Os brasileiros que precisam comprar dólar para viajar ou para outros compromissos têm acompanhado com apreensão a valorização da moeda americana, principalmente nas últimas semanas. Apesar de ter subido também em relação a outras moedas, por conta de uma expectativa de aumento dos juros da economia americana, o que pode levar à redução do fluxo de capital para países emergentes, é na comparação com o real que o dólar apresenta uma de suas maiores altas.
Desde o início do ano, a moeda subiu cerca de 5% frente ao peso mexicano e ao peso chileno, 8% em relação ao rand, da África do Sul, e 13% sobre a lira, da Turquia. Na comparação com o real, a alta chegou a 22,2% em 2015, sendo 13,76% somente em março. Nesta semana, a valorização acumulou 6,3%, sendo 2,7% somente na sexta-feira (13).
O professor de economia de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, credita a “alta desmedida” do dólar ao receio de que o ajuste fiscal proposto pelo governo, de R$ 66 bilhões, não se concretize, o que poderia levar o país a perder seu grau de investimento e impactar a inflação. “Basicamente, eu resumiria essa disparada [do valor do dólar] como resultado do que a gente chama de aversão ao risco. A alta do dólar acaba refletindo essa maior aversão ao risco, esse medo de que as coisas fujam ao controle, e, então, o dólar parece ser um porto seguro diante disso”.
Segundo o economista da FGV, a alta mais acentuada da moeda americana nas últimas duas semanas está relacionada ao cenário político do país: manifestações nas ruas, divulgação da lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com nomes de parlamentares envolvidos em esquema de corrupção na Petrobras e crise entre poderes Executivo e Legislativo. “Tudo isso ajudou a formar um cenário muito mais turbulento, que gera a aversão ao risco. Depende muito de como os fatos vão se desenrolar em termos políticos para saber que impacto isso pode ter sob o câmbio. A questão política está em aberto”.
O economista Carlos Eduardo de Freitas, conselheiro presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-DF) e ex-diretor do Banco Central, explica que a alta do dólar tem uma vertente estrutural de realinhamento dos preços, reduzindo os custos de produção e aumentando a competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional. Mas ele também acredita que a desconfiança sobre a implementação do ajuste fiscal anunciado, depois do Congresso devolver a medida provisória que tratava do assunto, gerou uma pressão maior nos últimos dias.
“Faltam um discurso e um comportamento do governo que tragam de volta essa credibilidade que foi arranhada. Essa desconfiança está evoluindo para uma incerteza, que é quando não se consegue medir os riscos, e aí há uma saída de capital”, disse Freitas.
Segundo ele, é natural que, num primeiro momento, o mercado exagere na especulação, retornando em seguida, mas o componente conjuntural de preocupação dificulta previsões sobre a trajetória da moeda. “Não dá para saber até que ponto subirá o dólar e onde ele encontraria o equilíbrio econômico. Acho que a alta está um pouco acentuada nos últimos dias, muito por força da insegurança com a posição do governo. Em economia, e na vida, a expectativa, às vezes, é mais importante até do que a ocorrência das coisas”.
Apesar de considerar a cotação atual, de R$ 3,24, “bastante elevada”, Rochlin, da FGV, também afirma que é difícil dizer qual é o novo patamar da moeda americana. “Não estou dizendo que hoje a gente viva um momento exatamente como esse, mas num momento de extrema incerteza a alta acaba estimulando novas altas e pode gerar mais procura. A pessoa fica vendo que o dólar só sobe e pode, daqui a pouco, achar que o dólar a R$ 3,28 está barato”.
Para Rochlin, à medida que o ambiente político melhorar, o governo conseguir provar coesão com a base aliada no Congresso, aprovar medidas de ajuste fiscal, se os números de inflação não forem tão ruins e o cenário se mostrar menos turbulento, a alta do dólar pode ser revertida.
“Eu não digo reversão para R$ 2,80, mas talvez se estabilizando num patamar um pouco mais baixo, ao redor de R$ 3 ou R$ 3,10, que seja. Eu acho que isso é possível. Depende do desenrolar dos fatos”, disse Rochlin. Para quem terá compromissos em dólar em breve, então, o economista da FGV ressalta que o recomendável sempre é comprar aos poucos, ao longo de semanas e meses: “Assim, por mais que aumente o dólar, você terá comprado o dólar a um preço médio, diluindo os riscos”.