Acrise econômica, que ainda parece ser uma mentira para muitos céticos, chegou e já encerrou atividade de muitos empreendimentos em Cuiabá e região. O governo federal já pode contar com uma clientela de fantasmas que visita todos os dias os diversos pontos comerciais que se associaram à senhora “crise”. “Vendese” e “aluga-se” são os nomes das filiais desta nova rede de franquias. Não é necessário muito esforço para se deparar com as faixas, placas e cartazes que testemunham espaços disponíveis a novos empreendimentos. Mas eles não vêm. Os únicos que apareceram foram os clientes de uma promoção relâmpago, realizada às pressas, inclusive via redes sociais, para zerar os estoques de uma empresa consolidada há 25 anos no mercado de negócios em Cuiabá.
A Só Utilidades, que encerrou atividade no último sábado (12) é o exemplo mais recente de filiada à dama obscura, chamada crise econômica. De acordo com João Paulo Rotini, 39, que estava a frente da administração da empresa, outros fatores contribuíram para a não continuidade do empreendimento. “A construção do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) foi um grande influenciador do enfraquecimento das vendas”. Desde, então, a decisão em fechar a empresa foi tomada após o desgaste dos fundadores, Sérgio Odilon Rotini, 71, e Nádia Araújo Rotini, 66, em insistir com a loja de utensílios domésticos. Em alguns casos, a espera por investimentos perdura há mais de um ano. O empresário Manuel Albernages, 48, é exemplo dessa desconfiança que o mercado incerto tem provocado nos possíveis investidores. Durante o segundo semestre de 2014, ele encerrou as atividades do salão de beleza Tesoura D’Ouro que contava com duas unidades na capital e atuava há 25 anos. “Faltava mão-de-obra qualificada. Além disso, o comportamento dos clientes mudou muito nos últimos anos. Antes quem frequentava o centro da Capital, dava preferência aos serviços como corte de cabelo, oferecido na região. Agora, ao chegar o fim da tarde, a centro de Cuiabá fica um deserto, e não é mais possível ter o mesmo desempenho de antes”.
Para Albernages, o fator que tem influenciado esta mudança de paradigmas do consumidor é a expansão dos bairros mais periféricos que estão cada vez mais autônomos e dinâmicos, possuindo serviços e produtos, que antes só eram possíveis de serem consumidos na região central de Cuiabá. Todavia, há outro entrave na hora de alugar o espaço no qual funcionou o salão de beleza comandado pelo empresário. “A maior parte dos que me procuram com intenção de alugar, não estão disponíveis a pagar o preço exigido”. O valor mensal equivale a R$ 5 mil. Para o vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL), Célio Fernandes, o aluguel tem sido um dos grandes agravos para quem ocupa. “Junto aos preços de operação que incluem energia elétrica, quesito que sofreu maior elevação tarifária este ano, há também folha de pagamento e encargos trabalhistas. Todos esses fatores regados a juros altos e inflação flutuante”. Fernandes diz que é necessário cortar gastos e fazer o possível para não encerrar as atividades. No caso do valor pago pelo aluguel, não pode ultrapassar 5% da receita do empreendedor. Caso isso esteja acontecendo, a recomendação de Fernandes, é que seja proposta uma renegociação entre as partes, de modo a evitar que haja prejuízos para ambos. Já o empresário Brás Antônio das Graças, 63, é proprietário de quatro pontos comerciais para locação, dois estão alugados, e outros dois estão sendo transformados em um único salão que custará R$ 3 mil por mês.
Ele está há 8 meses com o espaço desocupado, e diz que está difícil encontrar alguém disponível a pagar o preço cobrado. “É difícil encontrar alguém que queira ir contra a maré. Enquanto a tendência está sendo o fechamento de empresas inclusive consolidadas no mercado, apostar em empreendimento neste tempo de crise pode ser loucura”. E se a expectativa é pelo crescimento econômico do país, esta realidade está cada vez mais sendo dificultada pelos fatos. Na semana passada, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) rebaixou o rating do Brasil de BBB- para BB+ causando reviravoltas no mercado financeiro. Com o rebaixamento, o país passou a ser grau especulativo pela agência, colocando em xeque a credibilidade econômica. “As consequências disso é falta de confiança do mercado internacional que vai parar de investir no país”, explica o economista Edsantos Amorim. Ele diz que a culpa disso é do governo federal. “A crise econômica está atrelada a crise política. A presidente Dilma Rousseff (PT) perdeu a governabilidade. E por outro lado, existe um grupo político de oposição que só vai governar se ela (a presidente) sair do poder. Ou seja, nada está sendo feito para tirar o país da situação na qual está”.
O especialista sugere que para reverter o quadro caótico do país é necessário haver cortes nos gastos públicos imediatamente, e para que as transformações sejam eficientes, o melhor caminho é um pacto federativo que reúna todas as esferas governamentais em prol de mudanças na economia que realmente transformem o país. Enquanto isso não acontece, mais empreendimentos vão aderindo à rede de franquias da senhora “crise”. É o caso da empresa Amigão Autopeças, que há 20 anos está no mercado matogrossense. Em uma atitude de corte de gastos, a segunda loja foi posta à venda há dois meses. O valor cobrado pelo prédio localizado em importante avenida da região centro-sul da Capital, é de R$ 4 milhões. “A crise econômica enfraqueceu muito as vendas do produto. Não tem sobrado alternativas a não ser se desfazer do espaço”, avalia o gerente comercial da empresa, Gilvan Quichaba. Os funcionários que atuam na unidade a ser vendida, serão remanejados para a sede da empresa em outro ponto de grande circulação comercial na Capital.