Durans. “Diminuiu uns 70% a procura por dólar e, como trabalhamos com corretoras de São Paulo, todos dizem a mesma coisa: que o dólar vai ficar no patamar atual ou subir mais. Isso para nós é muito ruim, mas talvez melhore o turismo receptivo”.
Consultor de viagens nacionais e internacionais em Cuiabá, Ricardo Aidamus Arruda, afirma que as vendas de pacotes turísticos para julho estão “completamente paradas”. Segundo ele, tradicionalmente nessa época a demanda já estaria intensa. “O euro aumentou muito e o dólar está quase equiparado à moeda europeia, então o movimento ficou fraco”. Ainda assim, os mato-grossenses que desejam viajar estão fazendo adaptações, acrescenta. “Alguns tentam hotéis mais baratos, reduzem compras ou mudam o destino da viagem para América do Sul, como o Caribe, que adota com mais frequência o sistema tudo incluso”.
O turismo interno é outra opção. Em outra agência de viagens em Cuiabá, a agente Mônica Amorim diz que a prática é garantir tarifas diferenciadas para os clientes. “Com a alta do câmbio, as vendas têm uma baixa, mas tentamos outros meios, como viagens nacionais ou para a América do Sul”. Tradicionalmente, os destinos internacionais preferidos dos mato-grossenses são Orlando e Miami, nos Estados Unidos, a Europa, além do Chile e Argentina. No Brasil, a maioria viaja para o Nordeste.