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Classes C e D fomentam comércio de Mato Grosso

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Facilidade na concessão de crédito e longos prazos para pagamento são ingredientes responsáveis por aumentar o potencial de consumo das classes C e D em Mato Grosso. A melhora na renda do trabalhador é também um requisito importante pontuada por especialistas. O fato é que o consumo da classe emergente abriu as portas para um novo comportamento no mercado e as empresas lançam mão de estratégias para cativar o consumidor. “Justamente para atrair esse público que os comerciantes têm se preparado com ofertas atrativas e disponibilidade de pagamentos em crediários, cartões de crédito e boletos bancários”, conta o vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Mato Grosso (Fecomércio/MT), Roberto Peron.

Segundo ele, as classes C e D dominam aproximadamente 70% do consumo no Estado. Ele aponta que as condições oferecidas a esses consumidores são inéditas, a exemplo da possibilidade de adquirir imóveis e veículos, que está mais desburocratizada. “Isso é resultado do crédito fácil e dos parcelamentos a longo prazo”, considera o representante da Fecomércio.

Para se ter noção da expressividade desse segmento é preciso ressaltar que, em Mato Grosso, 28,2% das pessoas que possuem domicílios ganham entre meio e 1 salário mínimo mensal e, ainda, 27,7% dos mato-grossenses com residência própria ganham até 2 salários mínimos mensais. Em contraponto, apenas 6,5%, com moradia particular, recebem acima de 5 salários por mês. A diferença dos rendimentos da população está na pesquisa Síntese de Indicadores Sociais, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No país, o consumo das classes C e D já representam um mercado de R$ 834 bilhões, segundo levantamento feito pelo Instituto Data Popular. Só os jovens movimentam, de acordo com o estudo, em torno de R$ 96 bilhões. A pesquisa também mostra que esses consumidores emergentes já detém 69% dos cartões de crédito e consomem 76% de tudo o que é vendido nos supermercados. A maioria, 85%, prefere fazer compras no próprio bairro onde reside.

E engana-se quem acredita que nessa demanda a escolha é ditada apenas pelo preço que cabe no bolso. O proprietário da rede City Lar, Erivelton Gasques, diz que a população de baixa renda que ingressou recentemente nas classes C e D sabe dar valor a cada centavo gasto. Ele afirma que o investimento é aplicado produtos com preço e qualidade em uma faixa intermediária. Conforme o empresário, a redução no preço dos itens, como televisores em LCD ou geladeira frost free, massificam a ideia de que o comerciante precisa cada vez mais cuidar desse filão.

Para ele, a perspectiva de crescimento da economia depende do bom rendimento dessa classe de trabalhadores, que ganham entre 2 a 3 salários mínimos mensais. O proprietário das lojas Moda Verão, Júnior Vidotti, ressalta que os parcelamentos fazem com que a compra dos produtos seja concretizada por esse público. Ele diz que o aumento das vendas de lojas localizadas em bairros confirmam o cenário positivo, acentuado pelas compras feitas pelos consumidores pertencentes às classes C e D. “Podemos perceber que essas classes começaram a frequentar e adquirir produtos em shoppings. O que mostra que o comércio tem aberto as portas para esse nicho”.

Além do aumento do consumo, a economista Luceni Grassi, alerta para o índice de endividamento. Segundo ela, o mercado, além de oferecer produtos, deve ter conhecimento se haverá liquidez nos pagamentos, mesmo a longo prazo. Esse cuidado deve ser, principalmente, tratado pelos próprios consumidores. “O potencial de saldar parcelas deve ser levado em consideração quando a renda é baixa”. Ela aponta que a população não deve comprometer mais do que 30% do salário de cada mês com prestações. “É muito comum as pessoas se atentarem pelo valor pequeno da parcela, mas esquecerem de outras dívidas. Além disso, as pessoas não deviam comprar o que não tem urgência. Isso pode levar ao endividamento”.

Para a doméstica Regina Silva, a vontade de adquirir uma televisão resultou em parcelas que pesam no bolso. Ela conta que a dívida está sendo quitada com muito sacrifício e economia na renda familiar. Por outro lado, a compulsividade pela compra pode perder espaço para a precisão. E aí que entra o parcelamento. Para a consumidora Marimar de Oliveira, 35, a situação não foi diferente. Com um pequena parcela de entrada, ela conseguiu adquirir uma geladeira nova. Ela lembra que o desejo pela compra foi concretizado pela ajuda de familiares. “Nunca sobrava dinheiro. Foi com empréstimo de um parente e com o parcelamento da loja que consegui comprar o produto”. Já a copeira Selma Souza Lino, 44, comprou o mesmo produto, mas sem entrada, pelo dobro do preço. “O parcelamento deixa a compra mais cara”.

 

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