A empresa CREEC, contratada pelo governo chinês, apresentou os estudos de viabilidade e concluiu que o projeto da ferrovia Bioceânica (também chamada de transoceânica), que ligará o Brasil ao Porto de Bayovar, no Peru, é economicamente viável. Planejada para ser construída em nove anos e com quase cinco mil quilômetros de extensão, a ferrovia começará em Goiás e passará por Lucas do Rio Verde.
Segundo os estudos da CREEC, a Bioceânica teria capacidade para transportar inicialmente cerca de 23 milhões de toneladas de carga, podendo chegar aos 53 milhões de toneladas em até 25 anos depois. O total seria equivalente a 37% da carga produzida em Mato Grosso transportada ao país vizinho, conforme reportagem publicada no jornal Folha de São Paulo.
Outra conclusão apresentada pelo estudo é sobre o melhor caminho da ferrovia no Peru. Entre as opções, o Norte se mostrou mais viável, apesar de ter 600 quilômetros a mais de distância. A vantagem, por outro lado, seria a menor altitude, uma vez que nos demais trajetos (Centro e Sul) a ferrovia teria que subir quatro mil quilômetros pela Cordilheira dos Andes, o que, possivelmente, encareceria o preço do transporte.
No Brasil, a ferrovia cortaria Campinorte (GO) e Lucas do Rio Verde. Segundo a publicação, os outros trechos, até Porto Velho (RO) e do Acre ao Peru, seriam concluídos posteriormente. No Estado vizinho, a estratégia dos chineses seria evitar áreas indígenas e ainda utilizar pilares de alta elevação (comuns no país asiático), para minimizar o desmatamento. Os estudos não levaram em consideração um possível trecho até o Rio de Janeiro.
De acordo com a Folha de São Paulo, o governo brasileiro ainda pretende esperar a definição dos chineses para decidir a forma como fazer a licitação dos trechos. Segundo Dino Fernandes, secretário de fomento do Ministério dos Transportes, após o complemento dos estudos, o governo “vai se debruçar sobre a forma de licitar a ferrovia”.
Pelos estudos, a ferrovia poderia transportar, em 2025, cerca de 15 milhões de toneladas na direção do Pacífico e outros 8 milhões no sentido oposto. Para 2050, as projeções sobem para 33 milhões e 19 milhões, respectivamente. A principal carga seria de grãos da região do Mato Grosso. A projeção é de que 37% da carga dessa região siga pela ferrovia até o Pacífico, 51% vá para os portos do litoral sul brasileiro e só 12% suba para portos no Norte.
Mas os governos federal e do Pará trabalham para licitar a concessões de duas ferrovias e uma rodovia que seguem de Mato Grosso para o norte do país, além dos caminhos já existentes pelo Rio Madeira e a Ferrovia Norte-Sul. Se concretizado, os 12% de carga do Mato Grosso previstos pelos chineses para essa área praticamente inviabilizaria todos os projetos.
A Biocêanica foi anunciada num acordo entre os governos brasileiro, chinês e peruano ano passado. Os estudos vão ser aprofundados e ainda devem durar ao menos um ano. Os chineses já gastaram R$ 200 milhões nos levantamentos, mas informaram que precisam estudar ainda mais o projeto para estimar os custos da construção, principalmente na Cordilheira dos Andes.