A instabilidade dos últimos dias no mercado do dólar ainda não convenceu os setores que reclamam do câmbio, como as indústrias de móveis, vestuários e calçados, do aumento das exportações desses produtos. Além de estarem reticentes quanto à duração das turbulências no mercado financeiro internacional, os representantes desses segmentos não têm certeza em relação aos efeitos que a crise no mercado imobiliário dos Estados Unidos pode ter sobre a economia do resto do mundo.
Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), José Luiz Fernandez, a recente subida do dólar, que fechou a semana cotado a R$ 2,02, ainda é insuficiente para recuperar o nível das exportações do setor. “Essa crise melhorou um pouquinho a nossa situação, mas está muito cedo para dizer que poderemos recompor nossas margens de lucro”, diz.
Mesmo com o repique dos últimos dias na moeda norte-americana, Fernandez afirma que o nível atual do câmbio está barato. “O setor está trabalhando bem apertado e quem está cumprindo contratos antigos está exportando com prejuízo”, reclama.
Segundo o presidente da Abimóvel, o câmbio baixo poderia ser uma oportunidade para o setor moveleiro se modernizar. No entanto, ele reclama que as barreiras tarifárias não estimularam a compra de máquinas do exterior no período em que o dólar ficou abaixo dos R$ 2. “Sem isenção de impostos, não compensa importar equipamentos, então nem deu para o setor renovar o maquinário”, destacou.
Na indústria de tecidos e vestuário, que sofre com a concorrência dos produtos chineses, a opinião é a de que as conseqüências da crise ainda são desconhecidas. “Os mercados estão refletindo a insegurança dos investidores financeiros, mas não dá para saber a extensão desse processo sobre a economia real”, ressalta o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel.
Segundo o diretor da Abit, mesmo com a desvalorização do real, a instabilidade no mercado financeiro pode ser nociva para o setor têxtil caso a economia mundial reduza o crescimento e o Brasil passe a exportar menos. “Essa crise, na verdade, pode ser cruel para o Brasil, caso se prolongue”, observa.
Pimentel reconhece que a elevação da moeda norte-americana resultou em ganhos para a indústria de tecidos. “Quem esperou o momento certo para trocar os dólares por reais lucrou”, salienta. Ele, no entanto, defende o câmbio flutuante. “Apesar dos problemas que enfrentamos por causa da queda do dólar nos últimos anos, acredito que essa seja a melhor forma de administrar a economia do país”, declara.
De acordo com o diretor da Abit, a solução para as oscilações do câmbio consiste na realização de reformas que reduzam a taxa de juros. “São os juros altos que, nos últimos anos, atraíram o capital financeiro. Os mesmos recursos que agora fogem e provocam essa instabilidade”, argumenta. Entre as medidas que considera necessárias, Pimentel cita a desoneração dos investimentos industriais, a definição dos marcos regulatórios para os investimentos privados e a reforma tributária.
Por meio da assessoria, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) informou que o setor, que também enfrentou queda nas exportações nos últimos anos, está cauteloso com os recentes movimentos no mercado de câmbio. Segundo a entidade, o momento é de oscilação e as indústrias do ramo não estão em época de fechar negócios.