Começa na próxima semana, a principal parte da colheita da soja em Mato Grosso e a grande preocupação dos produtores não é a chuva nem as más condições das estradas. O que mais aflige o setor produtivo hoje em relação ao escoamento da safra é a liminar conseguida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) que obriga os caminhoneiros a cumprirem uma jornada máxima de 10 horas de trabalho, sendo 8 regulares e o restante com pagamento de hora extra. O problema é que essa determinação vai fazer com que o tempo de chegada do grão aos portos para exportação dobre.
A situação só não é pior porque a alta no preço do frete, que consequentemente vai acontecer, não deve atingir tanto os produtores agora, pois aproximadamente 85% já está comercializada e as tradings é que deverão arcar com os custos do transporte. Por enquanto, a estimativa do diretor- executivo da Associação dos Transportadores de Carga de Mato Grosso (ATC), Miguel Mendes, é que o frete no Estado encareça de 40% a 50%, coisa que o setor produtivo, segundo ele, pode não suportar.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira, frisa que a próxima safra pode ficar inviabilizada pelo frete tão alto e os insumos que também não param de subir, apesar do dólar estar em queda. Mas para a safra em andamento, segundo ele, o que vai prejudicar muito é a jornada de trabalho obrigatória. Silveira frisa que se o Estado tivesse estradas boas, duplicadas, os caminhões conseguiam percorrer uma boa distância em 8 horas, “mas do jeito que está fica complicado”.
A colheita da soja começou no início deste mês. O pico, porém, será a partir da próxima semana, quando se colhe em média 2% da produção por dia. São 330 mil toneladas diárias se for levada em consideração a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de uma safra de 16,5 milhões de toneladas. Os efeitos negativos da medida do MPT já vinham sendo sentidos com pequeno impacto, a situação deve piorar agora. O presidente da Aprosoja deixa claro não ser contra o cumprimento da jornada de trabalho, só argumenta que a decisão tem que ser mais flexível. De acordo com ele, se a medida fosse tão boa, os próprios caminhoneiros não estariam fazendo protesto contra ela.