Embora ainda prestes a iniciarem o plantio da safra 2008/09 de soja em Mato Grosso, agricultores começam a se preocupar diante das atuais condições impostas pelo mercado e a preverem um futuro nada certo para as próximas culturas no Estado, a exemplo do milho safrinha, cujo cultivo deve ocorrer apenas no próximo ano. Ao contrário das projeções lançadas e apontando para um aumento de área e produção recorde, a classe alega que a realidade pode ser diferente.
Diante do excessivo custo para se produzir, o clima entre produtores é de desinteresse para com a segunda safra de milho. Para muitos o cenário configurado parece não se mostrar favorável à classe. O agricultor e ex-presidente do Sindicato Rural de Lucas do Rio Verde Helmut Lawisch, é crítico ao afirmar que o “produtor tem que deixar de plantar prejuízo”, declarou, ao Só Notícias/Agronotícias.
O encarecimento do fertilizante é apontado pelo setor como o principal gargalo na agricultura. Segundo Lawisch, há um desembolso na ordem de US$900 para plantar o milho. “Se a expectativa é colher 80 sacas por hectare, vezes US$7,5 de preço praticado pela saca do milho, alcançaremos US$600. Desta forma, plantará um prejuízo de US$300 por hectare”, salientou.
O presidente do Sindicato Rural de Sorriso – município campeão brasileiro na produção de grãos – Elso Pozzobon compartilha da situação e salienta que nas condições atuais, a tendência é haver redução. “Fazendo o cálculo é inviável o custo produção. Mesmo com uma produtividade em torno de 80 sacas, ainda no limite aceitável e realista, temos custo que supera a receita e torna o plantio inviável”, acrescentou.
No mês passado, o Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea), divulgou uma projeção de safra que apontava para um incremento de 29% em 2009, totalizando 2.156,84 hectares para o milho safrinha. O levantamento aponta que a segunda safra ganhará ainda mais espaço sobre as áreas de soja, chegando a 37%. Neste ano, alcançou 30% da cultivada com a oleaginosa.
O milho primeira safra, mesmo com aumento de 10% na área, não deve produzir mais que 815 mil toneladas. A analista da cadeia de grãos, Maria Amélia Tirlone diz que na época em que foi produzida, a projeção levava em conta a possibilidade de aumento sobre a utilização de área de soja. “Com os preços de venda de hoje e os custos ainda altos, precisa-se pensar muito bem”, salientou.
Mato Grosso contabilizou, conforme o Imea, recorde de produtividade em 4.642 quilos por hectare, aumento de 116% em dez safras. Desta forma, o Estado, aponta o instituto, teve uma “safra de 7,757 milhões de toneladas, sendo que há dez anos não passava de 550 mil.
A Agência Safras também elencou números para o milho no próximo ano. Na cultura de verão Mato Grosso deve registrar decréscimo na área a ser cultivada. Devem ser 87 mil hectares, ante os 102.287 mil hectares em 2007/08, ou quase 15% a menos de projeção. A produção, em mil toneladas, esperada para o próximo ano é de 343.650, ante 404.034.
A produtividade na próxima safra deve em 3.950 quilos por hectare, mesmo registrado durante este ano. Em todo Centro-Sul, que engloba Paraná, Rio Grande do Sul, Sanca Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Minas Gerais, Espírito Santo, e Rio de Janeiro, deve cair 5,1% na safra de verão 2008/09, ocupando 6,008 milhões de hectares.
Em relação ao milho safrinha, Safras aponta para 1.950.540 hectares a serem semeados em 2008/09, ou cerca de 8,3% superior ao período anterior. A produção calculada para o próximo ano é de 7.860.676 toneladas, superior as 7.202.160 apontadas em 2007/08. A produtividade calculada para 2008/09 é de 4.030 quilos por hectare.
Agora, a classe produtora deve aguardar para saber quais projeções se cumprirão. As positivas e favoráveis ao desenvolvimento da cultura, ou aquelas que podem gerar temor em toda cadeia produtiva.