O leilão de linha de transmissão terminou sem investidores interessados por um lote em Mato Grosso. A obra tinha o objetivo de escoar a energia gerada pelas usinas hidrelétricas Foz do Apiacás, São Manoel, Sinop e Colíder, além de reforçar os circuitos 1 e 2 para escoamento da UHE Teles Pires. O projeto mato-grossense fazia parte de um dos cinco lotes, que não receberam propostas no certame. O leilão ofertou nove lotes e foi realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta terça-feira (18), na sede da BM&FBovespa, em São Paulo.
Além do lote C de Mato Grosso, devem entrar nos próximos certames a serem realizados pela Agência projetos no Pará (lotes B e I, regiões oeste e sudeste do Estado), em Minas Gerais (lote D – atendimento à região leste do estado, tipicamente industrial e engloba produtoras de minério e siderurgia do Brasil – Vale do Aço); e em Tocantins (lote G – região de Palmas).Para o coordenador no Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Planejamento Energético (Niepe) da UFMT, Ivo Leandro Dorileo, o resultado do certame mostra uma certa preocupação do setor. “O que estamos vivendo hoje, não é propriamente uma crise do setor elétrico, é um receio e reserva dos investidores por conta do governo eleito e do cenário econômico. A regulação está frágil, instável e não deixa o mercado decidir. É preciso uma regulação mais forte no setor para dar credibilidade e confiabilidade no investimento”, avalia o doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Unicamp.
Na avaliação do especialista faltou garantia para que interessados se apresentassem. Isso porque os investimentos no setor elétrico têm sido muito rentáveis, dos pequenos projetos de centrais hidrelétricas aos grandes projetos, como linhas de transmissão. Segundo Dorileo, as demandas que existem no meio ambiente também são levadas em condição pelos investidores, como já existem impactos nos consórcios que estão construindo hidrelétricas na Amazônia. “Novamente, ninguém vai investir sem ter as garantias que têm que ser dadas pela agência reguladora, o governo. Mais uma vez reforço que a regulação tem ser forte e independente. O governo está com muita ingerência e depois fica o diretor da Aneel tentando explicar por que lotes não tiveram lances. Um problema que já deveria ter sido superado”, conclui o engenheiro eletricista.
Vale ressaltar que, juntos, os nove lotes ofertados totalizavam aproximadamente 4,7 mil quilômetros de linhas de transmissão e acrescentariam 8,761 mil megavolts-ampères (MVA) de capacidade de transformação à Rede Básica do Sistema Interligado Nacional (SIN). A estimativa da agência era de que os investimentos chegassem a R$ 6,3 bilhões, com a criação de 18 mil empregos diretos.
Como apenas três lotes foram arrematados, a Aneel divulgou que esses empreendimentos leiloados deverão demandar R$ 3,6 bilhões em investimentos nos estados: Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Amapá e Pará. “Apesar de não termos tido êxito em todos os lotes, o certame foi satisfatório, já que conseguimos um deságio médio de 13,39%. Além disso, o lote A, de maior investimento e quilômetros de linhas, foi arrematado com sucesso pela Eletrosul”, avalia o diretor da Aneel, André Pepitone. O lote A está localizado no Rio Grande do Sul e tem a função de viabilizar a conexão de futuros parques eólicos na região.