O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – do governo federal- reconheceu hoje, falhas no sistema de Detecção em Tempo Real (Deter), que já haviam sido apontadas pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema), ao afirmar que no final de 2007 a estiagem atípica fez com que o sistema detectasse áreas em que havia sido feito extração seletiva em anos anteriores como áreas que tivessem sido desmatadas no final do ano. Os dados motivaram a operação Arco de Fogo, foram duramente criticados pelo governo estadual, principalmente pela repercussão negativa para o Estado.
O diretor do Inpe, Gilberto Câmara, disse que este fato fez com que os números divulgados como sendo de desmatamento fossem maiores que nos anos anteriores. O pronunciamento de Câmara aconteceu durante a abertura do seminário “Desmatamento na Amazônia: um diálogo necessário. É possível?”, que está sendo realizado em Belém (PA). Estão presentes no evento representantes importantes da comunidade científica brasileira que tratam de questões relativas a políticas de desenvolvimento sustentável da região Amazônica.
Gilberto Câmara afirmou ainda que o instituto fará uma dinâmica da degradação progressiva da floresta em separado da dinâmica do corte raso, que tradicionalmente foi feito pelo Inpe no Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (PRODES). Isso porque confirmou que existem problemas no Deter em separar áreas de degradação progressiva de áreas em que não houve nenhuma degradação.
Ele destacou que foram analisadas duas regiões – Tailândia (PA) e Sinop – para determinar o grau de precisão do sistema Deter e que os melhores resultados de detecção ocorreram em Tailândia. O fato que pode ter contribuído para isso é que Sinop já é uma região consolidada e as áreas ainda florestadas teriam absorvidos impactos contínuos de queimadas e extração seletiva que fazem com que o sistema não responda com a mesma precisão que em Tailândia.
O secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso em exercício, Salatiel Alves de Araújo, está participando do evento e afirmou que a decisão de realizar a dinâmica da degradação progressiva já havia sido solicitada ao Inpe em março deste ano, quando a Sema entregou ao instituto o relatório sobre as vistorias in loco que apontavam erro de quase 90% nos dados divulgados. Na ocasião, sem analisar os relatórios entregues pela Sema, o Inpe disse que tal trabalho não seria possível devido à falta de pessoal.
Na ocasião, a Sema se propôs a realizar tal dinâmica, pois já apontava que a ‘degradação progressiva’ não aconteceu totalmente no final do ano de 2007 e sim em anos anteriores. Agora, o Inpe voltou atrás e se comprometeu a realizá-la e, inclusive, de entregar nos próximos dias uma resposta à Sema sobre os relatórios enviados. De acordo com o próprio Inpe foram os relatórios da Sema que fizeram com que o instituto reavaliasse seus dados e metodologia.
Para Salatiel, a decisão do Inpe significa realmente que houve o reconhecimento que não se podem misturar duas informações (degradação progressiva e corte raso) sob pena de inflacionar a informação sobre as tendências de crescimento ou diminuição do desmatamento em um determinado período. “Significa também que haverá, com os trabalhos do Inpe, uma separação do que é degradação progressiva recente da degradação progressiva que aconteceu há um ano ou mais”.
Salatiel, que acompanhou desde o início do ano as discussões sobre os dados divulgados pelo Deter e foi inclusive quem apresentou ao Inpe o relatório feito pela Sema em campo, através da sua Superintendência de Fiscalização, enfatizou que o reconhecimento por parte do Inpe das falhas do sistema e a abertura para a reavaliação dos dados diante dos questionamentos feitos pelo Estado de Mato Grosso, é um avanço significativo que poderá contribuir de forma efetiva para a própria metodologia do Inpe e com isso garantir inclusive avanço científico sobre a questão do monitoramento do desmatamento na região amazônica.
O diretor do Inpe reconheceu ainda, durante o evento, que o Deter tem apresentado baixa acurácia e correspondência em áreas menores do que 50 hectares e que nestes casos o Projeto de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes) determina melhor o desmatamento. Por outro lado, afirmou que para áreas maiores 200 hectares o Deter tem maior acurácia. Isto se deve principalmente a baixa resolução dos sensores.
Em janeiro deste o ano o Deter divulgou dados que apontavam o aumento do desmatamento nos últimos meses de 2007, apontando Mato Grosso como o campeão do desmatamento na Amazônia. A Sema foi a campo verificar todos os pontos de desmatamentos e comprovou que em 662 pontos, em 51 municípios, que o Deter tinha apontado como desmatados de outubro a dezembro de 2007, 89,98% destes dados estavam errados. Ou seja, em apenas 10,12% dos pontos realmente ocorreu desmatamento recente.
O relatório, com nove volumes e quase duas mil páginas foi entregue ao Inpe em março que passou a analisar as informações contidas. Esta é a primeira vez, no entanto, que o Inpe se manifesta mostrando os pontos vulneráveis do sistema e mostrando a intenção de reavaliar os dados e metodologia.
No relatório da Sema, entregue ao Inpe e posteriormente, ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, todo o trabalho em campo é detalhado, assim como a metodologia utilizada. Antes da audiência com presidente Lula, no dia 14 de abril, o governador Blairo Maggi esteve reunido com os ministros Marina Silva (Meio Ambiente) e Reinhold Stephanes (Agricultura, Pecuária e Abastecimento), ocasião em que fez a entrega do relatório, que traz fotos das áreas fiscalizadas. Durante a fiscalização, foram geradas 662 cartas imagem baseadas no produto geocover (NASA – 2000) e 662 cartas imagem baseadas no produto Landsat TM (NASA 2007).
Os dados levantados apontam que 395 pontos (59,67%) são áreas onde houve desmatamento antigo; 116 pontos (17,52%) correspondem a áreas sem indícios de desmatamento; 84 pontos (12,69%) são áreas com ocorrência de incêndio e somente 67 pontos (10,12%) são áreas realmente abertas recentemente (corte raso).
Outra checagem anterior, de dados do período de abril a setembro de 2007, já tinha demonstrado um erro de 80,53 % nos dados fornecidos pelo Inpe, que não correspondiam a desmatamentos recentes e sim a áreas antropizadas com mais de sete meses. Várias áreas intactas também foram encontradas nesta checagem. Os dados divulgados pelo Deter continuam sendo verificados in loco pelas equipes de fiscalização da Sema, todos os meses.