O pagamento do 13º salário aos trabalhadores matogrossenses deve injetar cerca de R$ 1,283 bilhão na economia estadual. A estimativa foi levantada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese) com base nos 1,012 milhão de contribuintes no Estado. Mas o que é possível fazer com esse dinheiro extra? Na opinião de especialistas, o ideal seria visar investimentos. No entanto, a maioria dos consumidores optam por pagar as dívidas. “Isso faz girar a economia. O consumidor fica apto a comprar”, diz o economista Manoel Marta. Ele explica que a tendência, mesmo com a economia equilibrada, é que o trabalhador quite os débitos.
Para o vice-presidente da Federação do Comércio de Mato Grosso (Fecomércio-MT), Roberto Peron, em média, 50% dos consumidores que recebem o benefício vão pagar contas atrasadas. Segundo Peron, a alta de na inadimplência nos últimos 3 meses deve confirmar essa estimativa. Ele aponta ainda que apenas 10% dos trabalhadores aplicam o dinheiro
em poupança.
Entre a maioria dos assalariados que vai usar o 13º para pagar dívida, a servidora pública Ana Maria Ferreira faz parte da estatística. Ela conta, que diferentemente do ano passado, usará o salário extra para quitar débitos vencidos. “Em 2009 eu apliquei o dinheiro em poupança”. Ela lembra que neste ano extrapolou os limites financeiros. A vendedora Aline Lemes também está com dificuldades para pagar as dívidas, e afirma que o 13º salário é última alternativa para ficar adimplente novamente. “Gosto de comprar”. Ela admite que se não tivesse dívidas, certamente usaria o dinheiro em outras compras. “O fim de ano leva ao consumismo”.
Para o comércio, o pagamento de dívidas novas ou atrasadas é importante para fazer o capital de giro das empresas. A gerente de um loja de confecções, Sandra Regina, conta que a partir do momento em que começam a ser pagos os salários o movimento das vendas e a quitação de dívidas antigas aumenta entre 20% a 30%. Ela revela que muitos clientes vêm com o dinheiro na mão para fazer negociações. Essa estratégia, segundo Sandra, pode resultar na redução de juros cobrados ao consumidor pelas parcelas vencidas.
Já a gerente da loja de sapatos, Cleonice Santana, diz que a procura por negociar os débitos ou fazer novas compras, utilizando o 13º salário, tem a mesmo percentual de demanda por parte dos consumidores. Conforme ela, na primeira semana do pagamento da renda extra percebe-se um aumento considerável no fluxo financeiro da loja.
O superintendente da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado de Mato Grosso (Facmat), Manuel Gomes da Silva, diz que uma parte desses trabalhadores, que não precisa pagar contas atrasadas gastam o valor em compras de fim de ano. Independentemente disso, para ele, o que vale é o bom senso. “O consumidor deve ser mais racional quanto ao uso do dinheiro”. Silva afirma que é preciso levar em conta que as compras do fim de ano, normalmente, resultam nas parcelas para o ano seguinte. “É ruim para a economia do trabalhador começar o ano devendo”.
O superintendente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Cuiabá), Nelson Soares Júnior, afirma que os últimos 3 meses do ano são os preferidos pela população para quitar débitos. Isso porque, conforme ele, os consumidores visam as compras de Natal. Essa condição pode ser observada nos dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), que mostram um crescimento de 30,95% no número de exclusões em novembro de 2009 comparado com o mesmo período de 2008. Na série histórica, o levantamento aponta ainda que em outubro de 2008, em relação a igual período de comparado de 2007, o aumento no número de exclusões foi de 26,06%. Entre novembro de 2008 e mesmo mês de 2007, a diferença é de 19,54%. Em dezembro de 2008 comparado com mesmo mês de 2007, o acréscimo chega a 17, 35% nesta mesma operação.
“Em novembro de 2009 em relação a novembro de 2008 houve crescimento de 30, 95% no número de pessoas tirando seu nome do SPC. Ou seja, mais pessoas buscando “habilitar” o nome para ter seu crédito aprovado e fazer compras”,declara José Alberto Aguiar, presidente da entidade. Ele completa que no mês de dezembro, o número de pessoas tirando o nome da lista dos inadimplentes, tradicionalmente aumenta. Ou seja, tanto o número de pessoas colocando dinheiro no resgate de antigas dívidas quanto a perspectiva de novas compras são muito positivos.