Recursos do Banco Nacional para o Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aplicados em Mato Grosso aumentaram 41,19% nos primeiros 7 meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2009. O volume injetado foi de R$ 1,576 bilhão ante R$ 1,116 bilhão do ano passado. O número de operações teve uma variação de 104% entre os dois anos e de 4,107 mil contratos realizados nos 7 primeiros meses de 2009 passou para 8,393 mil em 2010.
Entre os financiamentos concedidos, 50.7% do volume de crédito foi dado para micro e pequenas empresas, aquelas com faturamento anual máximo de R$ 2 milhões. Por outro lado, 49% ficaram nas mãos de grandes grupos que atuam no Estado, sendo que eles não representam 2% do total de empresas existentes. Essa concentração de recursos na mão de poucos foi denunciada pelo jornal Folha de São Paulo no dia.
O jornal A Gazeta levantou que entre as empresas denunciadas como privilegiadas, 10 delas atuam ou estão em processo de instalação em Mato Grosso. No setor de logística, a América Latina Logística (ALL), que recebeu R$ 691,95 milhões para a expansão dos trilhos até Rondonópolis. As demais empresas não possuem empréstimos divulgados para investimentos no Estado, mas estão em processo de instalação ou ampliação de suas atividades.
No setor industrial há o grupo Votorantin, que anunciou a construção de uma nova fábrica de cimentos na Baixada Cuiabana, entre as indústrias sucroalcooleiras que em breve começam a operar em Mato Grosso são citadas a Brenco, Cosan, ETH Bioenergia e a Brasken. No segmento de telefonia, a Oi e Tim receberam juntas um total de R$ 8,87 bilhões, e ainda aparecem os frigoríficos JBS e Marfrig, líderes no mercado nacional e estadual.
Durante uma entrevista coletiva concedida na quinta-feira (11), o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, negou a concentração de investimentos e ressaltou a ampliação dos recursos voltados para as micro e pequenas. "Não há concentração, estamos fazendo um desembolso maior maior voltado para as micro e pequenas. Os 5 maiores investimentos representam apenas 14% do total".
Em Mato Grosso, a variação dos recursos concedidos para micro e pequenas foi de 74% entre janeiro e julho de 2009 e os mesmos meses deste ano, passado de R$ 458 milhões para R$ 800 milhões.
O superintendente licenciado da Federação das Indústrias em Mato Grosso (Fiemt) e representante do BNDES na instituição, José Carlos Dorte, explica que o problema não está em privilégios, mas em concessão de crédito para empresas que possuem garantias. Conforme Dorte explica, as empresas declaram um faturamento menor do que o real para reduzir a carga tributária e na hora de requerer os créditos, o banco tem que se basear nos documentos oficiais. "Há um problema tributário. As empresas não declaram o total do faturamento e depois, por não terem margem de crédito suficiente, não conseguem contratar crédito".
Além disso, Dorte explica que o BNDES não possui uma rede bancária e que os empréstimos são feitos a partir de agentes financeiros e são eles que fazem a análise de crédito. "Uma empresa que passa por dificuldades financeiras e não apresenta garantias para honrar as dívidas não tem o crédito aprovado pelas instituições que fazem o intermédio dos financiamentos. Os bancos não se arriscam, uma vez que são os avalistas perante o BNDES", afirma José Carlos Dorte ao comentar que os bancos recebem pouco em juros pela movimentação via o Banco Nacional e por isso preferem não se colocar como garantia por pouco retorno.
"Os bancos, no caso de poucas garantias, dão prioridade para os empréstimos que eles mesmo concedem por terem uma margem de lucro maior para eles, sendo assim, quando as empresas solicitam um empréstimo do BNDES eles oferecem a carteira que eles possuem e reprovam o solicitado".
Heitor Trentin, proprietário da Plastibrás e da Prol, afirma que não teve dificuldades para contratar crédito do BNDES. De acordo com Trentin, empresas "fichas limpas" não precisam de articulações para receber um financiamento, basta apresentar todas as documentações regularmente. "Eu não precisei tomar cafezinho com gerente. Apenas apresentei a proposta e a documentação das minhas empresas. Não houve empecilhos, pelo contrário, indiquei o recursos para outros empresários que também conseguiram crédito do BNDES".
A Plastibrás contratou um empréstimo de R$ 1 milhão para a compra de mais máquinas e R$ 2 milhões foram tomados para renovar o maquinário da Prol, que há 26 anos atua no segmento metalúrgico.
O representante do BNDES, José Carlos Dorte, reforça a afirmação de Trentin ao dizer que há um problema de documentação entre as empresas no Estado. Segundo Dorte, muitas não são organizadas ou regulares e por isso não conseguem os recursos. Para Heitor Trentin, há uma especulação política por trás das denúncias.
Apuros – Mato Grosso passa uma grande crise na pecuária devido a falência de indústrias frigoríficas. De acordo com o Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso, (Sindifrigo), das 39 plantas existentes, apenas 21 estão em operação e 11 delas pertencem ao grupo JBS/Friboi. O JBS é um dos principais financiados pelo BNDES e recebeu aproximadamente R$ 4,7 bilhões entre os anos de 2008 e 2010. O Marfrig, outro grande grupo no Estado recebeu R$ 1,1 bilhão em 2008 e 2009. O problema, segundo o superintendente da Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, não está na concessão para os grandes grupos, mas na negação do crédito para as pequenas indústrias que passam por um processo de falência em consequência da crise no mercado financeiro em 2008. "O BNDES não concede empréstimos para alguns frigoríficos que, por estarem em processo de falência, ou entram em processo de recuperação judicial ou acabam sendo vendidos para os dois maiores grupos. Isso prejudica toda a cadeia produtiva da carne, já que há uma tendência de monopolizar o mercado".
Uma fonte, que pediu para não ser identificada, afirma que alguns dos grupos que estão em recuperação judicial pediram recursos do Banco Nacional, mas foram negados pelas instituições.
Outro lado – A equipe de reportagem tentou contanto com três empresas que estão nesta situação, mas não obteve retorno.
O presidente do Sindifrigo, Luiz Freitas, que anunciou a paralisação das atividades de 3 das duas 5 unidades, diz que não tentou contratar crédito no BNDES devido às incertezas do mercado. "O setor passa por uma crise que é de falta de bois. Preferi parar as atividades à contratar crédito pela dúvida se haveria como pagar as parcelas". O presidente diz que defende o acesso ao crédito por todas as empresas, desde que as mesmas tenham capacidade para pagar os recursos contratados.